8 de setembro de 2015, dia histórico para o futebol da Palestina. Pela primeira vez, a seleção nacional de futebol do país teve a possibilidade de jogar em território palestiniano numa partida de qualificação para o Campeonato do Mundo. 

Envolta num conflito de décadas com Israel, a luta da Palestina junto das organizações internacionais é longa e faz-se passo a passo. Primeiro foi o reconhecimento como Estado pela ONU, que aceitou depois o país como observador nas Nações Unidas. Desde 1998, a Palestina é também reconhecida pela FIFA, mas só em 2011 teve o primeiro jogo da seleção em casa, e desde esse ano não voltaram a realizar-se.
 
Agora mais uma página positiva foi escrita na história de um povo que tem tido um percurso tão conturbado. O primeiro jogo de qualificação para um Campeonato do Mundo disputado na Palestina foi uma festa. O resultado foi um empate, mas foi o que menos interessou aos milhares de pessoas que enfrentaram um enorme engarrafamento, tiveram que andar três quilómetros e enfrentaram uma tempestade de areia para chegar ao Estádio Faisal al Huseini, perto de Jerusalém.
 
Javier Cohene, jogador do Altético, e central da seleção palestiniana, conta ao Maisfutebol o ambiente que viveu neste jogo histórico. «Desde que chegamos, a euforia era enorme. Eles adoram futebol», começa por explicar o jogador que nasceu no Paraguai, mas se naturalizou palestiniano.
 
«No dia do jogo, foi espetacular. Impossível não gostar do ambiente que nos deram. Foi uma festa antes e depois do jogo. O estádio cheio, bandeiras, o colorido, as pessoas a cantar o jogo todo...», relata. E foram vários os jogadores que não conseguiram conter as lágrimas quando o hino tocou.
 


O estádio estava a abarrotar com cerca 13 mil pessoas no recinto, apesar de uma tempestade de areia ter assolado a zona. Com uma afluência tão grande gerou-se também um engarrafamento enorme entre o checkpoint israelita de Qalandia e o estádio, por isso, muitos foram o que deixaram o carro e seguiram três quilómetros a pé.
 
Em campo, os jogadores queriam corresponder à energia dos adeptos. «Pena o resultado não ter favorecido, porque fizemos tudo para ganhar», diz Javier Cohene, lembrando que o empate acabou por não ser mau de todo. «O Emirados Árabes Unidos vinha de golear a Malásia por 10-0. É uma boa seleção, mas nós fizemos muito para ganhar, e as pessoas também estavam contentes por isso».
 
Hossam al-Khatib, que viajou 70 quilómetros para assistir ao jogo, explicou à AFP o sentimento que todos partilhavam. «Apesar das condições de vida, da ocupação, de tudo o que os palestinianos vivem, é uma enorme alegria ver a nossa seleção chegar tão longe».
 
«Na nossa história houve momentos em que nos disseram que não existíamos, que não tínhamos direito a ser um Estado e hoje somos reconhecidos internacionalmente e podemos disputar um jogo de qualificação na Palestina», afirmou Xavier Abu Eid, porta-voz da Organização para a Libertação da Palestina, à EFE.

Famílias inteiras fizeram do jogo um momento de festa, de alegria, mostrando que o futebol é muito mais do que apenas o resultado final do marcador.