Sim, este foi o fim de semana em que Cristiano Ronaldo assinou a segunda manita da carreira, e cobrou com juros o maior jejum goleador dos últimos cinco anos, tornando-se o melhor marcador com a camisola do Real Madrid na história da Liga espanhola.

Sim, este foi o fim de semana em que Messi voltou a começar um jogo no banco – o que não lhe acontecia desde janeiro – antes de, com um golpe de magia, resolver um clássico de alta voltagem no Calderón dando a liderança isolada ao Barcelona.

E sim, este foi também o fim de semana em que o Chelsea, de José Mourinho, entrou em estado de alerta total, com a lesão de Courtois a antecipar a terceira derrota em cinco jogos e o pior início de temporada dos «blues» desde 1988. Mas, sejamos sinceros: sendo quase sempre possível contar a história do fim de semana com os protagonistas habituais, vale bem a pena abrir um bocadinho os hoizontes à procura de protagonistas menos óbvios. E neste fim de semana de futebol internacional não houve falta de escolhas. Aqui ficam sete exemplos.



I heanacho
O Manchester City tem talento, tem opções, tem (muito) dinheiro e, como se isso não bastasse, tem também estrelinha. Neste sábado, ela chegou sob a forma de um golo nos descontos, apontado por um herói improvável. Se o seu primeiro impulso à menção do nome Keleshi Iheanacho é perguntar «quem?», não se inquiete: não está sozinho. O adolescente nigeriano, de apenas 18 anos, contratado em 2014 à Academia Taye, do seu país, estava no sítio certo à hora certa para, com pouco mais de cinco minutos de Premier League nas pernas, fazer o que o lesionado Aguero, o apagado Bony ou o inadaptado De Bruyne não tinham conseguido. Com cinco vitórias seguidas, os concorrentes diretos a cinco pontos ou mais, e jokers destes a sair da manga na altura certa, este começa a parecer um ano bom para os homens de Manuel Pellegrini.



Naismith
O fim de semana foi rico em suplentes decisivos, mas nenhum levou a palma a Steven Naismith. Dois dias antes de completar 29 anos, o internacional escocês do Everton saiu do banco mais cedo do que esperava – logo aos 9 minutos, por lesão de Besic – e só precisou de mais 13 para infernizar a vida à irreconhecível defesa do campeão Chelsea: um golo de cabeça aos 17, e outro de pé esquerdo aos 22. Para completar o hat-trick perfeito, saiu mais um de pé direito aos 83, aniquilando uma reação dos visitantes alimentada com o golo de Matic. Há muito tempo que um só jogador não fazia tanto mal a Mourinho e companhia. Muito menos começando o jogo no banco...



Martial
Não houve duas sem três, no que se refere a suplentes em estado de graça. Que o diga Anthony Martial, o nome mais badalado no fecho de mercado, por força do rótulo 50/80 milhões que lhe foi colado às costas, e que o próprio Van Gaal considerou «ridículo». Ridículo ou não, o jovem francês assinou uma estreia de sonho, saindo do banco para, na sua primeira ação relevante, marcar o terceiro e decisivo golo dos «red devils» no clássico com o Liverpool. E não foi um golo qualquer, já que o slalom entre as pernas da defesa visitante e a conclusão em arco a bater Mignolet teve qualquer coisa de Thierry Henry, a comparação mais vezes feita a seu respeito. Mas, claro, Martial só estará perto de justificar os ridículos 50/80 milhões quando acumular dezenas de golos destes, em nome próprio. Para já, teve um grande começo. Falta tudo o resto, que é bem mais difícil.

Claudio Ranieri
Eis se não quando, uma carreira de treinador que parecia em queda livre, depois de sucessivos falhanços em equipas de primeiro plano – Juventus, Roma, Inter, Mónaco, seleção da Grécia – reiventa-se na Premier League. O segundo lugar isolado do Leicester, ao fim de cinco jornadas sem derrota, não será para durar, por certo, mas já lhe vale o estatuto de equipa sensação na Liga. A vitória deste domingo, sobre o Aston Villa, teve contornos épicos, com a recuperação de 0-2 para 3-2 nos 20 minutos finais. E a melhor sequência da história do clube – nove jornadas sem perder, contando com as últimas quatro da época passada - é um belo sinal de vitalidade por parte de um treinador de 63 anos e que, de há muito tempo a esta parte, parecia ter perdido o dom de motivar os seus jogadores.



Jaume Domenech
Outro «quem?» a juntar à lista. O terceiro guarda-redes do Valencia, que aos 24 anos, após um percurso em equipas B, ainda não tinha conseguido o batismo na Liga, foi chamado a tapar as vagas de Diego Alves e Matthew Ryan e assinou uma daquelas exibições de sonho na vitória por 1-0 sobre o Gijón. Para além da tripla intervenção que foram segurando o zero na sua baliza, fica na memória a forma emocionada como celebrou no final do jogo, por entre as felicitações dos colegas. A renovação de contrato, anunciada neste domingo, é o happy end para uma história de filme.

Aubameyang
O adeus de Jürgen Klopp, depois de uma temporada dececionante, sugeria um difícil virar de página no percurso fascinante do Borussia Dortmund das últimas temporadas. A herança era pesada, mas os primeiros jogos da era Thomas Tuchel – outro gigante, jovem e ambicioso, como o Klopp nos primeiros tempos - dificilmente poderiam ser mais entusiasmantes. Para além das nove vitórias oficiais desde 30 de julho, a enxurrada de golos (34, quase à média de quatro por jogo) tem um rosto: o gabonês Aubameyang, que já soma nove neste in+icio de temporada, e cujo bis, em Hannover, permitiu aos amarelos manter a liderança da Bunesliga. Partilhada com o Bayern, é certo, mas – até ver - com nota artística muito mais elevada, como é modadizer-se por cá.

Guarín

Não é que isto



Seja propriamente uma novidade para os adeptos portugueses, habituados que estavam à eficácia de remate de Freddy Guarín, na passagem pelo FC Porto. Mas o grande golo com que o colombiano decidiu o dérbi da Madonnina dá corpo a um excelente início de época do Inter, que à terceira jornada se vê isolado na liderança da Série A, só com vitórias. A caminhada ainda é longa para os homens de Mancini. Mas golos destes, e os sinais de crise que vão chegando de Turim, deixam pensar que talvez este ano a Série A não tenha um guião tão previsível como vem sendo hábito.