O Benfica de Jorge Jesus sempre gostou de atacar, de preferência com muitos jogadores e em avalanche. A «nota artística» dependia sobretudo do número de golos, independentemente dos desequilíbrios defensivos. Qualquer que fosse a dupla de avançados, o objetivo era o mesmo.

Rodrigo foi sendo, ao longo das duas épocas passadas, um dano colateral desta estratégia. A meio caminho entre a baliza e um 10 que não existia, o jovem de 23 anos não conseguia destacar-se. Era, aliás, a terceira opção para a frente, a seguir a Cardozo e Lima. A lesão do paraguaio, em novembro, redefiniu as hierarquias, dando espaço a uma dupla (Rodrigo-Lima) com características que mudaram grande parte da identidade habitual do Benfica.

Com as mudanças táticas desta época, para uma equipa mais equilibrada, mais junta, mais solidária e menos ansiosa por goleadas, surgiu Rodrigo. Não o Rodrigo de apoio a outro avançado, não o Rodrigo pós-lesão em S. Petersburgo, sem confiança, tremido, mas o Rodrigo mais rápido, mais eficaz, mais matador. 

Além de seis assistências em benefício dos companheiros, o hispano-brasileiro chegou aos 17 golos numa época, um recorde pessoal desde que chegou ao Benfica. Mais minutos em campo ajudaram, claro, mas não é por acaso que a melhor fase da época da equipa coincidiu com a subida de forma de Rodrigo. Mais dinâmicos, mais pressionantes, os dois avançados mais utilizados na Liga equilibraram-se no rendimento e revezaram-se nos momentos de protagonismo. 

Coube a Lima, melhor marcador encarnado na Liga (14 golos e cinco assistências, números que ilustram uma época de muito bom nível), a glória de bisar no jogo do título. Mas Rodrigo assinou vários momentos decisivos, e talvez o mais importante deles na receção ao FC Porto, na Luz, quando marcou o primeiro golo e mostrou definitivamente que podiam contar com ele.

Com Rodrigo, o Benfica é mais rápido sem necessitar de ser mais descuidado, é mais atento sem deixar de surpreender e é o melhor ataque sem deixar de ser a melhor defesa. Não é tudo mérito do avançado, claro, mas agora já ninguém o tira do topo. Afinal, há vida além de Cardozo e Lima.