«O quê? O Pará no F.C. Porto? Está tudo maluco? O Mundo acabou?». Edu Castigo nem quer acreditar. Reage da mesma forma que outros produtos do Vilanovense alertados pelo Maisfutebol sobre o regresso de um antigo companheiro a Portugal. Nélson, lateral do Benfica que partilhou casa com o reforço do F.C. Porto, também ficou estupefacto.
Givanildo Vieira de Souza nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 1986. Quinze anos depois, trocou o Brasil por Portugal, para alimentar um sonho nas camadas jovens do Vilanovense, do outro lado do rio Douro. Nesta altura, ninguém se lembra de Givanildo. Nem de Hulk. Lembram-se, isso sim, de Pará. O jovem adoptou uma alcunha relacionada com as origens, por causa do seu sotaque acentuado.
«Vinha com o pô, gente e ficámos todos a rir. Grande miúdo. Dizia-me: eu vim para o Vilanovense mas vou jogar no F.C. Porto. Um dia, vou jogar no Porto, escreve aí. E eu respondia-lhe: Ó Pará, você só tem de perder o sono. Se você chegar ao Porto, o Mundo acaba. Agora, ele chegou mesmo», afirma, incrédulo, o antigo companheiro de equipa, Edu Castigo (Penafiel).
Hulk, então Pará, chegara cheio de fé. Tinha um pé enorme, um corpo invulgar para a sua idade, capaz de rivalizar com os jogadores da equipa sénior do Vilanovense. «Eu tinha mais quatro anos que o Edu e ele ia treinar com os seniores e nós ficávamos malucos. Também estava por lá o Toni, que foi campeão do Mundo e jogou no F.C. Porto. O Pará chegava, encostava-se e atacava com uma força incrível. Tinha uma patada fenomenal. Parecia o Rivaldo, era o que nos parecia, mas com corpo. Só que vinha do Brasil, com aquela mentalidade, só queria atacar. Jogava como extremo, esquerdino puro, mas nem queria saber de apoiar o lateral. É por isso que lhe dizia para perder o sono», acrescenta Edu Castigo.
O actual jogador do Penafiel era uma referência para Pará, perdão, Hulk. Nélson, que chegou ao Benfica, também. Luizinho, menos feliz na carreira, idem aspas. Pará gostava de bater na porta do quarto de Edu Castigo para cobiçar a sua roupa: «Era mais novo que eu mas calçava e vestia os mesmos números. Chegava e dizia: Edu, dá-me um cenário. Gostava do que eu tinha, mas eu já ganhava dinheiro, ele não. Quando vim da selecção de sub-20 de Angola, acabei por lhe dar um blusão, que ele levou quando regressou ao Brasil.»
Pará regressa nesta sexta-feira a Portugal, agora respondendo pela alcunha de Hulk. Em 2008, entra pela porta grande. No início do milénio, partira com um sonho desfeito. Edu Castigo levou o avançado brasileiro ao aeroporto: «O Vilanovense não conseguia pagar para ficar com ele e foi-se embora, a família enviou-lhe dinheiro para o bilhete. Estava de rastos. Fui levá-lo ao Porto e pensei que nunca mais o ia ver. Agora, você diz-me que ele vem para o F.C. Porto? Vai ter de pagar um jantar, que eu paguei-lhe muitos», remata Edu, ainda incrédulo, em conversa com o Maisfutebol.