A crise, pelo menos de ideias, tornou-se indisfarçável. Depois de Jaume Llauradó, Martinez-Rovira converteu-se no segundo vice-presidente de Juan Gaspart a apresentar a demissão no curto espaço de uma semana. Em comunicado, assinado pelo próprio, o vice-presidente diz-se «sempre disponível» a colaborar naquilo que possa beneficiar o Barcelona, mas «de fora», à margem da Direcção. 

Martinez-Rovira, que se demitiu por «não compartilhar o modelo de gestão» de Gaspart, era o único dirigente procedente da lista de Lluís Bassat, que se apresentou nas urnas como alternativa a Juan Gaspart, e se integrou na actual Direcção. 

Manter o cargo e perder a voz 

A somar aos claros indícios de crise, Gabriel Masfurroll, outro vice-presidente, deixará de ser porta-voz do Barcelona, argumentando que o cargo é incompatível com aquele que ocupa à frente de uma empresa de saúde. 

Masfurroll recorda que a decisão foi tomada há meses, depois de uma reunião com uns sócios alemães vinculados à sua empresa, que teve de suspender repetidamente perante a solicitação da comunicação social para abordar assuntos relacionados com o Barcelona. 

A crise em que Gaspart se vê envolvido ganha proporções delicadas, em especial desde que Jesús «Chus» Pereda, um ex-jogador, denunciou, há dias, que o clube não negoceia a redução dos preços dos jogadores que adquire, aceitando quase sempre os números que lhe são propostos para garantir as contratações. 

A decisão de abdicar do cargo de porta-voz não implica, contudo, que Masfurroll abandone o clube, até porque o próprio assegurou que continuará ligado ao Barça na condição de vice-presidente. «Não posso deixar Gaspart agora, quando as coisas estão tão complicadas», explicou-se. «Saio quando ganharmos uma Liga dos Campeões», prometeu. 

Diante dos jornalistas, depois de comunicar o fim dos seus dias como porta-voz do Barcelona, Masfurroll reconheceu que lhe custou, em mais de uma ocasião, ser discreto e prudente nos seus discursos. «Tive que morder a língua muitas vezes e não sorrio para que não me vejam as rugas», gracejou. 

Minguella «suspeito» e afastado 

A agitação directiva não se esgota na decisão de Masfurroll ou nos abandonos de Llauradó e de Martinez-Rovira. O próprio presidente do Barcelona anunciou, na quinta-feira, que Minguella deixará de colaborar com o clube como assessor-desportivo externo para evitar «suspeitas». 

Apesar de ter defendido Minguella e o director-geral Antón Parera, assegurando que não foi cometida qualquer irregularidade na contratação de Geovanni, Gaspart lembrou que «na vida não basta ser honrado, é preciso parecê-lo» e juntou que, «pelos seus antecedentes, Minguella é uma pessoa que pode suscitar suspeitas».