O Reino Unido não quer ficar “metade fora e metade dentro” da União Europeia. Esta foi uma das principais ideias deixadas por Theresa May, esta terça-feira, num discurso sobre o Brexit, durante o qual anunciou que o país quer abandonar o mercado único europeu e recuperar o controlo pleno das fronteiras. O acordo será sujeito a votação no parlamento britânico.

A líder britânica deixou claro que não pretende alcançar um modelo de acordo entre o Reino Unido e a União Europeia semelhante ao que já existe noutros países. Isto porque não quer que o Reino Unido fique “metade dentro e metade fora” da UE. May quer um novo acordo para uma Grã-Bretanha "independente, autogovernada e global". 

“Queremos continuar a ser parceiros de confiança, aliados e amigos próximos. Queremos continuar a comprar os vossos bens, a vender-vos os nossos, a fazer trocas comercias da forma mais livre possível.”

“Queremos um novo acordo – entre uma Grã-Bretanha independente, autogovernada e global e os nossos amigos e aliados da União Europeia. Não queremos ser membros de forma parcial, membros associados ou algo que nos deixe metade dentro e metade fora da União Europeia. Não queremos um modelo que já vigore noutros países”, sublinhou a líder britânica.

Seis meses depois de ter tomado posse, Theresa May abriu finalmente o jogo e explicou, pela primeira vez, o que pretende das negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia – ela que, até aqui, sempre foi muito vaga sobre as suas ideias para o Brexit e muito criticada por isso.

Na Lancaster House, uma mansão do ministério dos Negócios Estrangeiros, e perante uma audiência que incluiu os diplomatas europeus e a equipa destacada para negociar o Brexit, May afirmou que quer conseguir um acordo que atinja 12 objetivos essenciais.

Sair do mercado único

Os planos do governo britânico incluem abandonar o mercado único europeu. A decisão, que já tinha sido avançada por vários órgãos de comunicação ingleses, foi esta terça-feira confirmada pela primeira-ministra.

Para May, o raciocínio é simples: se os britânicos continuassem membros do mercado único, isso não seria abandonar realmente a UE. Assim, o objetivo é conseguir um "novo e arrojado" acordo comercial, que garanta "o melhor acesso possível ao mercado único, numa relação de reciprocidade".

"Não queremos a adesão ao mercado único, mas o melhor acesso possível ao mercado único."

A líder britânica lembrou que, ao sair do mercado único, o Reino Unido deixará de ter de pagar grandes somas de dinheiro à UE, admitindo apenas pequenos pagamentos para o acesso a programas económicos específicos.

Controlar a imigração

Por outro lado, com este acordo o Reino Unido pretende recuperar o controlo pleno das fronteiras e, consequentemente, o controlo do fenómeno da imigração. 

May referiu que o país tem registado elevados níveis de imigração e que, como secretária de Estado, aprendeu que não é possível controlar a imigração, permitindo a livre circulação de pessoas oriundas de países europeus.

A primeira-ministra procurou, no entanto, descansar os cidadãos que vivem no Reino Unido e os britânicos que vivem em países europeus, destacando que uma das prioridades do governo será assegurar os direitos destas pessoas o mais rapidamente possível.

A líder britânica começou este muito aguardado discurso, destacando que o Brexit não representa uma rejeição dos valores europeus, lembrando que o Reino Unido é um dos países mais multiculturais da Europa.

O momento representa uma oportunidade para a Grã-Bretanha se tornar num país “mais forte, mais justo e mais unido do que antes”, vincou.

May anunciou que o acordo será sujeito à votação das duas câmaras do parlamento. Como explica o The Guardian, os deputados votaram para que o governo avançasse com o Brexit e, nestas próximas votações, o parlamento também deverá respeitar o voto popular, que no referendo de 23 de junho, ditou a saída do Reino Unido da União Europeia.