CAPÍTULO I: a lesão
13 de maio de 2018 – 18 de agosto de 2019. 15 meses à espera, 15 meses de peito vazio. Tudo por culpa do maldito joelho. Quando Sandro Costa fez um «apoio errado» e sentiu tudo a ceder, uma nuvem negra sobrevoou Rieti.
Ali, 80 quilómetros a norte de Roma, o futebol pareceu-lhe subitamente mais longe do que nunca. A aposta no calcio, no sonho italiano, morria praticamente à nascença. Seguia-se obrigatoriamente a tal longa espera. 15 meses.
Sandro, campeão nacional de juniores pelo Sp. Braga em 2014, não deu só um passo atrás. Deu vários. Não fez um único jogo na Serie C, rescindiu com o FC Rieti e, cinco anos após o título nacional - «o primeiro do Sp. Braga em 38 anos nesse escalão» - viu-se sem nada. A não ser, pormenor determinante, a «imensa vontade de voltar às ligas profissionais».
«A pré-época [no FC Rieti] estava a correr bem, mas no último amigável sofri a lesão. Tive uma rotura do ligamento cruzado anterior. Parei sete/oito meses, voltei a treinar, mas o clube já estava muito mudado. Decidi voltar a Portugal para relançar a carreira», conta Sandro Costa, ao Maisfutebol.
«Foi um movimento de apoio mal feito. O joelho cedeu e rompi o ligamento. Senti que podia ter sido grave, mas o joelho não inchou e cinco minutos depois sentia-me bem e já só queria jogar.»
O FC Rieti surgiu na vida de Sandro a convite do treinador Ricardo Chéu. Salário interessante, desafio enorme, mas condições de trabalho «pobres». Tudo desfeito, digamos assim, em segundos.
CAPÍTULO II: a reabilitação
Sacrifício. Sandro Costa entregou-se nas mãos experientes do staff da Clínica Espregueira Mendes e reabilitou o joelho ferido. O primeiro passo, apenas isso, de uma via sacra só interrompida em Pinhal Novo.
15 meses, nunca é demais escrevê-lo, depois da grave lesão, o defesa central voltou a competir. 90 minutos contra o Real de Massamá. Começar de novo. Tudo.
«Saiu-me um peso de cima. Sempre acreditei que voltaria ao meu melhor nível, foi o início de um novo ciclo. Muita felicidade. A minha família, a minha namorada e as pessoas da Clínica Espregueira Mendes, além do fisioterapeuta Paulo Araújo, foram determinantes», conta Sandro a partir do distrito de Setúbal. Casa nova na Série D do Campeonato de Portugal.
«Ainda voltei a Itália na fase final da recuperação, com os restantes portugueses da equipa – Chastre, Xavier Venâncio e Tomás Dabó -, mas o clube estava mudado. Saiu o treinador, saiu a direção e quem entrou tinha ideias diferentes. Não contavam com os atletas estrangeiros.»
Apesar do problema físico e do caderno competitivo em branco, Sandro Costa ainda consegue encontrar algo de positivo na experiência italiana.
«Valeu a pena em termos económicos, embora eu esteja a começar a carreira e não era esse o meu maior objetivo. Conheci uma cultura nova, outras gentes, tudo isso.»
CAPÍTULO III: o Pinhalnovense
Verão de 2019. Toalhas de praia, areia e incógnitas. Por onde seguir? O telefone tocou e ajudou.
«O Jorge Peixoto, diretor desportivo do Pinhalnovense, desafiou-me a vir para cá. O mais interessante era a possibilidade de jogar e aparecer. Eles não estavam preocupados por eu ter estado lesionado e isso fez toda a diferença», admite Sandro Costa, totalista na nova equipa. Está totalmente recuperado.
O Pinhalnovense vem de quatro vitórias seguidas e está a dois pontos da zona de acesso ao playoff de subida. Há surpresa ao virar da esquina?
«A época está a correr bem. Pediram-nos para fazer melhor do que na época passada, mas sem grandes ilusões. Estamos perto do segundo lugar e vimos de quatro vitórias. É cedo para pensar no playoff, mas temos qualidade para isso.»
CAPÍTULO IV: a biografia
Nascido em Barcelos, Sandro Costa começou a jogar no seu Gil Vicente e nos iniciados mudou-se para o Sp. Braga. Quatro temporadas «a jogar muito» e o título nacional em 2014. Antes da separação.
«Por motivos que me são alheios, isso [a continuidade em Braga] não se proporcionou. Há males que vêm por bem e segui caminhos que me fizeram crescer.»
Nesse Sp. Braga campeão havia nomes conhecidos: «O guarda-redes era o Tiago Sá [agora no plantel principal do Sp. Braga], havia o Gil Dias [Mónaco], o Joca [Rio Ave], o Nené [Santa Clara] e o Reko [Alcorcón], por exemplo.»
Sandro saiu para o Vilaverdense, «um clube próximo do Sp. Braga» e voltou a Barcelos para se estrear nas ligas profissionais. Um ano com duelos… durinhos.
«Fomos à meia-final da Taça de Portugal contra o FC Porto. A dupla que defrontei foi a formada pelo Marega e pelo Soares. O Marega impressionou-me pela capacidade física, onde ele bate faz mesmo mossa, mas o Soares foi o avançado que mais trabalho me deu num jogo. Marquei-o num amigável de pré-época entre o Gil e o FC Porto. É possante e forte no jogo aéreo.» Medalhas de guerra.
O percurso, interrompido pela paragem de 15 meses, já inclui vários nomes. E um treinador especial em Barcelos.
«Trabalhei com o Álvaro Magalhães, o Jorge Casquilha, o Paulo Alves e o Pedro Ribeiro, mas quem mais me marcou foi o Nandinho, porque me deu a oportunidade de me estrear nas ligas profissionais. Impus-me numa equipa que tinha centrais que vinham da Liga, como o Cadú e o Pecks.»
Falta a auto-avaliação, o auto-retrato. De quem falamos quando falamos de Sandro Costa, o defesa que nos conquistou pela dureza da sua história recente?
«Sou um central rápido, que gosta de sair a jogar, bom na antecipação.»
Foram 15 meses à espera de ver a bola a saltar, de entrar no balneário e saber que o apito do árbitro está já ali. O primeiro capítulo não conta a história toda.