Contrariando o irritante e mentiroso mito segundo o qual "ganha mais vezes quem está pior", o Benfica foi a Alvalade mostrar em duas penadas como é mais fácil às melhores equipas ganhar às piores. Não acontece sempre, ao contrário do normal noutros desportos colectivos, e por isso o futebol tem mais magia. Mas acontece na maioria das vezes.

A vitória do Benfica foi muito natural. E tanto fazia ao Sporting jogar contra 11 ou contra 10, contra 12 ou contra 9.

As vitórias do Benfica (do FC Porto nem se fala) sobre o Sporting são cada vez mais naturais, tanto que se festejam cada vez mais timidamente. Já o escrevi uma vez: os benfiquistas ainda vão gozando o prato com o colega sportinguista do lado no dia seguinte, mas a tendência é para se tornarem tão inesperadas como as vitórias sobre o Braga, o Marítimo ou o Vitória de Guimarães. Jogos daqueles em que há sempre um favorito claro, mas uma margem razoável de dúvida. Pouco mais pode, hoje, o Sporting oferecer, e isto é manifestamente pouco.

A indignação de Eduardo Barroso no programa do TVI24 "Prolongamento", depois de ouvir o adjunto de Paulo Sérgio achar que a sua equipa não tinha sido inferior ao Benfica, foi o espelho do que sentem os sportinguistas que ainda viram o clube em glória. "Eles acham genuinamente isto e não percebem que já não estão a treinar o Paços de Ferreira", disse Barroso, em tradução livre da ideia do médico.

Quanto a Cabral, apetece dizer que o pior cego é o que não quer ver. Achar que o Sporting esteve bem na noite do dérbi é um sintoma de autismo intelectual. Mas a discussão sobre o Sporting está longe de começar, acabar ou mesmo de passar por Paulo Sérgio e respectiva equipa técnica.

É um problema que vem de longe e tem tido sintomas graves ao longo dos anos, como aquele de um alto responsável se dizer mais satisfeito com três segundos lugares que com um primeiro. E muitos outros, entre os quais sobressai, objectivamente, a falta de dinheiro para jogar com as mesmas armas dos (ex)adversários directos.

A época presente agravou o fosso que já separa o Sporting de FC Porto e Benfica - fosso competitivo, financeiro e qualitativo. Vender o capitão a um rival e o melhor jogador a um clube brasileiro foram os sintomas mais recentes. Jogar mal e achar que não foi assim tão mau tem sido uma constante que já nem se estranha. Ter a melhor assistência da época na casa dos 36 mil adeptos é só mais uma prova da decadência.

Com eleições à porta, fica a pergunta decisiva: isto é o Sporting possível ou é possível voltar a ter o Sporting que nos habituámos a conhecer? É altura de escolher um caminho e assumi-lo.

*Editor Desporto TVI

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