FC Porto-Sevilha, quartos-de-final da Liga Europa. Portugueses, espanhóis e colombianos de olhos postos no Estádio do Dragão e no Sanchez Pizjuán. Os cafeteros querem encontar o herdeiro de Radamel Falcao e os dois principais candidatos entram em confronto: Jackson Martínez e Carlos Bacca.

Radamel Falcao, referência ofensiva da seleção da Colômbia, procura desafiar as probabilidades para recuperar a tempo do Campeonato do Mundo de 2014. Jose Pekerman não sabe se poderá contar com o avançado do Mónaco e analisa as restantes opções. O técnico argentino deverá ser mais um espectador atento destes confrontos.

Jackson Martínez marcou 25 golos em 43 jogos, Carlos Bacca apresenta um registo ligeiramente inferior: 42 jogos, 19 golos. O principal foco de perigo no Sevilha tem demonstrado a sua qualidade na temporada de estreia no futebol espanhol.

O dragão parece levar vantagem (tem mais internacionalizações, maior experiência em grandes competições, mais golos marcados na presente temporada) mas o rendimento de Bacca em La Liga está a deixar os colombianos entusiasmados. A 23 de março, por exemplo, bisou e garantiu a vitória frente ao Real Madrid.

No apuramento para o Mundial de 2014, Radamel Falcao e Teófilo Gutiérrez foram os avançados mais utlizados, enquanto Jackson participou em sete encontros e Carlos Bacca em apenas três. Zero golos para ambos.

Mas quem é, afinal, o homem que fez esquecer Alvaro Negredo após a saída do espanhol para o Manchester City? 


De revisor em autocarros a goleador em Bruges

Carlos Arturo Bacca Ahumada tem os mesmos 27 anos que Jackson Martínez. Porém, se o avançado do FC Porto demorou a chegar a um nível alto de rendimento, o atual homem-golo do Sevilha correu mesmo o risco de passar ao lado da carreira profissional.

Nascido em Puerto Colombia a 8 de setembro de 1986, Bacca não teve vida fácil e viu-se obrigado a trabalhar para ajudar a família. Vendeu peixe na rua e, com 20 anos, chegou a revisor na linha de autocarros que ligava a sua cidade a Barranquilla.

Em 2007, andava pela segunda divisão colombiana e deu um passo em falso. Foi para o segundo escalão do futebol venezuelano, aceitando um convite do Minervén. Ameaçava desaparecer do mapa. «Quando comecei a carreira tive alguns momentos de má conduta, cometi erros graves, mas Deus afastou-me do mal.»

O seu rumo só muda aos 23 anos. A 1 de março de 2009, faz a sua estreia na primeira divisão da Colômbia com a camisola do Atlético Junior de Barranquilla. Dois golos no primeiro jogo afastaram as dúvidas.

Carlos Bacca não parou de marcar e rumou à Europa no início de 2012. O Club Brugge pagou dois milhões de euros pelo seu passe. Após três golos em dez jogos, nos primeiros meses na Bélgica, o colombiano atingiu o impressionante registo de 28 golos em 44 jogos, ao longo da época 2012/13. Porém, Jackson fez melhor (43 jogos, 31 golos). 



A memória de cinco duelos em solo colombiano

26 de agosto de 2009. O primeiro de cinco duelos entre Jackson Martínez e Carlos Bacca em solo colombiano. Cha Cha Cha viria a assinar pelo Jaguares do México no final desse ano.

O Atlético Junior recebeu e venceu o Independiente Medellín por 2-1, na primeira mão da segunda fase da Taça. Teófilo Gutiérrez (provável titular no Mundial) e Carlos Bacca marcaram os golos da equipa da casa. Jackson saltou do banco ao intervalo mas não conseguiu evitar o desaire.

No jogo de Medellín, o Independiente anulou a desvantagem (1-0) mas caiu no desempate por castigos máximos.

A equipa de Jackson Martínez seria mais feliz no campeonato. A 4 de outubro, o atual ponta-de-lança do FC Porto marcou o único golo do encontro frente ao Atlético Júnior.



Bacca e Jackson avançaram para as meias-finais da prova. A 26 de novembro, empate a zero sem os dois jogadores. A 10 de dezembro, o duelo mais marcante: vitória do Independiente de Medellin em Barranquilla (1-2). Carlos Bacca foi expulso na reta final do encontro e o Independiente viria a conquistar o título nacional na final frente ao Atlético Huila.

«Jackson Martínez tem outro potencial»

Jackson Martínez abandonou a Colômbia no final de 2009. Terminou o ano como vencedor do Torneo Finalización e máximo goleador local, atraindo o interesse do Jaguares de Chiapas. Três anos mais tarde, rumou à Europa para vestir a camisola do FC Porto.

Carlos Bacca cresceu a partir dessa altura. Assumiu-se como goleador do Atlético Júnior de Barranquilla e assinou pelo Club Brugge em janeiro de 2012. Após época e meia no futebol belga, foi contratado pelo Sevilha a troco de sete milhões de euros.

Bruno Carvalho chegou à Bélgica na mesma altura que Bacca. O jogador português foi acompanhando a evolução do colombiano.

«Ele chegou na mesma altura que eu, teve uma adaptação boa ao futebol belga e conseguiu ser uma peça fundamental do Club Brugge, sendo mesmo o melhor marcador do campeonato na época 2012/13. É um matador nato, que está no sítio certo para finalizar mas também consegue ser um ótimo apoio para a equipa na forma como segura a bola e joga de costas para a baliza», começa por dizer, à Maisfutebol Total.

O médio luso - que passou por Royal Antuérpia, KSK Heist e está agora no Berchem Sport – elogia Bacca mas considera que Jackson está num patamar superior. «Em minha opinião o Jackson Martínez tem outro potencial. É um jogador forte fisicamente, com muita presença na área e que consegue de um momento para o outro desequilibrar o jogo. Penso que Bacca precisa de ter um jogo mais trabalhado e apoiado para finalizar. Penso que Jackson vai ser mais feliz neste duelo.»

A Colômbia estará a olhar para o embate entre FC Porto e Sevilha, Jackson Martínez e Carlos Bacca.

Bruno Carvalho acredita que Falcao estará no Mundial mas não tem dúvidas em eleger o potencial herdeiro do seu lugar. «Acredito que o Falcao vai recuperar a tempo do Mundial, mas teremos de saber em que condições. Se não conseguir, acredito que Jackson irá ter vantagem. Ainda faltam três meses, vamos ver o que acontece até lá», remata o português.