Apaixonados, amadores e artistas. Os três «A» que definem os All Blacks. E não falamos da famosa selecção de râguebi da Nova Zelândia. Porque começa a abrir-se espaço para uns novos All Blacks. Os portugueses. Que, menos famosos mas igualmente combativos, começam a dar cartas no desporto amador em Portugal.

As semelhanças entre as duas equipas resumem-se, praticamente, ao equipamento. É que os All Blacks portugueses são uma equipa de futsal totalmente amadora. Pode-se acrescentar, orgulhosamente amadora. Nasceram no seio da Câmara Municipal do Porto e daí partiram para a conquista de títulos.

O nome, um dos aspectos mais curiosos da peculiar equipa, foi de fácil resolução. No primeiro jogo que realizaram, em Dezembro de 2005, então de futebol 11, decidiram que equipariam com camisola preta para se distinguirem dos adversários. Como no grupo havia apaixonados por râguebi, a associação aos All Blacks neo-zelandeses foi imediata. O encontro de estreia acabou por correr muito bem. Vitória por 5-1 e uma ideia lançada: «Vamos formar uma equipa!»

«Escolhemos o futsal porque, em termos de quantidade de jogadores, era muito mais fácil para nós. Se conseguíssemos dez homens, tínhamos a equipa feita», explica Luís Pinho, um dos elementos da equipa, ao Maisfutebol.

A aventura começou bem e o caminho tem sido trilhado pelo passeio do sucesso. Na segunda temporada que disputaram (2007/08) já havia títulos ganhos. A Liga Elite de futsal , do Porto, uma das mais importantes a nível nacional no futsal amador foi ganha em dois anos consecutivos, tal como a Taça e a Supertaça. Na Liga Empresarial são tri-campeões.

«Temos a raça dos All Blacks originais»

Afinal de contas, o que distingue esta equipa de qualquer outra? «Podemos não ter muito mais a ver com os All Blacks originais do que a cor do equipamento, mas temos a raça que eles mostram em campo. Isso tem feito a diferença», afirma Luís Pinho.

O grupo nunca encetou um contacto com a equipa homónima, mas é algo que passa pelos horizontes da direcção: «Chegamos a andar pelo site deles e a preparar um texto de apresentação, para nos darmos a conhecer, mas nunca aconteceu. Vamos pensar nisso.»

Caso não o façam, arriscam-se a ver a notícia chegar por outros meios. É que os All Blacks lusos já são internacionais! Já este ano, a equipa representou Portugal na «Plate Cup Betfair», um campeonato do Mundo, entre 16 selecções amadoras, que decorreu no mítico estádio Old Trafford, casa do Manchester United. A experiência não podia ser melhor: os All Blacks, agora, representando Portugal, venceram o torneio. No mês passado estiveram em Morrovalle, Itália, num torneio de 32 equipas, ganho pelo KMF Leotar, da Bósnia, equipa que participou na Taça UEFA de futsal.

Na hora de fazer contas...preferem manter-se amadores

As experiências sucedem-se, o grupo vai subindo patamares, mas há um que não ousa pisar. O amadorismo do clube é para manter. «Já pensamos algumas vezes subir um degrau, mas, quando começamos a fazer contas, preferimos manter-nos amadores. Não conseguimos mais. Entre formar uma associação, alugueres de pavilhão, árbitros e todos esses assuntos, seria preciso seis, sete mil euros. Não temos esse dinheiro», recorda Luís Pinho.

Assim, os All Blacks portugueses continuam a ser uma equipa de funcionários do Gabinete do Munícipe da Câmara Municipal do Porto. Mas não é exclusiva. Acolhem no plantel outros elementos. No ano passado, por exemplo, Heverton, antigo profissional brasileiro de futebol onze, ajudou às conquistas do grupo.

Então e o «haka», a típica dança intimidatória dos All Blacks originais? É mais um caso a pensar, garantem. «Por brincadeira já falamos nisso, mas nunca arriscamos, nem nos treinos. É uma ideia que está em cima da mesa. Temos de treinar», atira Luís Pinho, entre risos.