*Enviado-especial ao Brasil

A presença no mesmo evento de Ronaldo e Matthäus, no dia segunte à confirmação de um Brasil-Alemanha nas meias-finais, precipitou uma série de perguntas em antecipação ao jogo de terça-feira. A tal ponto que Fabio Cannavaro, o terceiro participante no encontro, teve um aparte bem-humorado antes de deixar a sala por compromissos inadiáveis: «Estou no meio destes dois e sinto-me como se fosse um árbitro de boxe. Mas agora que tenho de ir-me embora, não se peguem sem mim aqui, está bem?» Matthäus não demorou a sossegá-lo, olhando de soslaio para Ronaldo: «Não te preocupes, isso não vai acontecer. Estamos em categorias de peso diferentes», explicou com um sorriso.

Mais a sério, o debate sobre o jogo fez com que Ronaldo rejeitasse a ideia de que, sem Neymar, o favoritismo passava para o lado alemão: «O Brasil nunca deixa de ser favorito em nenhum momento, contra nenhuma seleção. Estamos todos um pouco assustados com a lesão do Neymar, mas a equipa tem que se superar e encontrar forças. Claro que o Brasil perde muito com a leão de Neymar, mas acredito que no seu lugar pode entrar um jogador muito motivado. Aliás, espero que a grande figura daqui em diante, seja o substituto de Neymar. Ou até Fred, que não tem sido feliz, mas tem agora possibilidade de ser uma figura importante», lembrou a propósito do seu sucessor com a camisola 9 da seleção, alvo de piadas sistemáticas dos próprios brasileiros desde o início da prova.

Matthäus lembrou que tanto Alemanha como Brasil têm recebido críticas dos seus adeptos, o que não impediu que os objectivos programados fossem atingidos: «São duas equipas que ainda não cumpriram as expectativas dos adeptos. Também queremos uma Alemanha mais espectacular, mas o Mundial não permite isso, há outras equipas, com menos histórico, que têm obrigado os grandes nomes a superar grandes problemas», lembrou, antes de admitir que, nesta fase, o Brasil parece mais condicionado do ponto de vista mental: «Sabemos que o Brasil está sob pressão e as reações de vários dos seus elementos provam isso», sublinhou.

Ronaldo, que jogou duas finais de Campeonatos do Mundo, relativizou o tema da pressão, intensificado com as lágrimas abundantes dos jogadores durante o jogo com o Chile: «É muito natural que exista pressão, esta é a competição mais importante do mundo e é natural entrar em campo pressionado. Cada um terá o seu tipo de reação, é preciso respeitar isso», lembrou o avançado, antes de avisar o adversário: «A Alemanha cometerá um grande erro se esperar um Brasil fragilizado pela lesão do Neymar. Lembro que em 1962 o Pelé também se lesionou e o Brasil foi campeão», avisou. Mensagem recebida, garante Matthäus: «Ninguém vai cair nessa armadilha, nem penso que num jogo destes se possa falar em favoritos. Entre Brasil e Alemanha não há melhor ou pior, é um jogo sempre par a par», resumiu.

A concluir, o alemão deixou a ideia de que a baixa de Thiago Silva, suspenso por acumulação de amarelos, não vai afetar os brasileiros: «Vamos assumir que o Brasil tem muito mais do que onze bons jogadores. Dante é o substituto natural na defesa, está habituado a jogar a esse nivel, ganhou tudo pelo Bayern e ainda a Taça das Confederações. Nesse sentido, parece-me que Thiago Silva é bem mais fácil de substirui do que Neymar», concluiu.