Hélton parece talhado para conseguir o impossível. Depois de ter roubado a titularidade no Vasco da Gama ao gigante Carlos Germano, o guarda-redes fez o mesmo no F.C. Porto ao gigante Vítor Baía. Quis saber-se por isso qual das titularidades tinha sido mais complicada. Hélton responde a primeira. «Na altura tinha 20 anos, ainda era muito inexperiente», explica. «Mas por outro lado a ficha não caiu com tanta pressão como agora. No F.C. Porto tive de substituir nada mais nada menos do que um mito, que toda a gente conhece e que é um ídolo enorme em Portugal».
Dos dois guarda um enorme carinho. «Admiro muito a simplicidade do Vítor Baía», diz. «Embora haja muita gente que fala coisas negativas dele, são coisas que eu ainda não consegui ver. Trabalhamos juntos, disputamos uma posição e quem fica de fora está sempre a aplaudir, a sorrir e a dar força ao titular. Isso é muito difícil de encontrar em qualquer clube. Por isso agradeço muito tanto ao Vítor Baía como ao Carlos Germano. Sobretudo ao Carlos Germano porque tive mais tempo de convivência com ele».
«Título? Somos os favoritos porque somos os campeões»
Hélton deu esta entrevista à Rádio Lance, do Brasil, e fê-lo num registo de enorme tranquilidade e descontracção. De fala melodiosa, gargalhada fácil e muita paz interior, o guarda-redes portista respondeu a todas as perguntas menos uma. Quando se lhe pediram a opinião sobre a polémica Vítor Baía/Ricardo/Scolari, aí Hélton pediu desculpa por não responder. «Tenho o Vítor Baía como um dos melhores amigos, se não mesmo o melhor, dentro do clube. Recebeu-me de braços aberto e deixou desde logo bem claro que eu estava a chegar para ajudá-lo e para ser ajudado. Por isso, a respeito do Vítor Baía e do Ricardo, seria anti-ético falar deles».
O sorriso de Hélton volta a erguer-se quando se lhe pergunta quem é o maior candidato ao título este ano. «O campeonato português hoje está muito nivelado. É complicado apostar-se», começa por dizer. «Mas pelas normas do futebol, toda a gente aposta no campeão. Como actualmente somos os campeões, acho que somos os favoritos». Pouco depois o sorriso transforma-se em gargalhada. «Se depender de mim vamos ser campeões, mas é complicado. Temos de trabalhar firmes e com responsabilidade para chegarmos a esse objectivo». Hélton garante que é assim que está na vida, com alegria e responsabilidade. Tocando cavaquinho e violão. «Cada vez mais», sorri.
«Tenho de dar os parabéns a Scolari porque não foi fácil para ele»
Por fim falou-se de Scolari. Como não podia deixar de ser. «Tenho de dar os parabéns ao professor Luiz Felipe, porque não foi fácil», disse Hélton. «Não foi fácil não porque ele não tivesse competência para o cargo, não foi fácil porque ele era muito cobrado. Foi colocada muita pressão em cima dele, porque havia outros treinadores portugueses que estavam a fazer muito bem o seu trabalho, houve até treinadores que foram trabalhar fora do país e que eram fortes candidatos ao lugar. Por isso o Scolari não combateu só os adversários dentro de campo, teve também de provar a sua competência num ambiente difícil. E a verdade é que antes dele a selecção portuguesa ainda não tinha despontado, há 40 anos que não chegava às meias-finais do Mundial».