Passo à frente das menções aos críticos de serviço da seleção neste Euro 2012 (ou melhor: pré-Euro 2012, ou pré-primeira vitória na prova). Acho aliás, desde o início da rábula, que Paulo Bento, federação e jogadores lhes deram demasiada importância. Se, como disse o selecionador, isso não fez parte de qualquer estratégia de grupo, então foi ainda mais exagerado. Mas Paulo Bento é assim, genuíno. Integra o enorme conjunto de pessoas defensoras da ideia de que "quem não se sente não é filho de boa gente" e está no seu direito. Até porque isso entronca de forma lógica em duas qualidades centrais que aprendi a admirar nele: a honestidade intelectual e a lucidez.

A meu ver e ouvir, a entrevista do selecionador à RTP resume-se bem, justamente, no conceito de lucidez. A lucidez de constatar que Portugal tem motivos de orgulho, sim senhor. Como teve noutras competições em que também chegou longe. É um feito notável para um pequeno país conseguir estar de forma tão assídua entre os melhores da Europa e do Mundo. Tudo o resto, se não é demagogia será uma mania das grandezas que só pode representar resquícios de um Portugal imaginado do Minho a Timor, mesmo que um terço da população tenha passado décadas sem ter visto o mar uma única vez na vida.

A lucidez de reconhecer que a base de recrutamento portuguesa é curta, mas de não cair no extremismo de achar (como se acha ciclicamente há 30 anos) que o futuro da seleção se esgotou porque já não há talentos como antigamente. "Tudo dependerá, muito, das oportunidades que os jovens jogadores tiverem", disse Paulo Bento. Como dependeu sempre. E a verdade é que eles foram tendo as oportunidades, sobretudo os bons. Nos clubes portugueses ou no estrangeiro, isso pouco interessa para formar uma seleção.

A lucidez maior, contudo, chegou quando lhe foi perguntado se sonha com o título mundial. Porque "depois disto ninguém acredita que Portugal não se qualifique para o Mundial", disse um dos entrevistadores. Cá está: uma equipa que há quatro semanas era, para uma larga fatia da opinião pública, uma caricatura das seleções anteriores passou, em quatro jogos, a candidata a campeã do mundo. É bom que à frente dela esteja alguém que percebe o óbvio: antes de mais é preciso conseguir o apuramento, e a melhor forma de não o hipotecar é começar por não achar que está no papo.

*Editor TVI

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