Quando pensamos em clubes paulistas, temos quase sempre a tendência de nos lembrarmos do Palmeiras, do Corinthians, o São Paulo ou o Santos.

Mas SP, como no Brasil se diz sobre o estado de São Paulo, tem emblemas de características muito diferentes, provenientes de localidades bem distintas.

Um desses clubes, pouco conhecido e com uma dimensão modesta, é o Ituano. Fundado em 1947, terá nos próximos dia 6 e 13 de abril dois dos seus momentos mais altos, com as presenças na final (a duas mãos) do estadual paulista, frente ao superfavorito Santos.

Surpresa total

Ninguém esperava
: a chegada do Ituano à decisão do título do Paulistão é a surpresa da época de estaduais no Brasil.

Basta dizer que, no início do estadual, a perspetiva do próprio líder da claque da «Galoucura», claque do Ituano, era que... «a equipa baixasse à série A2 do Campeonato Paulista», confessou Felipe Bueno, citado pelo «Globo Esporte». 

«Nem a gente acreditava», assumiu Bueno. «O Juninho está fazendo um trabalho muito bom, não tem do que reclamar. Quando ele chegou o clube não tinha nada, hoje tem categorias de base e está montando um centro de treinamento. Além disso, a união dos jogadores faz a diferença».

Tendo em conta o elevado grau de exigência das claques dos clubes brasileiros, esta aprovação do líder da «Galoucura» ao trabalho do presidente do clube ( Juninho Paulista, antigo internacional brasileiro), diz tudo sobre o clima de festa que se vive no «rubro-negro» de Itu...  

O percurso histórico do modesto Ituano começou logo na fase de grupos. Ganhou «de virada» ao Ponte Preta no primeiro jogo (estava a perder 0-1, ganhou 3-1) e ficou à frente do «tubarão» Corinthians, vencendo também o São Paulo.

Na meia-final, surpreendeu tudo e todos, ao eliminar o Palmeiras, equipa que apostava forte no título estadual, em ano de regresso à Série A do Brasileirão.

VEJA O TRIUNFO DO ITUANO SOBRE O PALMEIRAS:



Aposta certa em Doriva

Doriva, antigo médio do FC Porto no final dos anos 90, é o treinador do Ituano. Esta é já a quarta época como técnico do clube, mas apenas a segunda como treinador principal, depois de ter passado pelas camadas jovens e pela função de adjunto.

E as coisas não poderiam estar a correr melhor: «Foi uma alegria muito grande para todos, esta chegada à final. Sinceramente, não esperava no início do ano que isto acontecesse, mas em função da qualidade que a equipa vinha demonstrando, comecei a achar que era possível», observou Doriva, em conversa com a Maisfutebol Total.

Para recordar momentos e memórias da passagem de Doriva pelo FC Porto na década de 90, leia este «Destino 90s» publicado quarta-feira na MF Total.

Plantel pequeno

Doriva destaca o facto do Ituano ter «um plantel pequeno, com 23 jogadores de linha mais três guarda-redes, mas muito equilibrado e bem preparado».

O técnico do Galo de Itu elogia, à Maisfutebol Total, o «empenho e a entrega dos jogadores» que «nunca se atemorizaram com o nome dos adversários, nesta caminhada vitoriosa até à final».

Juninho Paulista, o presidente

O presidente do Ituano é Juninho Paulista. Antigo internacional brasileiro (representou o escrete por 50 vezes, entre 1995 e 2003), fez parte da equipa pentacampeã do Mundo, em 2002, embora não fosse titular do esquema de Scolari.

Médio virtuoso, de estatura baixa (1,67 metros) mas com uma técnica típica de futebolista brasileiro, Juninho é produto do clube de Itu: começou e acabou a carreira de jogador no Ituano.

Pelo meio, representou alguns dos maiores emblemas brasileiros: jogou no São Paulo, no Vasco, Flamengo e Palmeiras. E brilhou em Inglaterra, no Middlesbrough, onde atuou com Doriva, que agora escolheu para treinador do clube a que preside.

Depois de ter também passado por Escócia (Celtic), Espanha (At. Madrid) e até Austrália (Sydney), Juninho Paulista decidiu pôr fim à carreira de jogador, há quatro anos, já com 37 e três anos depois de uma primeira decisão de arrumar as botas, quando militava no Flamengo.

O pós-carreira de futebolista foi dedicado ao clube do seu coração.

Santos é favorito, mas…

Depois do triunfo histórico do seu Ituano sobre o Palmeiras, e da consequente passagem à final do estadual, Juninho Paulista passou a estar, por momentos, de novo na ribalta das atenções mediáticas no Brasil.

Convidado do popular programa televisivo «Bem, Amigos», Juninho Paulista destacou os méritos do Galo de Itu em disputar a final do estadual, contra o Santos, no Pacaembu, nos dias 6 e 13 de abril: «Não é comum times considerados pequenos participarem de finais de campeonatos, ainda mais com quatro grandes clubes em São Paulo. O que me deixou mais feliz no jogo contra o Palmeiras foi que o Ituano ganhou merecendo. Isso que é gostoso. Não foi uma sorte de uma bola parada, ou o Palmeiras martelar e não conseguir fazer o golo. O Ituano jogou. Ficar na retranca me deixava nervoso, e o Doriva os manda ir para frente, nada de só defender…»

Favorito para a final? O Santos, claro. Mas Juninho assume o sonho: «Para ganhar de time grande tem de segurar bem o primeiro tempo, não fazer golo logo para não cutucar a onça. Depois tem de segurar o ímpeto dos primeiros 20 minutos do segundo tempo, aí sim vai começar a ter brecha. Os jogadores vão começar a largar a posição, o zagueiro vai se lançar ao ataque».

O sucesso de 2002, história diferente

Se o Ituano levar ao limite a surpresa neste
Paulistão 2014, e derrotar o Santos no somatório das duas finais, não será a primeira vez que obtém um título estadual paulista.

Isto porque em 2002 o Galo do Itu conseguiu o seu único título estadual. Mas em contexto competitivo completamente diferente: nesse ano, os «quatro grandes» paulistas participaram, na mesma altura, no Torneio Rio-São Paulo, abdicando dos estaduais.

Desta vez, o feito do simpático clube do interior de SP é bem maior. Juninho Paulista e Doriva já entraram na história do «rubro-negro» Ituano.