Entre 1983 e 1985, um ponta-de-lança assolou a defesa do Benfica na Europa: Ian Rush. Quatro jogos, cinco golos na baliza do saudoso Manuel Bento. O galês espalhava o terror, pujante. Exortava a ambição de um grande Liverpool, sublinhando a ideologia de um clube nado e criado para vencer.
Rush é, de resto, o melhor marcador de sempre na história dos «reds». 346 golos explicam tudo. O avançado era um facínora nas áreas adversárias, egoísta como um goleador deve ser, propagandista na arte do remate de toda a forma e feitio.
«Souness convidou-me para jogar no Benfica»
25 anos depois, num golpe certeiro da ironia, Ian Rush passeia-se por Portugal. Tem casa há 15 anos na cidade do Porto e não vai falhar o jogo da próxima quinta-feira no Estádio da Luz. «O Benfica tem um lugar especial na minha carreira. Era uma das minhas vítimas favoritas», sublinha ao Maisfutebol, cheio de pressa. «Tenho muito sol para apanhar.»
A conversa é rápida. Rush tem a memória fresca e a língua solta. «Éramos uma equipa fortíssima. M elhores do que o ManUtd e o Arsenal, sem dúvida. Apostávamos forte na Europa e vencemos sempre o Benfica.» Sempre não, corrigimos. Na época 1984/85 os portugueses venceram por 1-0 na segunda-mão, embora tenham sido eliminados.
«Ah sim, o Bento fez uma grande exibição. Soube ontem, por um jornalista português, que faleceu há três anos. Ele era um gato voador. O [Carlos] Manuel, o Diamantino e o avançado [Nené] também jogavam muito bem. Esses tempos foram os melhores da minha vida.»
«O Di María é um descarado a jogar à bola»
E a vida não pára. O relógio bate compassadamente e nem damos pelo avançar pardacento dos anos. Rush é um saudosista assumido e um optimista. Reconhece que o Liverpool de hoje «não é a mesma coisa», mas vai avisando que há «um rapaz na frente» a marcar «muitos golos».
«O Fernando Torres está a jogar de uma forma fantástica. Não pára, movimenta-se muito, é forte e rápido. Parecido comigo? É. Só lhe falta o bigode», graceja o antigo internacional galês. O Benfica dos tempos modernos também não é «o monstro sagrado» de outrora, embora tenha haja «dois ou três jogadores» a entusiasmar Ian Rush.
«O Di María é um descarado a jogar à bola. Provoca e sabe que pode provocar porque tem muito futebol. Gosto muito do Saviola e do Aimar também. Toda a gente os conhece.»
Recorde alguns golos de Ian Rush: