Este foi um daqueles jogos que dispensava crónicas e apreciações. O resultado fala por si, a recordação de cada um dos golos já serve para satisfazer os mais curiosos e provar, sem direito a discussão, que o Braga foi muito superior ao Santa Clara. Tudo o resto serão argumentações discutíveis, baseadas nas diferentes atitudes e nos erros avulsos que facilitaram a vida de quem estava em campo verdadeiramente a pensar em vencer. 

O Braga goleou, atacou mais e não teve medo de arriscar. O Santos Clara foi goleado porque jogou menos e não soube reagir aos grandes golos de Zé Roberto, que acabou por ser o motor de arranque de uma exibição que Cajuda poderá recuperar sempre que quiser tipificar o jogo da sua formação. A expulsão de Rui Gregório, já na segunda parte, facilitou, mas não explica tudo. Carlos Manuel dirá que esse foi o momento do jogo, até pode ter razão, mas deve lembrar-se que nessa altura já perdia por 2-0. 

Tudo isto numa noite de um Braga mais abrasileirado que nunca, numa noite de principio de Outono perfumada com retoques qualidade pura, verdadeiras essências de plantas raras que, depois de muito fervidas, soltam gotas minúsculas que fazem explodir ambos os pés de Zé Roberto e abanar a rede contrária. O Braga de hoje foi muito parecido com o da época passada. Ganhou e teve o desplante de golear, assumindo a vaidade dos poderosos e o egocentrismo dos perfeitos.  

Miran, o novo Feher, mostrou que Cajuda acertou ao dizer sim à sua aquisição. Pode não ser tão exuberante como o húngaro, pode não ser loiro, mas sabe o que faz e o que faz é bem feito. Com a vantagem de ter aquela magia única dos brasileiros, aquele descaramento que lhe permite avançar com a bola e rematar de forma imparável, quando todos gritam para que assista. 

O Santa Clara pode apenas sentir um único consolo: Fernando nada podia fazer nos golos que sofreu. Isso já diz tudo da qualidade dos seis remates certeiros do Braga e prova que a pesagem entre demérito próprio e mérito do visitado tende para o lado deste último. Carlos Manuel tem de se decidir. Os jogos no continente serão sempre complicados, por isso não há um milímetro que seja para a indecisão. Figueiredo não chega para construir se a bola não lhe chegar ao pé direito, Brandão jamais será goleador se não rematar. 

João Vilas-Boas, que também jogava em casa, cumpriu a lei no segundo amarelo a Rui Gregório e viu uma agressão no gesto brusco de Vítor Vieira em direcção a Armando. Só não se aceita que não tenha visto Paulo Gomes a pontapear um adversário com a bola bastante longe. Um único erro sem influência no desnível futebolístico.