As camisolas são as mesmas, o amarelo permanece bem vivo, mas falta algo. Numa observação de soslaio não é fácil detectar de que mal padece o Paços versão 2001/02. A estrutura está inabalável, José Mota continua a defender os mesmos princípios e a apostar nos conceitos que lhe deram notoriedade no ano de estreia na I Liga. Faltam Rafael, Glauber e Marco Paulo, dizem os descuidados, aqueles que não pensam um instante para perceber que os adversários passaram a estar avisados do valor de um futebol encantador. 

Hoje o Paços de Ferreira é uma equipa conhecida. Quem quiser analisar a sua campanha na nova época de forma abreviada, pode recordar que ficou sem boa parte da imaginação, que era oferecida por Rafael, e que perdeu os dois jogadores titulares no meio-campo defensivo. Glauber e Marco Paulo foram, sem qualquer dúvida, fulcrais em todas as surpresas que os pacenses provocaram há uns meses. E deixaram a Mata Real precisamente porque se mostraram num onze que tem revelado alguns valores interessantes.  

Esta é uma explicação possível. A outra, bem mais razoável, baseia-se no fim do efeito surpresa. Esta tarde, o Braga veio a Paços de Ferreira com tudo estudado. Cajuda sabia onde estava o perigo contrário e avisou os seus jogadores. Pediu-lhes que pressionassem bem no miolo e mandou Tiago e Paulo Gomes jogar com atenção redobrada. Era meio caminho andado. O restante do percurso até espartilhar o Paços seria consentido por uma coincidência. As duas equipas actuam normalmente num 4x2x3x1 e, como não podia deixar de ser, encaixaram na perfeição. 

Os primeiros minutos, por conseguinte, foram disputados num pedaço de relva minúsculo. Ninguém queria ceder, ninguém tinha autorização para deixar a forma colectiva inicial, por isso o tempo avançava e o perigo não surgia. Beto, numa tentativa fugaz, ainda conseguiu fazer com que Quim voasse para uma defesa impressionante, mas não conseguia convencer os companheiros a fazer um pouco mais. O intervalo parecia chegar com enfado, por muito que Leonardo insistisse numa bola que parecia fora do alcance de Quim e Armando, com o golo do Paços à vista, desviasse para canto. 

Entra o árbitro 

João Ferreira, que minutos antes tinha respondido ao sinal do seu auxiliar para cancelar uma jogada que acabaria com um golo de Zé Roberto, seria a figura da saída para o intervalo. O Paços cobrava um canto da esquerda e João Armando, na confusão, tentava chegar à bola que ninguém parecia querer e caía depois de um movimento de Tito que parecia ilegal. Grande penalidade? Na bancada e no banco da casa, obviamente, jurava-se que sim. O árbitro achou que não se justificava. 

Ao intervalo, José Mota pedia mais velocidade e acreditava que a sua fórmula de sucesso ainda é perfeitamente válida. João Armando provava-o logo após o recomeço, mas a sorte não quis nada com o seu pontapé. Na tentativa seguinte, de Everaldo, já foi Quim a cancelar os festejos que se preparavam. Minutos depois Zé Roberto deixava um campo que o assobiou a tarde toda. O brasileiro dos mísseis imparáveis não estava a render como habitualmente e Cajuda queria mais. Muito mais. 

Curiosamente, foi depois da saída de Zé Roberto que Adalberto foi obrigado a tirar um golo feito a Abiodum e Tiago rematou à trave, naqueles que foram os melhores registos dos visitantes. Nessa fase, já Miguel Xavier tinha sido expulso, após uma falta que pareceu mal avaliada pelo árbitro. O Braga podia finalmente crescer e arriscar, mas não foi capaz de o fazer. Até ao fim, de resto, foi o Paços de Ferreira que deu a entender estar mais interessado em vencer. Não venceu, aumentando as certezas de quem já se convenceu de que será complicado repetir a façanha da temporada anterior.