As grandes ligas vão ter «caras» estranhas em 2017/18. O Huddersfield em Inglaterra regressa ao primeiro escalão ao fim de 45 anos, o Brighton and Hove Albion depois de 34 fora do topo. Em Espanha, os catalães do Girona vão estrear-se na liga e também em França o Amiens vai, pela primeira vez na História, disputar a Ligue 1.

Não há, porém, na Europa das grandes ligas, quem bata a Serie A. Os italianos vão ter um estreante, depois de o Benevento ter garantido a promoção nesta quinta-feira e ter-se juntado à SPAL, que já não disputa o primeiro escalão desde 1967/68.

Dois perfeitos desconhecidos que vão entrar no mesmo campeonato daquela que é a maior dinastia nacional, do momento, nas cinco grandes ligas: a da Juventus.

Dois emblemas pelos quais passaram um Bola de Ouro, um treinador campeão europeu e um antigo técnico do Sporting. Ah, para além de um finalista da Liga dos Campeões...desta época.

O clube do senhor padre foi fundado, refundado e rebatizado

Ferrara fica a menos de uma hora de Bolonha, na direção de Veneza e foi ali que, em 1907, um padre salesiano decidiu fundar o Circolo Ars e Labor. A ideia de Pietro Acerbis era criar um espaço que, conforme o nome indica, se dedicasse à prática artística e desportiva.

O futebol ficou para depois, porque o Circolo Ars e Labor deu primazia ao atletismo e ao ciclismo. Em 1913, a separação da paróquia originou o primeiro rebatismo. A partir daí, a entidade teria o nome de Società Polisportiva Ars et Labor.

Ainda assim, a parte futebolística do clube era referida como Associazione Calcio Ferrara, um nome que perdurou até ao final da primeira Guerra Mundial…e depois voltou atrás, para voltar para a frente. Confuso? Pois, sim. Simplificando: durante as duas Grandes Guerras, o clube foi AC Ferrara, depois delas foi SPAL.

Entre uma coisa e outra, também mudou as cores do equipamento: o original azul passou a preto, com o branco presente nas duas versões.

Fabio Capello, Luis Suárez e Massimiliano Allegri

Os anos 50 e 60 são os melhores do clube, com presenças no primeiro escalão e um quinto posto no final de 1959/60. É neste período que surge o nome maior nome associado à SPAL: Fabio Capello.

O treinador campeão europeu pelo Milan formou-se jogador no clube de Ferrara, antes de mudar-se para Roma, Juventus e Milan.

O outro nome grande da SPAL é Luis Suárez. O espanhol, Bola de Ouro em 1960, orientou os biancoazzurri nas últimas jornadas do campeonato 1976/77. Não impediu a queda na Serie C, porém.

Depois de 1967/68, a SPAL passou a vida nos escalões inferiores do Calcio e em 2004/05 um tal de Massimiliano Allegri chega para tentar tirar o clube da Serie C. Não consegue e em 2005 o clube entra em falência e tem, mais uma vez, de refundar-se: passou a ser, também a Spal 1907.

Acontece o mesmo em 2012, ano em que o edil de Ferrara decide pedir ajuda para o clube. Aliás, a autarquia tem peso significativo na SPAL porque foi através dela que se negociou a fusão com o Giacomense.

São dois clubes num só, portanto, que chegam à Serie A. Fazem-no depois de terem ganhado a Lega Pro numa época e a Serie B na outra. Duas subidas consecutivas, que vão colocar a SPAL frente a frente a um dos seus antigos treinadores e que agora é o homem do leme da equipa mais poderosa do país.

As bruxas da Serie A e o nome Sporting

Se Ferrara fica a norte, Benevento é ali ao lado de Nápoles e o clube da cidade também não se livrou de confusões com nomes, falências e outras coisas do género. Afinal, os giallorrossi vivem na «cidade das bruxas», como é conhecida Benevento, devido aos rituais pagãos dos Lombardos na zona.

Nascido em 1929, o clube do sul de Itália chegou aos campeonatos nacionais na primeira década. O primeiro treinador estrangeiro do clube, o húngaro Armand Halmos, guiou a equipa numa primeira temporada de sucesso, ainda que muito longe do topo do futebol italiano.

Aliás, a vida do Benevento foi quase toda assim. Até que Puscas marcou o golo mais importante da História do clube. Um futebolista cujo nome (apesar do C em vez do K) é maior do que o emblema que representa e que, por decisão dos adeptos, um dia, se quis chamar Sporting.

Puscas estava emprestado pelo Inter e tornou-se herói em Benevento

Em 1990, já depois de ter sido orientado por Giuseppe Materazzi, técnico que passou por Alvalade, os responsáveis do Benevento pediram uma consulta popular, realizada através de chamadas telefónicas, para saber que nome os adeptos gostariam de dar ao emblema da cidade. A escolha recaiu em Sporting Benevento, com o FC antes. FC Sporting Benevento.

A viver um período financeiro dificílimo, o Benevento procura apoios, mas a decisão é de se criar uma nova empresa. É essa que usará o nome Sporting, mas pouco tempo depois a federação italiana tomou uma decisão que afetou sobremaneira várias equipas no país, Benevento incluído.

A entidade que rege o Calcio resolveu, ao contrário do que fizera desde sempre, negar que o título desportivo de uma equipa passasse para outra da mesma cidade. O Benevento ia desaparecer do mapa futebolístico, como tantos outros emblemas.

Ora, como se percebe, a História encarregou-se do Benevento que chega agora ao topo do futebol italiano.