Chama-se Edson Álvarez e não costuma aparecer nas imagens mais importantes de promoção do Ajax. Num plantel com nomes como Daley Blind, Antony, Ryan Gravenberch, Dusan Tadic ou Sebastien Haller, é normal que o mexicano fique numa segunda linha.

O que não significa que não seja dos jogadores mais cobiçados do plantel.

Na lista do Transfermarkt, aliás, Edson Álvarez é o sexto atleta mais bem avaliado: dizem que o preço são vinte milhões ou nada. Mais caros, só Gravenberch e Antony (ambos 35 milhões), Lisandro Martinez (32 milhões), Haller e Timber (ambos 30 milhões).

Exatamente por isso, porque é um jogador cobiçado, no último verão o Rennes quis contratá-lo. Ofereceu vinte milhões de euros e usou de todos os expedientes para fazer a cabeça ao jogador.

Comprado pelo milionário François-Henri Pinault, dono de várias marcas de luxo, o Rennes investiu no último verão oitenta milhões de euros para reforçar o plantel, e Edson Álvarez estava no topo da lista de compras. Perante as reservas do mexicano em mudar-se para a Liga Francesa, o clube puxou de um trunfo: colocou a também mexicana Salma Hayek a tentar convencê-lo.

Salma Hayek é casada com François-Henri Pinault desde 2009 e telefonou ao compatriota numa missão de sedução.

Edson Alvarez respondeu que agradecia, mas não, obrigado.

«Salma Hayek é uma grande atriz, muito famosa, uma estrela enorme em todo o mundo. Ela é um exemplo para todos os mexicanos, porque lutou para chegar onde está hoje. O facto de ela me ligar e tentar persuadir a ir para a França, surpreendeu-me e deixou-me lisonjeado, mas minha a escolha pelo Ajax foi a certa e expliquei-lhe precisamente isso», disse Edson Alvarez ao De Telegraaf.

«Quero lutar por títulos, quero jogar a Liga dos Campeões contra grandes equipas e quero mostrar-me em grandes palcos. Verdadeiramente só comecei a jogar a um bom nível no Ajax há seis meses, o que é muito curto para deixar uma boa impressão aqui. Ainda tenho muito que provar.»

Para um jovem de 23 anos, filho de costureiros numa fábrica de roupas desportivas, que tinha crescido num subúrbio modesto da Cidade do México, ter uma estrela da dimensão de Salma Hayek a seduzi-lo pode ser uma armadilha perigosa. Mas Edson Alvarez não se deixou intimidar.

Afinal de contas nada na vida lhe foi dado de mão beijada.

Começou a jogar ainda adolescente no Pachuca, o que era um sonho para toda a família. O futebol sempre foi visto lá em casa como o único bilhete para uma vida mais confortável, mas o pai e os irmãos mais velhos nunca tinham conseguido melhor do que clubes da quarta e da terceira divisões.

Edson Alvarez estava no Pachuca, o grande que todos apoiavam lá em casa, e sonhava com o dia em que poderia estrear-se na equipa principal. Mas aos 14 anos chegou a notícia mais difícil: o clube ia dispensá-lo porque era demasiado baixo para defesa central.

«Foi o golpe mais duro que tive na vida. O Pachuca era o sonho de toda a família. Fiquei muito dececionado e disse que não queria mais jogar futebol», confessou o jogador.

«Caí ao chão, senti-me derrotado, mas disse-lhe: ‘Vamos filho, vamos, vamos! Estás a trabalhar e alguns frutos vais de certeza colher», referiu o pai, Evaristo Alvarez.

O que é certo é que durante dois anos o adolescente não quis jogar futebol. Ainda magoado com a desilusão que tinha sido o Pachuca, colocou o sonho de sempre em suspenso à espera de melhores dias. Até que aos 16 anos deixou-se convencer por amigos e foi fazer um teste ao América.

Acabou por ficar três meses à experiência, até que foi aceite.

O sonho voltava a ganhar forma, mas continuava a exigir muitos sacrifícios.

Natural de Tlalnepantla, uma cidade quarenta e quatro quilómetros a norte da Cidade do México, o jovem gastava todos os dias quatro horas para ir para os treinos, em Coapa, na zona sul da capital.

Para além disso, só quando subiu à equipa principal é que lhe fizeram contrato. Até então, vivia com um complemento para ajudas de custo, do qual três quartos eram gastos nos transportes.

«O meu pai levava-me à estação, onde apanhava o comboio para a Cidade do México. Depois ia de metro para a zona sul e depois tinha de apanhar um táxi até ao campo de treinos. Gastava umas quatro horas nas duas viagens, primeiro para o campo e depois de regresso a casa.»

Disciplinado e rigoroso, Edson Alvarez surpreendia toda a gente por nunca se atrasar. O resto era muito trabalho e uma vontade férrea de triunfar.

Ele que tinha sido dispensado do Pachuca por causa do tamanho, crescia agora até 1,87 metros, que o tornavam dos mais altos da sua geração. Após duas épocas na equipa sub-17, começou a ser chamado aos treinos da equipa principal aos 18 anos. Estreou-se alguns meses depois num jogo da Taça do México e ainda antes de cumprir 19 anos fez o primeiro jogo na Primeira Divisão.

O sucesso surgiu galopante, de resto, na vida do miúdo.

Se não veja-se: começou a treinar com a equipa principal em janeiro 2017, estreou-se em agosto e um ano depois decidiu a final do Torneiro Apertura: entrou para o lugar do portista Matheus Uribe, que se lesionara, fez os dois golos da vitória e tornou-se titularíssimo do América. Ainda nessa época de 2018, com apenas 20 anos, foi convocado para o Mundial da Rússia.

Por esses dias, ainda era central, embora às vezes fosse adaptado a médio defensivo.

«É um defesa espetacular. Não apenas defende, mas também tem saída com bola e torna-se um médio como Franz Beckenbauer», explicava nessa altura o treinador Ricardo La Volpe.

Foi, aliás, como central que foi contratado pelo Ajax, em julho de 2019, para substituir um tal de Matthijs de Ligt, que tinha acabado de sair para a Juventus. Em Amesterdão, porém, deu uma volta no destino e tornou-se definitivamente médio defensivo: uma aposta de sucesso, que permite à equipa ter mais força na recuperação da bola e mais pulmão no preenchimento dos espaços.

O mexicano, de resto, apresenta, segundo o site do Ajax, uma capacidade de ganhar 65 por cento dos duelos defensivos e quase 50 por cento dos duelos ofensivos. O que é admirável.

Edson Alvarez está no fundo a fazer o trajeto dele, como sempre sonhou: um trajeto de muito trabalho, rigor, compromisso. E não será uma atriz de Hollywood a desviá-lo dessa rota.

O Benfica que conte com isso.