Nove minutos para o final. O empate sem golos persistia. O árbitro já tinha apontado para a marca de penalty, quando Juande Ramos, do banco, apontava para João Tomás. «Que responsabilidade!», estremeceu o português. A devolução do Bétis ao primeiro lugar da Liga espanhola dependia do êxito daquele pontapé. Compenetrado, Tomás depositou a bola a 9,15 metros da linha de golo com uma inevitável carícia, respirou fundo e correu. «Frio e confiante», contou mais tarde, refeito das emoções. «Tinha de escolher um lado». E fê-lo no final do percurso, uma fracção de segundo antes de desferir o remate, quando conferia a posição do guarda-redes e procurava uma expressão de terror num rosto que reconhecia da televisão, da final da Taça UEFA. João enganou-o. Martin Herrera, infeliz, escolheu o lado errado. 

«Foi óptimo, foi muito bom», conta, aliviado, João Tomás. E orgulhoso, também, depois de se aperceber da real importância daquilo que acabara de fazer. «Um colega de equipa disse-me que nunca o Bétis foi líder à sétima jornada». O entusiasmo detectava-se facilmente na voz de um suplente promovido à condição de herói. «Temos dois pontos de vantagem sobre o Barcelona», conferiu com dificuldade, desconfiando da soma simples, que o discurso haveria de repetir. 

O episódio tinha algo de muito semelhante a um sonho. João percebia-o facilmente, contando já os dias para o fim do encantamento. «Temos todos a consciência de que este não é o nosso lugar», assumiu. «Isto é posição para o Real Madrid, o Bercelona, o Corunha, o Celta ou o Valência». Mas não será entregue em bandeja de prata, a meio de um vénia, promete: «Enquanto estivermos na frente, vamos lutar para não cedermos». 

Em Sevilha como na Luz 

João Tomás não é de desistir, ainda que perceba facilmente as opções de Ramos, que lhe reservam, quase por sistema, a dureza e o incómodo do banco. «É natural que jogue de início o melhor marcador do campeonato», argumenta, lembrando que a sua luta em Sevilha não é muito diferente dos dias de paciência na Luz. «No fundo, continuo a fazer aquilo que já fazia no Benfica. Tento tirar o maior proveito de todos aqueles minutinhos em que jogo». Desta vez, João podia dar o tempo por bem empregue. Trinta e sete minutos em campo valeram-lhe o primeiro golo da época. «Bem bom», riu.  

Faltava apenas uma explicação. Por que razão se voltou o treinador para João Tomás, na hora de transformar a grande penalidade, sendo ele tão pouco utilizado? «É fácil», surpreendeu. «Ele já me conhece, sabe que eu treino bastante os penalties». A habilidade, reconhecida pelo treinador espanhol, não é de agora, recorda. «Eu era o segundo batedor de penalties do Benfica. Se o Van Hooijdonk não estivesse em campo, era eu que os batia». Com Martin Herrera pela frente e uma multidão como testemunha, João não falhou. «Correspondi ao que esperavam de mim». E isso era muito mais importante do que um novo esforço para tentar perceber a escassez de oportunidades para mostrar quanto vale. «Essa é fácil», interrompeu. «Quando cá cheguei a equipa já estava formada». Melhores dias virão, acredita.