Com as paragens das competições nacionais devido aos jogos internacionais as equipas sofrem alterações no ritmo competitivo habitual tendo obrigatoriamente de adaptar os processos de trabalho. Mas não se pode falar necessariamente que alterações sejam sinónimo de prejuízo para o trabalho da época. Há prós e há contras dentro da mesma realidade.

Em Portugal, as equipas da Liga vão estar – por regra – paradas de competição duas semanas enquanto a Seleção Nacional realiza o play-off de apuramento para o Campeonato do Mundo – paragem compreendida entre a eliminatória deste fim de semana, de dias 9 e 10, da Taça de Portugal e o regresso da Liga no fim de semana dos dias 24 e 25. Exceções àquela regra estão nos casos em que Belenenses e Nacional já não estiveram nesta ronda da Taça e fazem uma paragem de competição que abarca três semanas.

Numa análise «pragmática», Nelo Vingada aponta por princípio que não deve haver lugar a grandes surpresas, pois frisa que «a calendarização das provas já é feita de acordo com as datas livres». E explica ao Maisfutebol que há mais do que um lado da questão: «Queixamo-nos de que é muito tempo sem competir. Mas noutras vezes, com lesões que há para tratar, é bom [ter esse tempo].»

José Couceiro acrescenta, no entanto, um ponto de vista novo a este princípio. «O meu caso não é igual [ao da maioria dos treinadores] porque eu entrei há pouco mais de um mês» para o comando técnico do V. Setúbal. «Tenho um mês e pouco de Vitória» e esta paragem «dá-me para preparar situações que não tive tempo de preparar nas semanas anteriores», explica ao Maisfutebol.

«Na minha situação, vejo mais pontos positivos. Posso aumentar o nível competitivo». «Mas também depende sempre do momento da equipa. Uma coisa é a equipa estar bem, outra é não estar quando há a paragem», indo do geral para o particular: «No meu caso concreto, a nível de resultados está a correr de forma interessante.» E o treinador do Vitória sadino admite também que «há outros casos de recuperações individuais» que podem ser aproveitados pelos clubes. Assim como não se esquece de referir que «há os casos dos clubes de top» que têm o trabalho alterado porque «têm muitos jogadores a irem para as seleções».

É preciso arranjar competição

Nelo Vingada considera também que, por exemplo, «as equipas que estão nas competições europeias podem tirar benefícios» de uma paragem destas, mas, por outro lado, «quem pode beneficiar desta paragem também pode ter os seus jogadores nas seleções» e esses «não podem ser deixados de fora» das contas destas paragens. «Não há uma fórmula... quem vai embalado pode lamentar...», exemplifica.

«Tem de ser visto em função do que se tiver para gerir » e tem muito a ver com a fase que a equipa atravessa», refere Vingada, como o explicou pela experiência própria José Couceiro. Nelo Vingada considera em concreto os casos de Belenenses e Nacional (no ponto de vista das três semanas) e, tendo em conta que os dois clubes «não têm jogadores nas seleções», lembra que «é impossível substituir a competição» no trabalho de um plantel. Vingada considera então que uma das formas dessa tentativa de substituição é «fazer jogos para tentar minimizar essa paragem» funcionando «como aliciante [competitivo] para os jogadores».

Nelo Vingada refere que será uma altura para «gerir de outra forma as cargas de treino», de fazer «trabalho específico», pois, nos clubes que «não estão a competir, o desgaste é menor e pode-se aumentar a intensidade dos trabalhos». José Couceiro contou que deu folga ao plantel nestes primeiros dois dias da semana e que, assim, «a intensidade dos treinos de quarta, quinta e sexta-feira será muito superior» e dará a «vantagem de poder fazer coisas que não podia fazer se estivesse em competição».

É preciso conseguir motivação

Couceiro salienta os pontos positivos que vê e prefere não se debruçar em concreto sobre equipas que não a sua, mas refere, em teoria, que «uma paragem de uma semana ultrapassa-se com facilidades, de duas semanas já requer uma atenção maior» e que «três semanas já é um período muito alargado». «Eu faço uma pré-época com seis semanas...», anota.

«Nós só vamos apanhar um fim de semana sem competição. Com uma paragem de duas semanas, eu vou arranjar competição», revela o treinador do V. Setúbal lembrando que, por exemplo, o Belenenses – já ausente da Taça – «aproveitou para fazer um jogo com o Mafra».

José Couceiro conclui que esta gestão das paragens também «varia muito de clube para clube, como varia muito de jogador para jogador». «Os jogadores têm de estar sempre prontos do ponto de vista físico. E mesmo havendo paragem têm de fazer o trabalho que lhes permita estar a esse nível. Têm de estar a esse nível e não há motivação que se crie para este momento» de paragem, descreve José Couceiro. Nelo Vingada afina pelo mesmo diapasão referindo que os jogadores «têm de estar bem preparados fisicamente, mas que «não o conseguem se não estiverem bem emocionalmente», no que constitui mais um desafio ao trabalho do treinador.