Já lhe chamam a maldição de Piotr Malachowski mas é, na verdade, uma história de encantar, daquelas que fazem dos Jogos Olímpicos um acontecimento de facto único no desporto.

O superfavorito lançador de disco polaco, campeão mundial, entrou para a última ronda com uma vantagem generosa sobre os restantes competidores e nas bancadas do Engenhão os adeptos já faziam a festa pela quase certa conquista da medalha de ouro na modalidade.

O cenário da festa estava montado mas Malachowski não quis festejar antes do tempo. De soslaio deitou o olhar sobre um jovem rapaz que carregava com ele um disco, mas não era um rapaz qualquer.

Era Christoph, assim se chamava o atleta. O apelido era melhor nem lembrar.

Harting…

Quando ouviu ecoar este nome na aparelhagem sonora, Piotr ainda se arrepiou. Em 2009, nos Mundiais, o polaco havia sido remetido para o segundo lugar por um tal de Robert, também ele Harting de nome, o mais velho dos irmãos.

O lançador de disco germânico era outro dos favoritos à conquista do ouro, mas a final fora tão dramática que Piotr ainda não se esquecera. No último lançamento o polaco viu o disco do germânico voar mais longe e também o ouro voar-lhe das mãos.

Em 2013 a história repetiu-se. De novo o ouro para Robert.

Respirou fundo. Desta vez Robert Harting estava na bancada, nem sequer se tinha apurado para as finais, em virtude de um apuramento pouco conseguido. Esteve dois anos afastado das competições por lesão e as costas acabaram por traí-lo no Rio.

Era a vez do mano mais novo. Até então tinha ficado sempre atrás do inspirado Malachowski, que conseguiu até melhorar a marca pessoal no último lançamento, 67.55 metros.

Christoph Harting respirou fundo, balançou, rodou sobre si com pujança e lançou com todas as forças que estavam à mão, soltando um grito de raiva.

O disco saiu disparado como um tiro de canhão e pousou quase um metro depois da marca do polaco. 68.37 metros, havia passado para a frente. Que loucura.

O irmão aplaudiu da bancada e Malachowski nem queria acreditar. Teve mais uma oportunidade para resgatar o ouro mas não conseguiu, ficando apenas com a prata.

Cristoph Harting, estreante nestas andanças, havia derrotado o superfavorito polaco na final e arrecadado o ouro olímpico, repetindo então o feito que o irmão Robert tinha alcançado também em Londres.

Uma final dramática para Malachowski, um momento de infortúnio, uma maldição.

Daniel Jasinki, também ele alemão, arrecadou o bronze, com a marca de 67.05 metros.

O ouro olímpico ficou em casa, literalmente, e os Harting voltaram a sorrir.

Um conto de fadas chamado Jogos Olímpicos.