3,5 mil milhões de euros. Um número assim tão largo nunca pode ser visto como um mero detalhe. É este, com base nas contas do Transfermarkt, conceituado site alemão de transferências e mercado, o custo total dos 20 plantéis que compõem a Liga espanhola 2016/2017, que arranca esta sexta-feira com dois desafios: Málaga-Osasuna, a partir das 19h45, e Deportivo-Eibar, às 21 horas.

Apesar da grandeza dos números (que supõem na prática que este será o campeonato espanhol mais caro de sempre), concentremo-nos antes na perspetiva de um campeonato tremendo que se avizinha no país de nuestros hermanos. À partida, e como tem sido habitual ao longo das últimas temporadas, surgem dois candidatos claros ao título: o atual detentor do título, Barcelona, e o vice-campeão Real Madrid. Numa segunda linha, a uma distância seguramente muito próxima, segue o Atlético de Madrid, campeão em 2014 e que lutou pelo último campeonato até à penúltima jornada.

O Barça entrou na pré-temporada um pouco mais tarde mas já conseguiu arrebatar o primeiro troféu da temporada, depois de ter batido o Sevilha na Supertaça, com duas vitórias claras (0-2 na primeira mão e 3-0 em Camp Nou, na segunda partida). As sensações deixadas por Messi e companhia foram desde já muito agradáveis, num conjunto que se viu ainda reforçado pelos internacionais franceses Samuel Umtiti (defesa central) e Lucas Digne (lateral-esquerdo) e pelos criativos André Gomes e Denis Suárez. Estruturada no 1-4-3-3 da praxe, a equipa orientada por Luis Enrique mantém a base que levou o técnico asturiano ao topo, não se perspetivando grandes perdas até ao fecho do mercado (embora a saída do guardião chileno Claudio Bravo para o Manchester City esteja ainda em equação…).

Do lado de lá da barricada, na capital, apresentam-se dois candidatos consistentes, quiçá prontos a acabar com as esperanças de tricampeonato para os lados da Catalunha. O Real Madrid, atual campeão da Europa, vice-campeão espanhol e recém-consagrado vencedor da Supertaça Europeia, mexeu muito pouco na estrutura base da temporada 2015/2016, tendo apenas recrutado o canterano Morata à Juventus e resgatado alguns emprestados como Fábio Coentrão ou Asensio. Com o novel bicampeão europeu (de clubes e seleções, bem entendido) Cristiano Ronaldo à cabeça, as ambições do conjunto orientado por Zinedine Zidane são enormes, bem à dimensão do estatuto do clube. A estrutura tática da equipa deverá alternar entre o 1-4-3-3 e o 1-4-4-2, dependendo do nível ou das características específicas do adversário que encontrar pela frente.

O Atlético de Madrid de Simeone é uma espécie de outsider com o qual todos contam. O 1-4-4-2 do técnico argentino parece inegociável, embora possam surgir as variantes 1-4-3-3, 1-4-2-3-1 ou 1-4-5-1 em determinadas circunstâncias específicas. Com dois reforços portugueses (Diogo Jota e André Moreira) e uma nova estrela proveniente do nosso campeonato (Nico Gaitán), o grande craque que chegou neste mercado acabou por ser o internacional francês Kévin Gameiro, ex-Sevilha. Uma ótima notícia para os colchoneros é, sem dúvida, a manutenção da base de sucesso dos últimos anos. Afigura-se mais um ano de luta intensa até ao final…

A Liga dos outros

Felizmente, o campeonato espanhol não se cinge a apenas três equipas, embora as restantes 17 saibam que terão (umas mais, outras menos) dificuldades para chegar ao topo. Em teoria, teremos uma disputa árdua pelo tão almejado quarto lugar, que dá acesso ao play-off da Champions. O quarto classificado da última temporada, Villarreal, e o tricampeão da Liga Europa, Sevilha, são considerados os candidatos maiores a essa posição.

Ainda que o submarino amarillo vive um período de dúvida, na sequência da partida abrupta do responsável máximo pela melhoria de jogo e de resultados nos últimos anos, o treinador Marcelino García Toral, e enredado numa difícil eliminatória de acesso à Liga milionária perante o Mónaco (tendo sido derrotado em casa na primeira mão). O Sevilha vive a «ilusión» da chegada do afamado Jorge Sampaoli, técnico que levou o Chile à glória no ano passado e que é conhecido por uma filosofia e um modelo de jogo ousados, que o levam a ser recorrentemente comparado ao maestro Loco Bielsa (assumida inspiração de Sampaoli, aliás). Porém, as derrotas nas Supertaças frente a Real Madrid e Barcelona denunciaram problemas vários na estrutura dos andaluzes, no fundo, dores de crescimento naturais para quem se dispõe a implementar um conceito muito específico num novo clube.

