Nem uma espinha. O Vitória da Liga de Honra ganhou em Alvalade e só precisou de um golo para afastar o Sporting de mais uma prova a eliminar (será por acaso?). Valeu a Carlos Carvalhal uma equipa personalizada e um adversário que não foi sério desde o primeiro minuto. Isso chegou para fazer a diferença numa noite de verdadeira Taça.

O Vitória foi melhor ainda antes de o jogo começar. Carvalhal fez alinhar os mais capazes (Fernando Santos preferiu testar Paíto, Quiroga e Paulo Bento¿) e explicou-lhes que não era nada do outro mundo ganhar em Alvalade. Se um tal de Gencler-qualquer-coisa o tinha conseguido, por que não eles? Claro que havia uma parte da equação que só seria resolvida assim que a bola começasse a rolar: estaria o Sporting disposto a «colaborar»?

Estava. Aos oito minutos toda a gente ficou a olhar e um simples canto da direita levou a bola de Zé Pedro à cabeça de Orestes. Golo. O Sporting entrava distraído e começava a pagar. O Vitória manteve-se sereno. Nem deslumbrado, nem de repente medroso. Apenas tranquilo. Quatro defesas, três médios e três avançados, dois dos quais (Jorginho e Meyong) muito bons, muito bons mesmo.

É verdade que Lourenço podia ter empatado as contas, logo aos 11 minutos, mas a forma como na pequena área desperdiçou a sorte também foi mais um sinal de falta de concentração. Passavam minutos e o problema ganhava dimensão. Afinal, surpresa, este Vitória tinha muita coisa para dar certo, da classe (sim, sim) de Hugo Alcântara à inspiração de Zé Pedro e à esperteza dos que andavam na frente a fazer pela vida. No Sporting algo de bom só quando Fernando Santos retirou Paulo Bento (redundante em relação a Custódio, não é?) e definiu os flancos com Sá Pinto e Pedro Barbosa.

E agora?

Do intervalo o Sporting regressou com dois pontas-de-lança (Silva no lugar de Lourenço), dois extremos, mais João Pinto. Muita gente. A ideia era obrigar de vez o Vitória a vergar-se. A tentação de uma equipa receosa seria puxar atrás. Carvalhal resistiu. Preferiu arriscar muitas vezes a igualdade numérica na defesa para continuar a manter mais gente no meio e Meyong e Jorginho na frente. Foi aí que voltou a marcar pontos.

O Sporting pressionava mais, também era melhor. Mas raramente tinha oportunidades. A defesa do Vitória parecia planar sobre o jogo, sorrir aos cruzamentos, antecipar as tabelas. Por essa altura, Carvalhal trocou Pascal por Manuel do Carmo e pediu ao extremo que fosse para a direita, olhar por Tello que entretanto substituíra Paíto. Correu bem. A última solução de Fernando Santos nunca se encontrou e o Vitória ganhou mais um jogador inspirado.

E foi precisamente Manuel do Carmo quem deu a Hugo Henrique a oportunidade de fazer o 2-0. O Vitória teria mais um ou dois lances de perigo, assim como o Sporting disporia de uma jogada em que Hugo Alcântara afastou a bola de João Pinto ainda os deuses estão para perceber muito bem como. Mas nada. Quer dizer, muito. Nas bancadas, largas centenas de adeptos do Vitória faziam a festa. Afinal, eles sabiam bem por que motivo tinham enfrentado a ponte e a chuva, num dia de semana, para ver jogar os seus.

O Vitória deixa em Alvalade um perfume de Superliga (muita gente entre os maiores gostaria de jogar assim, de ter esta coragem e este talento), o Sporting confirma que é vulgar quando não corre o mesmo que o adversário e a Taça ganha mais uma noite de fascínio. E, já agora, Carvalhal prolonga em Setúbal a aventura começada há dois anos no Leixões. Como nas histórias felizes, tudo terminou bem: ganhou o melhor. O Vitória merece que esta seja a crónica do mérito. Amanhã é altura de começar a discutir os deméritos do Sporting. E são alguns.