Parte da magia do futebol está em poder ser discutido a qualquer mesa e não apenas nas mesas das torres dos sábios. Por mais que os sábios da matéria se incomodem com isso.

Acredito piamente nesta premissa da universalidade do melhor jogo do mundo, mas recuso a ideia de que discutir arbitragens por tudo e por nada seja o sal do futebol. Aliás, duvido mesmo muito que a explicação dos resultados esteja tão relacionada com arbitragens como cremos ou pretendemos fazer crer, cada um a seu momento.

Por «momento» leia-se a altura em que nos sentimos prejudicados, nunca aquela em que nos sentimos beneficiados. Aliás, nunca nos sentimos beneficiados, a não ser que já sejamos campeões, tenhamos muitos pontos de avanço ou já haja 3-0 a nosso favor na altura do tal penalty. É uma incompatibilidade do coração com a razão, como há tantas.

Um lance igualzinho com camisolas diferentes merece dos adeptos análises diferentes consoante o gosto pelas camisolas. É normal, diria até saudável, que isso suceda no íntimo e em discussões no círculo de amigos. Torna-se anormal e aberrante que seja o único paradigma sob o qual se consegue interpretar o jogo. Sobretudo se se é agente do futebol, e nomeadamente quando se trata de treinadores e dirigentes (é razoável dar uma margem maior de tolerância aos jogadores - só não percebe isto quem nunca tenha, sequer, jogado futebol de salão lá no bairro).

É penoso, semana após semana e de forma mais ou menos encapotada, ouvir-se e ler-se gente com responsabilidade a sacudir a sua água para o capote dos árbitros. E não é só em Portugal - longe disso.

Claro que os árbitros erram, e por vezes erram mesmo de forma decisiva. Mas se o FMI desse a Portugal e à Grécia, a fundo perdido, cem mil euros por cada queixa avulsa que por aí se ouve de certeza que a retoma não tardava. Peço emprestada a expressão da moda: não basta de pieguices?

*Editor TVI

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