Jorge Jesus esteve quase três horas no Departamento de Investigação e Acção Penal, a ser interrogado no âmbito do processo relativo aos incidentes do final do V. Guimarães-Benfica, quando decidiu intervir junto da ação dos agentes policiais e da segurança privada que lidavam com um adepto que tinha invadido o relvado.

O interrogatório estava marcado para as 10 horas, mas o técnico apresentou-se no Campus de Justiça por volta das 11h10, acompanhado pelo advogado, Carlos do Paulo, e três funcionários do Benfica (dois deles da segurança).

Jesus começou por recusar responder aos jornalistas, mas quando questionado se estava nervoso, o técnico reagiu. «Nervoso estarei quando jogar com o Braga. Isto não me enerva nada», limitou-se a dizer, a propósito do próximo compromisso das «águias», para a Liga.

Quase três horas depois, pelas 13h50, o técnico deixava o Edifício C do Campus de Justiça. Sem querer prestar declarações à comunicação social, que conversou então com o seu representante legal.

«Correu muito bem. Ficámos satisfeitos. Esclarecemos o que havia para esclarecer, na visão do meu constituinte. Agora desejamos que a justiça faça o seu caminho, que será com despacho de arquivamento ou de acusação», começou por dizer Carlos do Paulo, adiantando ainda que Jesus «estava calmo, pois não tem receio de ser interrogado», referindo-se ao técnico como «um homem de bem, honrado, sem antecedentes criminais», que «entende que nada tem a temer».

Um processo único

O advogado de Jorge Jesus defendeu ainda que o processo «é único» pois os factos «são do domínio público» e «há uma prova documental enormíssima». « É um processo excecional. Não conheço na jurisprudência, nem há memória em Portugal, de um processo com factos que, possam ou não ser crime, tenham sido transmitidos em direto por um canal televisivo e depois repetidos até à exaustão», explicou. « Qualquer pessoa que tenha visto as imagens já emitiu um juízo.  Compete ao tribunal, consoante a declaração do ofendido, do arguido e das testemunhas, dar o seu veredito », acrescentou Carlos do Paulo.

O advogado reconheceu, por isso, que «o segredo de justiça é discutível», embora ele persista nesta fase de inquérito, motivo pelo qual se recusou a adiantar pormenores do interrogatório.

Carlos do Paulo acredita, no entanto, que o desfecho «vai ser célere» e «um bom exemplo para a justiça». «Tudo aconteceu a 22 de setembro e já se ouviu o arguido e várias testemunhas. Penso que vai ser rápido, mas os magistrados demoram o tempo que entenderem. Depende também das investigações, inclusive as consequentes dos depoimentos», explicou.

Questionado se a justiça desportiva estaria à espera da decisão judicial para atuar, o advogado respondeu que os processos «são autónomos e independentes». «Isso será uma matéria de foro estritamente desportivo. Só se entretanto surgisse uma decisão judicial, que não será assim tão célere, e o Conselho de Disciplina entendesse que havia algo grave, mas não me parece que exista relevância ou ligação», afirmou.

Carlos do Paulo manifestou ainda a convicção de que a mediatização do processo não vai influenciar a decisão de levar o caso a julgamento ou ordenar o arquivamento.

«A justiça deve ser isenta e imparcial. Ele tem uma notoriedade muito grande, mas isso só reforça obrigações, não lhe dá mais direitos. Acredito que os magistrados não vão dar um tratamento diferente ao caso por ser alguém com notoriedade. Há uma cautela muito grande em relação ao processo, pela mediatização, e não nos devemos esquecer disso, mas quanto ao resto acredito que os factos serão analisados objetivamente», afirmou.