Não deixes de voltar a um sítio onde já foste feliz. A Braga e aos penáltis, no presente caso. Um ano depois de eliminar o FC Porto no mesmo estádio e no desempate através dos castigos máximos, o Sporting repetiu o filme às custas do Sp. Braga.

Num duelo intenso, emotivo, nem sempre edificante no manual da moral e dos bons costumes, os leões superaram uma entrada em falso e uma segunda parte desconsolada. Tiveram um bom período entre os 20 minutos e o intervalo, sustiveram um Sp. Braga superior no segundo tempo e foram mais competentes nos penáltis.

A equipa de Marcel Keizer vai discutir o troféu com o FC Porto no sábado.

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Não foi fácil, não foi simples, não teve grande lógica, mas o futebol é belo por isso mesmo. Tanto pode ser jogado num relvado profissional, como no pátio de uma prisão, seguindo as revolucionárias tecnologias ou os princípios da Idade Média, onde bastava apenas um couro e pontapés bárbaros entre uma e outra vila. Até cabeças rolavam.

Ganhou o Sporting, mas no princípio de tudo esteve João Novais. E no meio. E quase no fim. O médio filho de Abílio fez um jogo de grande categoria. Cruzou para o golo de Dyego Sousa logo no início, marcou ele próprio de cabeça antes de saber que o VAR lhe negaria esse prazer e assustou Renan em dois livres diretos com a sua assinatura inconfundível.

O que o Sp. Braga encontrou em Novais, o Sporting perdeu em Bruno Fernandes. Nervoso desde o apito inicial, constantemente a protestar, falhou passes atrás de passes. Emocionalmente instável, tecnicamente desinspirado. Os leões sentiram em demasia a sua «ausência», mormente no segundo tempo.

DESTAQUES DOS LEÕES: Renan, segurança ilimitada

Dois atores não explicam o argumento de um filme inteiro, mas podem influenciar decisivamente o ambiente no plateau. As falas decoradas, os gestos planeados, os livres estudados, até as relações ganhas ou perdidas.

Se o Sp. Braga foi dominador e ameaçador nos primeiros 15 minutos e ao longo de quase toda a segunda parte, isso deve-se a um coletivo competitivo, mas também a essa capacidade de Novais fugir da linha para o meio e procurar linhas de passe e/ou remates.

Depois, claro, Dyego Sousa é um avançado mortífero, capaz agora de fazer receções perfeitas e combinar de olhos fechados com Wilson Eduardo. O Sporting demorou minutos atrás de minutos a perceber tudo isto e já perdia quando resolveu entrar no jogo.

Raphinha foi o mais inconformado até ao intervalo, acompanhado de perto por Nani. O brasileiro teve duas grandes ocasiões e sobretudo o atrevimento de incomodar os Guerreiros. Sem Bas Dost – lançado só na parte final e com visíveis limitações – e com Bruno Fernandes a render pouco, tiveram de ser os extremos a dar algum tom ao futebol leonino.

DESTAQUES DOS GUERREIROS: Dyego e João Novais mereciam mais

Início forte do Sp. Braga, muito forte, resposta do Sporting a partir dos 20/25 minutos e empate feito aos 38, num cabeceamento extraordinário de Seba Coates. Tinha de ser mesmo numa bola parada.

A superioridade leonina morreu no tempo de descanso. De forma misteriosa. Alguém viu a equipa de Marcel Keizer no segundo tempo? Braga, Braga, quase sempre Braga, desde o tal golo anulado a João Novais – o VAR e o árbitro identificaram uma carga de Dyego nas costas de Coates – até a um remate de Paulinho à entrada da área, a um livre do mesmo Novais e a uma cabeçada de Raul Silva à barra.

O Sporting só despertou depois de lhe ver negado um penálti (puxão de Claudemir a Coates), já aos 87 minutos. Manuel Oliveira viu as imagens e negou as pretensões leoninas. Tudo adiado, pois, para as grandes penalidades.

Nos pontapés de castigo máximo as pernas tremeram (sete golos em 14 tentativas) a alguns e os guarda-redes brilharam noutros. Renan acabou vestido de herói, ao parar o derradeiro remate. A vítima? Ricardo Ryller.