«É pró cu, é pró cu, é pró cu... almofadinhas prá bola». A expressão, que para alguns pode parecer inusitada, reporta à memória de quando os vendedores tentavam fazer negócio com os adeptos que se sentavam no cimento dos estádios. As almofadas quase não existem porque há agora as confortáveis cadeiras, mas outras coisas se mantém como símbolos de um regresso ao passado. Como os cromos.
A expressão inicial é utilizada na apresentação do blog criado por Pedro Ferreira, 35 anos. A criação chama-se «O Cromo dos Cromos». «Quando os jogadores tinham bigodaça, cabeleira farta e à porta dos campos de futebol, no meio do cheiro a coirato, se gritava o pregão: É pró cu, é pró cu, é pró cu... almofadinhas prá bola.»
Início da viagem
E aqui começa a viagem ao passado do futebol através dos cromos. Balacó, ex-jogador do Benfica Castelo Branco, Espinho e Portimonense, tem razões para ser o primeiro cromo de uma colecção que promete não terminar. «Só podia ser ele», conta o autor ao Maisfutebol. «Nasci no Fundão e como ia ver os jogos do Benfica Castelo Branco via também o Balacó. Era talvez o defesa mais intratável do futebol português. Ou passava o jogador ou a bola. Os dois ao mesmo tempo nunca. E na maior parte das vezes ficava o jogador», brinca Pedro Ferreira. «Depois era cabeludo, tinha aquela bigodaça, enfim, personificava o ideal do blog e tinha uma história por trás.»
É precisamente o comentário que se junta ao cromo que Pedro Ferreira mais valoriza na sua «colecção». «O mais interessante são as histórias que as pessoas enviam, dizendo onde está o jogador nos dias de hoje, comentando a carreira de futebolistas que, por vezes, nós nem sabemos quem são», contou. «Às vezes funciona como um desafio. Tenho um cromo de um jogador que não faço a mínima ideia quem seja ou o que fez na sua carreira. E no dia seguinte, garantidamente, tenho 10 ou 15 mensagens com toda a sua história de gente que o conheceu.»
Mas também há cromos bem conhecidos neste blog, e antigos. Meszaros, Manuel José, José Rachão, Baltemar Brito, Vermelhinho, Toni (o do Benfica e o actual treinador do V. Setúbal), Vítor Baptista, Diamantino, Quinito, Carvalhal ou o treinador do Benfica, Fernando Santos, quando jogava no Estoril. E todos com comentários a preceito. «Isto começou como uma brincadeira, e continua assim porque quando deixar de ter gozo acabo», afirmou Pedro Ferreira. «Nunca me passou que chegasse a este ponto, com tanta gente a enviar comentários ou cromos», confessou.
E há gente que pede cromos. «Já me perguntaram se não punha carecas, se arranjava uns jogadores do Sporting dos anos 80, se não tinha zairenses. E por vezes são os vizinhos, ou amigos de jogadores do passado que pedem para colocar o cromo. E só não ponho nesses casos se não tiver mesmo. Porque as pessoas têm a satisfação de mostrar ao antigo jogador que o cromo deles está ali.»
Cromos que falam e têm família
O autor já recebeu comentários dos próprios «cromos» como de elementos das famílias dos cromos. «Tenho à volta de 15 cadernetas comigo», contou. Cromos não faltam para alimentar um blog que vai deixar de o ser. «Estou já a pensar transformar para um site, mas mantendo a mesma estrutura e deixando os comentários, que são a riqueza do blog. Não tanto os cromos em si.»
Já são mais de 67 mil visitantes, mais de 300 por dia, quase quatro mil comentários. Vale a pena espreitar, mesmo que não seja coleccionador. Porque nunca é de mais regressar a um passado através da história dos cromos. E aqui não há nenhum cromo mais difícil de sair.