Se ainda não teve oportunidade de reparar, faça-o agora. Repare no homem que está ao lado de Pep Guardiola, à sua esquerda, quando o treinador espanhol do Bayern exibe o espanto pela beleza de mais um lance de génio de Lionel Messi.



As imagens percorreram o mundo através da transmissão televisiva do Barcelona-Manchester City da Liga dos Campeões na quarta-feira. E propagaram-se pelas horas seguintes pelas redes sociais em inúmeras repetições.

O treinador do Bayer Munique voltou às bancadas do estádio do seu clube, quando se está a falar do coração. Acabou ator dos momentos que a tecnologia da atualidade não deixa passar despercebidos. À sua esquerda está Manuel Estiarte, um seu amigo. Amigos há mais de 20 anos, Pep e Manel são agora inseparáveis; na vida e no trabalho.

E quem é Manuel Estiarte, para além de um dos melhores jogadores de polo aquático de sempre – porventura, o melhor? É, como diz o título (e já foi enunciado antes), o anjo da guarda de Pep Guardiola. É o seu inseparável amigo e fiel parceiro no trabalho. É o homem que trabalha na sombra, desconhecido para muitos (nas suas funções), mas com quem Guardiola faz questão de dividir a responsabilidade do seu caminho.

Pep e Manel conheceram-se quando Guardiola ganhou a sua primeira liga. Estiarte também é de Barcelona e conta que se encontraram quando Guardiola ganhou a primeira liga espanhola pelos blaugrana. «Quando acabou o jogo quis conhecer Pep» e no meio da festa e do champanhe do título felicitaram-se. Nos Jogos Olímpicos Barcelona 92 ambos integraram a comitiva espanhola e ficaram amigos, verdadeiros amigos, eles e as famílias, pelos anos que vieram.

Assim contou Manuel Estiarte na reportagem da «Cuatro» em 2009 sob o tal mote «Quem é o anjo da guarda de Guardiola.



A amizade, a parceria, esta como se viu na quarta-feira nas bancadas do Camp Nou. Se em 2001, Estiarte foi uma das caras ao lado de Guardiola quando este enfrentou as acusações de doping, quando já estava em Itália, no Brescia, a sua presença manteve-se também na carreira de treinador do seu amigo.

Entre julho de 2008 e junho de 2012, o antigo jogador de polo aquático (hoje com 53 anos) esteve no Barcelona como diretor de relações exteriores. E como assessor do corpo técnico da equipa principal. São os quatro anos em que Pep Guardiola ganhou 14 títulos como treinador do provavelmente melhor Barça de sempre.

Como se viu, no prólogo da biografia de Manel, «Todos mis hermanos», Pep escreveu «Desconheço se existem anjos da guarda. Mas se existem acredito que tu és um deles».
«Ele exagera sempre», ouviu-se também Manel comentar. Mas Pep sabe o que quer dizer quando fala do seu amigo: «Nós os treinadores estamos muito sozinhos e o que queremos ao nosso lado é fidelidade (...) pessoas em quem podemos acreditar e confiar. O Manel sempre foi isso: fidelidade. Além do muito que me ajuda, do trabalho concreto que faz, da quantidade de coisas que faz por mim, coisas que me chateiam ou cansam de que ele trata, (...) no Manel tenho alguém em quem apoiar-me nos momentos maus e de dúvida.»

As palavras de Guardiola estão na biografia «Herr Pep», escrita por Martí Perarnau (na edição castelhana da Córner). Manuel Estiarte participou em seis olimpíadas entre 1980 e 2000, foi sete vezes seguidas eleito o melhor jogador do mundo (entre 1986 e 1992). Foi capitão da seleção espanhola durante 20 anos, teve 578 internacionalizações e fez 1.561 golos. Foi
Membro do Comité Olímpico Internacional entre 2000 e 2006.

Conhecido como «Maradona da água» ou «Michael Jordan da água», Estiarte ganhou a prata olímpica em Barcelona em 1992. Perarnau explica que o génio do polo aquático imparável a marcar golos mudou, no entanto, maneira individual de jogar em troca do coletivo para chegar ao ouro que lhe faltava a si e que a Espanha não conseguiu ganhar em casa. Em 1996 – por sinal, já quando era amigo de Guardiola – deixou de ser o melhor marcador, mas a Espanha foi campeã olímpica; e mundial, logo a seguir.



Manuel Estiarte retirou-se em 2000 e deixou a ribalta desportiva para tornar-se mais discreto, quer na parte diretiva, quer como a inseparável sombra protetora de Guardiola, o jogador que se pautava acima de tudo a jogar para o sucesso da equipa. A união entre as maneiras de ser de ambos trouxe resultados que, atualmente, colocam Guardiola entre os melhores do mundo à frente de uma das melhores equipas do mundo – como já aconteceu em Barcelona.

Na biografia, Pep revela um pouco desse sucesso: «Ele foi o melhor no seu desporto e tem uma intuição especial. O Manel tem essa intuição para saber se vamos bem, se perdemos o pulso, se tens o balneário contigo, se há uma fuga de água, coisas desse tipo... Só se pode saber isto com uma intuição especial que sabe ler olhares e gestos. E o Manel tem isso. (...) Os demais desportistas fazem-no de maneira mecânica; os verdadeiramente bons possuem esse extra intuitivo para sobressair.»

Manel é o conselheiro que cada vez filtra mais o que só interessa transmitir a Pep, o homem caracterizado por ter «fidelidade absoluta e que tendo sido o que foi, o Maradona da água, é capaz de trabalhar como ninguém sem ter em conta a transcendência do que está a fazer.» Na sombra da estrela do futebol, Manuel Estiarte também é conhecido por si, nomeadamente como convidado para palestras, mesmo que sejam para apresentar «O método Guardiola», onde aborda três temas centrais: 1) liderança, motivação e respeito; 2) dar tudo pela equipa; 3) sobre a tomada de decisões.

Quanto à vida individual deste fiel anjo da guarda, as garantias são de qualidade, a recordar o seu palmarés:

Pela Espanha:
Campeão Olímpico: Atlanta 1996
Vice-campeão Olímpico: Barcelona 1992
Campeão do Mundo: Perth 1998
Vice-campeão do Mundo: Perth 1991; Roma 1994
Bronze na Taça do Mundo: Duisburgo 1985; Barcelona 1991; Sidnei 1999
Vice-campeão da Europa: Atenas 1991
Bronze no Europeu: Sheffield 1993
Por clubes:
2 Taças dos Campeões Europeus
4 Supertaças Europeias
9 Ligas
11 Taças
3 Supertaças
Distinções:
Grã-Cruz da Real Ordem de Mérito Desportivo 1996
Prémio Príncipe das Astúrias dos Desportos 2001