Alenitchev

Apetece chamar-lhe Czar, Imperador das Estepes e tudo o que possa estabelecer a analogia entre o russo e o passado glorioso do seu país, que foi ganhando terrenos europeus, até chegar aos confins da Ásia. Mas basta chamar-lhe apenas Alenitchev, reconquistador da verdadeira mística portista e soberbo executante, que vai ganhando um espaço muito especial dentro da equipa e do clube. Colocado no seu lugar de predilecção, atrás do ponta-de-lança, aproveitou-se da fragilidade defensiva do adversário, que começava no meio-campo, e criou calafrios constantes. Chegou ao golo através do cerimonial convite de Rojas, mas primeiro teve de ultrapassar o gigante da baliza. O sufoco foi o seu principal lema, pelo que nunca parou de correr, jogar e encantar. Mais tarde, assistiu Paredes para o terceiro e voltou a marcar, de penalty, arrastando pela lama o moribundo da Luz. 

Paredes

A melodia de «mestre» Carlos Paredes voltou a encantar o Estádio das Antas, com acordes de perfeição e pausados ritmos que abalaram o rival. Maniche vergou-se ao toque de classe do paraguaio, que pausadamente foi alastrando a hipnose aos restantes encarnados. Há algum tempo diziam que ele encostava-se muito aos centrais, recuava demasiadamente e não dava o apoio devido ao meio-campo, que nessa altura era constituído por mais um elemento defensivo e apenas um criativo. Sem resultados, Fernando Santos viu uma lâmpada passar pela cabeça que lhe trouxe a ideia mais evidente: a equipa ganha com Deco e Alenitchev juntos. Paredes é um dos maiores beneficiados deste novo sistema, pois desinibe-se e surge inúmeras vezes no lugar do matador, com fome de golos. O limite do paraguaio já não passa somente por destruir o jogo do adversário, recuperando muitas bolas, mas por fazer mais pelo ataque. Com Paredes em grande forma, o F.C. Porto ganha em pulmão no miolo do terreno e em superioridade numérica nas jogadas de ataque. 

Folha

Ninguém pode dizer que não se trata de mais uma contratação bem vista por Pinto da Costa. É claro que não tem a qualidade suprema de Drulovic, mas não deixa de ser tão útil como o jugoslavo, nomeadamente pelo que cumpre junto à linha do flanco esquerdo. Intermitente nas boas exibições, voltou a fazer um grande jogo, que lhe ofereceu confiança para passes bem medidos e toques de calcanhar a isolar Pena e Alenitchev. Também rematou de forma propositada, mas teve a mesma sorte do muitos outros, que encontraram Enke em mais uma noite de grande qualidade. Fica apenas a desilusão de não ter dado seguimento na segunda parte àquilo que fez, exemplarmente, durante o primeiro tempo. 

Capucho

Se já não bastasse a suspeita, o extremo-direito confirmou que onde joga mesmo bem é junto à linha e não no meio-campo. É neste lugar que se permite sentar os adversários com fintas imparáveis, quase em tom de gozo, e centrar para a área, onde poderá estar Pena (muitas vezes não está e hoje esteve principalmente Paredes). Este é, sem grandes dúvidas, o melhor jogador nesta posição a jogar em Portugal, seguindo os grandes exemplos de outros ídolos, como Figo e Sérgio Conceição. Com facilidade agarrou nos colarinhos de Diogo Luís e arrastou-o pelo relvado desgastado pela chuva. Depois foi Rojas, já atarantado com os erros passados, que sofreu com a finta curta de Capucho e carregou um valente ataque de nervos até casa. 

Enke

O epíteto «Salvador da Pátria» adapta-se perfeitamente ao guarda-redes que defende as redes da nação encarnada. Aliás, todo o qualquer elogio nunca será suficiente para este enorme jogador, que dá constantemente a ideia de ser imbatível. Mesmo tendo sofrido quatro golos é impossível encontrar razões para falar mal do alemão, pois ele foi talvez o único a alcançar o impossível para evitar maior humilhação. Defendeu tudo o que era possível e conseguiu empertigar os atacantes portistas, que tentavam descobrir, sedentos, o caminho para a goleada. 

Rojas e Diogo Luís

A dignidade bateu no fundo depois das boas exibições nos últimos dois jogos. Dudic esteve quase sempre bem, ao contrário do que tem sido habitual, mas foi poupado nesta visita às Antas; os laterais-esquerdos Escalona e Diogo Luís foram expulsos nos encontros da Taça. Nos poucos momentos em que esteve em campo, Ricardo Esteves mostrou a Toni que pode oferecer maior segurança do que Rojas ao lado direito da defesa. O paraguaio continua sem ser um bom jogador (parece que só o foi no seu país) e os erros sucedem-se ao ritmo de cada jogada do adversário. Erro crasso do treinador do Benfica foi tentar poupar alguns elementos que seriam essenciais para evitar o despautério de sofrer quatro golpes fatais no Estádio das Antas. A defesa foi o sector mais afectado, carente pelas ausências de Marchena e Dudic e de Fernando Meira como «trinco». Ednilson é um bom jogador, mas Meira é muito melhor nesse lugar. O castigo foi sair vergado da casa do dragão ferido.