Não é uma guerra civil, naturalmente, mas tem coisas de uma guerra civil.

O Benfica venceu este sábado na receção ao Sp. Braga, por 2-1, e reduziu, à condição, para quatro os pontos de desvantagem para o líder Sporting, que joga este domingo em casa do FC Porto. Em cima disso, fechou a questão do segundo lugar. Para a próxima época, haverá pelo menos o playoff da Liga dos Campeões na Luz.

Um jogo que fica marcado pela vitória encarnada dentro das quatro linhas, claro, mas também por toda a tensão que se viveu nas bancadas, e que não parece ter fim à vista, apesar do cessar-fogo promovido pelo golo de Neres, já na reta final do encontro.

Roger Schmidt não se calou perante os protestos exagerados na última segunda-feira, após a vitória em casa do Farense, e na ressaca da eliminação europeia diante do Marselha.

FILME E FICHA DE JOGO.

Criticou a situação após o encontro e na sexta-feira, antes deste duelo com os bracareneses. As palavras do treinador serviram para defender o grupo, é verdade, mas também para aumentar uma crispação que dura há várias semanas, meses até.

Até porque, diga-se, a verdade é que a contestação do Tribunal da Luz parece, nesta altura, muito para o técnico do que para os jogadores.

No Name Boys, do silêncio ensurdecedor aos protestos da discórdia

Nas bancadas, o ambiente era pesado: as claques ficaram praticamente o silêncio – principalmente os No Name Boys –, e por isso, a festa ia-se fazendo sobretudo do lado bracarense.

Apesar disso, a primeira meia-hora não merece propriamente nota negativa: é verdade que o ritmo não foi propriamente alucinante, mas com exceção dos primeiros minutos, o Benfica controlou sempre as operações e esteve perto do golo aqui e ali – Arthur Cabral, por exemplo, acertou na barra.

A partir da meia-hora, tudo mudou: os No Name Boys, até aí em silêncio, começaram por cantar o hino do Benfica. Depois, exibiram uma tarja com uma mensagem para Rui Costa – «Presidente, o nosso amor não tem limites», e lançaram várias tochas para o relvado, que obrigaram à interrupção da partida.

Como um mal nunca vem só, esse momento coincidiu com o golo do Sp. Braga, da autoria de Ricardo Horta, num lance em que Otamendi ficou (uma vez mais) muito mal na fotografia.

Daí até ao final do primeiro tempo, foram praticamente só momentos de tensão. A claque mais numerosa das águias entoou vários cânticos de ordem, principalmente contra Schmidt, e deixou até muita gente incomodada nas restantes bancadas.

Em campo, o Sp. Braga aproveitou a instabilidade para crescer no encontro e ameaçar até o 2-0: Álvaro Djaló viu esse desejo negado por Trubin.

Se a primeira parte já não tinha sido fácil para a turma da Luz, a segunda adivinha-se ainda pior.

Roger Schmidt tirou o lesionado Bah aos 50 minutos e fez entrar Álvaro Carreras, e o espanhol – relegado para suplente apesar da boa exibição em Faro, tal como Kökcü – deu alguma dinâmico ao lado esquerdo, mas foi essa a única novidade para a turma da Luz.

Sobretudo porque a tensão que se viveu nas bancadas passou para os jogadores, e a bola parecia queimar.

A estrelinha de Marcos Leonardo com… Kökcü

Só que Schmidt, acusado tantas vezes de demorar a mexer, desta vez foi ao banco buscar uma bóia salva-vidas. A 20 minutos dos 90, lançou Kökcü e Marcos Leonardo, e foi feliz.

O avançado brasileiro marcou logo na primeira vez que tocou na bola aos 71 minutos e reacendeu alguma da chama da bancada da Luz. Kökcü, por sua vez, deu outra dinâmica ao meio-campo encarnado – incomparavelmente mais em jogo do que Rafa.

O médio turco, de resto, teve participação no contra-ataque que permitiu aos encarnados virarem o jogo a dez minutos do fim: Neres agradeceu o grande cruzamento de Di María e cabeceou para o 2-1, antes de Marcos Leonardo, nos descontos, bisar e assinar o acordo para o cessar-fogo.

Cessar-fogo na Luz.

O Benfica sofreu, mas venceu o Sp. Braga e garantiu que o Sporting não vá jogar no domingo no Dragão com hipóteses de ser campeão. Durante 24 horas, as águias ficam a quatro pontos dos leões.