E se o Villarreal recrutou jogadores de craveira como Alexandre Pato, N´Diaye, Roberto Soriano ou Sansone, o Sevilha não ficou atrás, reforçando-se em todos os setores com jogadores que podem ser grandes revelações do campeonato espanhol nesta temporada (Franco Vázquez, Ben Yedder, Ganso ou Joaquín Correa), para não falar daqueles que já se iam destacando por terras hispanas, como Kranevitter ou Vietto.

Depois, e prontos a assumir um lugar europeu (e uma hipotética candidatura ao quarto lugar), estão emblemas como o Valência, Athletic Bilbao, Celta de Vigo e, eventualmente, novos contendores como o Málaga, Real Sociedad ou Espanhol.

Os valencianistas, reforçados por um Nani em alta depois da conquista do Euro 2016, procuram andar bem perto do vizinho Villarreal e do Sevilha, numa batalha que promete sangue, suor e lágrimas (evidentemente, para quem não alcançar os objetivos prometidos). O Athletic não se reforçou mas mantém os alicerces das últimas temporadas, incluindo o ativo mais importante de todos (o treinador Ernesto Valverde). Depois, temos um Celta a procurar minimizar a perda de um jogador tão relevante quanto Nolito (para o seu lugar contratou o dinamarquês Pione Sisto, possível revelação da temporada), um Málaga com um conjunto interessante de jogadores e um treinador experiente de volta às lides do futebol espanhol (Juande Ramos), uma Real Sociedad sempre competitiva (sobretudo em casa) e um Espanhol reforçado com dinheiro chinês, jogadores talentosos (José Antonio Reyes, Jurado, Pablo Piatti ou Léo Baptistão) e um treinador de mente aberta (Quique Sánchez Flores).

O reforçado Betis e o histórico Deportivo poderão também ter uma palavra a dizer na luta por um posicionamento na primeira metade da tabela, esperando-se que os restantes (com o entusiasmante Granada de Paco Jémez à cabeça) se vão digladiar por fazer um campeonato o mais tranquilo possível.

Os craques a seguir (além dos nomes mais óbvios)

Numa Liga na qual as figuras de proa continuam a ser as mesmas de sempre (Cristiano, Messi, Iniesta, Griezmann e companhia), podemos vir a encontrar algumas boas surpresas a nível individual ao longo da época.

Começando por Barcelona, será certamente interessante acompanhar o progresso do internacional francês Samuel Umtiti, central esquerdino, rápido, contundente e com capacidade de passe, embora ainda numa fase de adaptação a uma nova realidade. Outros dois jogadores a ter em conta, embora estes já viessem brilhando em Espanha, são André Gomes e Denis Suárez, ambos dotados tecnicamente e com potencial para se projetarem ao mais alto nível.

No Real Madrid, o nome poderá (e terá de) ser Marco Asensio. O esquerdino tem uma habilidade notável com bola, descobrindo as melhores linhas de passe de forma constante e revelando confiança no disparo à baliza contrária. Exímio condutor de jogo, pode muito bem tomar o relevo de jogadores como Isco ou James nas opções de Zinedine Zidane.

Já para os lados de Manzanares, e não sabendo se o talentoso Diogo Jota terá oportunidade de ficar no plantel de Simeone, este poderá ser o ano da afirmação definitiva do interessantíssimo central hispano-francês Lucas Hernández. Seguro, forte em termos posicionais e controla bem os movimentos dos atacantes rivais, podendo ainda atuar na lateral esquerda.

No restante, temos igualmente outros nomes muito interessantes a seguir: os reforços italianos do Villarreal, Soriano e Sansone, prometem acrescentar dinâmica e golo ao conjunto valenciano. No Sevilha, expectativas altas para ver o que irá fazer Sampaoli com um médio tão promissor como Kranevitter, elemento extremamente criterioso ao nível do passe e com uma capacidade tremenda para equilibrar a equipa no meio-campo. Em Bilbau, espera-se que este possa ser o ano da explosão definitiva da pérola Iñaki Williams, jogador mais excitante desde o aparecimento prematuro de Iker Muniain, assim como em Vigo se deseja que o potente Pione Sisto consiga fazer esquecer o internacional espanhol Nolito, que abalou para terras inglesas.

Atenção também à associação de talentos para os lados de San Sebastián (o goleador Juanmi e o virtuoso Oyarzabal prometem espetáculo em permanência), ao crescimento de Santi Mina no Mestalla, ao recente internacional espanhol Diego Llorente, central promissor a crescer em Málaga, aos entusiasmantes reforços ofensivos do Betis (Felipe Gutiérrez, Jonas Martin, Sanabria ou Zozulya) e também para os jovens talentos que prometem destacar-se nas formações que irão lutar pela manutenção, como Jeremie Boga e José Angulo no Granada, Gabriel no Leganés, Marko Livaja no Las Palmas, Theo Hernández no Alavés ou Jorge Meré no Sporting de Gijón.