«Fala de Portugal? Quer conversar sobre Gaitán ou Insúa?». Sobre ambos, responde-se. Ramón Maddoni começa a falar sem parar. Sente-se que está a jantar e não pára. Num tom pousado, que denuncia quase setenta anos, desfia histórias enquanto mastiga. «Como os posso esquecer?»



«Conheci Gaitán quando tinha sete anos. Chegou-me franzino, mas muito rápido e cheio de técnica. Tinha um pé esquerdo fabuloso. No primeiro jogo que fez marcou três golos. Mas perdemos e ele no fim chorava que não parava. É um vencedor, nunca lidou bem com a derrota.»

«Dizia-me que não queria mais jogar futebol e que no dia seguinte já não voltava. Disse-lhe que voltava, que ia continuar a jogar, que um dia o iria levar para o Boca Juniors e que ainda seria um dos melhores da Argentina. E assim foi», atira Ramón Maddoni, o descobridor do extremo.

Dizer que Ramón Maddoni é o descobridor de Gaitán é aliás redutor. Descobriu Gaitán, sim, e Insúa. Mais Riquelme, Tevez e Cambiasso. Gago, Sorín e Redondo. E tantos, tantos outros. É uma lista quase infindável, de um homem que dedicou a vida ao futebol juvenil no pequeno Club Parque.

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De todos guarda a amizade e uma memória fotográfica. «Sabe o que mais recordo de Nico? De ele a correr à frente da mãe e a mãe a gritar por ele, com os dois irmãos mais pequenos pela mão. Era uma imagem que se repetia todos os dias. Ele estava sempre cheio de pressa para vir jogar à bola», conta.

De Emiliano Insúa lembra outros pormenores. «Estávamos a perder 4-1 com o 4 de Agosto. O Emiliano entrou, marcou quatro golos e ganhámos 5-4. Ia fazer 13 anos. Veio para aqui com o irmão. Ele é do ano de 89 e o irmão de 91. Vieram trazidos pelo pai Alberto, um grande tipo, boa gente.»

A amizade com os dois ficou até hoje, mas também com as famílias. Ramón Maddoni conta que um dia estava a jantar com amigos, no dia seguinte fazia anos e esperavam pela meia-noite. «À meia-noite liga-me a mãe de Gaitán. O filho estava na Costa Rica, com a selecção principal», conta.

«Ligou-me a dar os parabéns e a agradecer. Liga-me sempre nos anos e no Natal. Com o pai de Emiliano falo muitas vezes, ele vem cá a casa ou eu vou a casa dele e conversamos. Tanto o Nico quanto o Emiliano gostam de me vir visitar quando vêm à Argentina. Essa é a melhor prenda.»

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Cambiasso conta uma história curiosa: quando era miúdo acompanhava o irmão, que jogava no Club Parque. Enquanto os mais velhos jogavam, ele corria de fora do campo. Ramón Maddoni disse à mãe que gostava da forma como o miúdo corria e que o queria ver jogar. Nunca mais deixou a equipa.

«Quando um miúdo tem seis anos não se faz muita coisa. Descubro-os e acarinho-os, o resto é com eles. O Gaitán, por exemplo, era muito franzino, mas nunca deixei de acreditar. No Boca levaram-no para a Casa Amarela [centro de treinos], fizeram um trabalho especial e ele cresceu.»

Foi aliás Ramón Maddoni que levou Gaitán e Insúa para o Boca Juniors: acarinhou os primeiros passos no pequeno Club Parque, um clube de futebol de salão para crianças, e conduziu-os ao Boca Juniors, com quem começou a trabalhar mais tarde. Sem nunca abandonar o pequeno clube de bairro.

«Se eram amigos? Claro, dormiram muitas vezes juntos quando íamos jogar fora. Comigo nunca jogaram juntos, porque eram de anos diferentes, mas jantávamos às segunda-feiras, no habitual jantar do clube, e davam-se bem. Eram muito amigos do Viatri», diz. «Espero que no sábado ganhe o melhor.»

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Vídeo do Club Parque: