Há casos que são demasiado evidentes. Sérgio Conceição e Francisco Conceição, por exemplo, serão a amostra mais mediática. São pai e filho, vestiram a mesma camisola e tornaram-se um caso mais notável por partilharem o balneário do FC Porto. Um é treinador e o outro é jogador.

Mas Francisco Conceição está longe de ser um exemplar raro. Muito longe, aliás.

A Liga está cheia de casos de jogadores que transportam os genes de pais que foram também eles jogadores, numa revelação inesperada de que o futebol português também é uma questão de ADN.

Martim Águas ainda não jogou na Liga, mas carrega o nome de um pai e um avô que foram craques e seguiu também ele o mesmo caminho, preparando-se para construir uma carreira no futebol.

O facto do pai Rui Águas e do avô José Águas terem sido jogadores, admite, acabou por influenciar.

«Claro que sim, cresci em todo um ambiente de futebol e de desporto. A minha família foi sempre muito ligada ao desporto. Todas as histórias que ouvia me acabavam por influenciar», conta.

«Até filhos de ex-jogadores que não gostavam tanto de futebol se sentiam empurrados para este mundo, como é o caso do meu irmão, que jogou na formação e depois deixou porque não gostava.»

O avançado de 28 anos, atualmente a representar o Oriental Dragon, da Liga 3, admite ter os genes do futebol no corpo é muitas vezes decisivo... e muitas vezes também prejudicial.

«Quando era miúdo carregava muito a responsabilidade de ser filho de quem sou. À medida que fui crescendo fui percebendo que cada um tem o seu caminho, a sua história, as gerações são diferentes, o futebol vai evoluindo. O meu trabalho não teria de se guiar por essa pressão.»

André, Bobó, Franco, José Carlos, Artur Jorge...

Ora olhando para o campeonato, há mais de vinte jogadores a jogar na Liga que são filhos de antigos jogadores também eles com passado na primeira divisão.

Alguns dos quais verdadeiros craques e nomes míticos do futebol português. André André, por exemplo, é filho de André, campeão europeu pelo FC Porto em Viena, internacional português e quase 400 jogos com a camisola azul e branca. Um verdadeiro histórico do dragão.

Já Matchoi Djaló, avançado do P. Ferreira, é filho de Bobó, nome grande do Boavista, médio todo o terreno do glorioso Boavistão dos anos noventa, quase duzentos jogos em seis temporadas.

Gonçalo Franco, médio do Moreirense, é filho de Franco, central que teve uma longa carreira na Liga, em clubes como Nacional, Leça, Rio Ave, V. Guimarães e Moreirense. Formado no Sporting, foi por causa dele que Ronaldo foi contratado, envolvido no pagamento de uma dívida. Depois disso brilhou no Rio Ave, tendo saltado para o FC Seoul, da Coreia, antes de voltar a Portugal.

Filipe Ferreira, lateral esquerdo do Boavista, é filho de outro lateral, neste caso direito, José Carlos: histórico do Benfica e do V. Guimarães. Jogou a final da Taça dos Campeões Europeus frente ao Milan e fez parte do V. Guimarães que eliminou o grande Parma de Zola da Taça UEFA em 1996.

Refira-se, por fim, que Artur Jorge, central formado no Sp. Braga e que representa o Moreirense, é filho de Artur Jorge, mítico central e capitão do Sp. Braga, que fez praticamente toda a carreira, e um total de 265 jogos, no clube minhoto, no qual fez também toda a formação.

... Sérgio Conceição e Van der Gaag...

No atual campeonato português há dois casos particulares, de resto: Sérgio Conceição e Van der Gaag são os antigos jogadores da primeira divisão que têm dois filhos a jogar na Liga.

O antigo extremo do FC Porto tem Francisco Conceição, também no FC Porto, e Rodrigo Conceição, no Moreirense, enquanto o antigo central do Marítimo tem Luca Van der Gaag e Jordan Van der Gaag, no Belenenses: ainda nenhum jogou e só o primeiro foi convocado para um jogo.

... Vitinha, Gonçalo Ramos, Rui Fonte, Diogo Figueiras

Vale a pena ainda lembrar os casos de jogadores que são filhos de antigos atletas da primeira divisão e que já atingiram um nível superior ao dos pais. Vitinha, do FC Porto, é filho de Vítor Manuel, médio que fez carreira durante muitos anos na primeira divisão em clubes como o Campomaiorense, o Farense e sobretudo o Desp. Aves, no qual encerrou a carreira.

Gonçalo Ramos, avançado do Benfica, é filho de Ramos, avançado que jogou no Farense e no Salgueiros. Rui Fonte, que já chegou até a ser internacional português, é filho de Artur Fonte, que jogou no Penafiel, Belenenses e V. Setúbal.

Diogo Figueiras, por fim, lateral do Famalicão, com passado no Sp. Braga e no Paços Ferreira, é filho de Rosário, avançado que jogou no V. Setúbal, no Boavista e no Felgueiras, depois de ter dado nas vistas no Torreense, tendo passado à história por uma frase de Sousa Cintra, quando um jornal escreveu que o Sporting queria o brasileiro Romário e o então presidente leonino respondeu que era um erro de impressão. «Romário? Não, não, nós queremos é o Rosário, do Torreense.»