José Mourinho, o novo treinador do União de Leiria, quer ouvir falar o menos possível na palavra manutenção no balneário, mesmo sendo esse o objectivo para esta época, apesar do quinto lugar conseguido pela equipa no ano passado, com Manuel José no comando técnico. 

«A palavra manutenção tem uma carga psicológica negativa», explica o antigo treinador do Benfica, no dia da apresentação oficial dos leirienses. «Uma equipa que joga para a manutenção joga para sobreviver, para não perder, para conseguir um ponto hoje, um ponto amanhã, a qualidade do jogo normalmente não é boa. A palavra que quero é a palavra estabilidade.» 

O quinto lugar do ano passado parece irrepetível, pelo menos José Mourinho não fala em repeti-lo, mas em perseguir outros objectivos para além do classificativo. «Já estou habituado a que as pessoas analisem o trabalho do treinador de forma redutora. Para muita gente o trabalho de um treinador avalia-se única e exclusivamente pelos resultados desportivos e essa não é a minha perspectiva da função de um treinador nos dias de hoje. É muito mais abrangente que isso. Um dos aspectos que pode ser avaliado é a qualidade do jogo, outro é a influência que se pode ter ao nível das camadas mais jovens e a redução do nível etário da equipa por forma a tirar dividendos no futuro», refere. 

«Fui contratado para o futuro» 

«De uma forma geral é a estabilidade que procuramos», prossegue o treinador, falando numa tranquilidade «em que os resultados sejam satisfatórios mas a qualidade do jogo também o seja, onde os jogadores se sintam participantes num modelo de jogo que lhes agrade e em que sintam que têm oportunidade de se evidenciar». 

«Ficar em quinto ou em oitavo ou em décimo são coisas que não podemos estar a prever», lembra José Mourinho, para quem a classificação da época passada é isso mesmo - passada. «Faz parte da história. Eu estou incumbido de liderar aquilo que é o presente e o futuro. O passado a mim não me diz absolutamente nada. Dou os meus parabéns aos que no ano passado conseguiram fazer bom trabalho, mas fui contratado para o futuro e não para o passado e a vida começa hoje.» 

Boa sorte ao Benfica 

O regresso ao trabalho depois de seis meses de ausência deixou José Mourinho feliz, mas o treinador está mais ansioso por terça-feira. «Melhor sensação vai ser quando começar a treinar, porque é aquilo de que gosto de fazer e que já não faço há seis meses, e depois as sensações do treino só vão ser ultrapassadas quando começarmos a competir, que é aquilo para que estamos mais aptos e desejosos.» 

O plantel, diz o treinador, não está fechado. Para já chegaram apenas três reforços (mais quatro promoções de jogadores ligados ao clube), nada que deixe em pânico Mourinho. «Mantive sempre a calma no defeso, enquanto assistíamos a outros clubes a fazerem investimentos massivos, a fazerem 8, 10, 12, 14 contratações, mas nunca fomos influenciados por isso. Saíram cinco jogadores do ano passado, o objectivo é trocar esses cinco por outros cinco de características mais adaptadas ao que é o meu futebol, o meu modelo de jogo. Já vi jogar inúmeras vezes os jogadores que compõem o plantel, mas só os conhecerei de facto quando trabalhar com eles. De qualquer forma, acredito que quando o plantel estiver todo formado e concretizado pode dar resposta àquilo que eu pretendo.» 

Mais de seis meses depois de deixar o Benfica, o clube encarnado é, para Mourinho, uma recordação cada vez mais distante. «Os diferendos a nível pessoal que existiram estão ultrapassados. Não tenho rancor a nada nem a ninguém, já percebi que esse sentimento é recíproco, e como os objectivos do Benfica não são os mesmos dos nossos posso desejar-lhes a maior sorte, mas a minha vida é aqui nos próximos dois anos e é com o Leiria que me quero preocupar.»