Jordânia e Uruguai estão separados por 64 lugares do ranking FIFA: os asiáticos são 70º; os sul-americanos são 6º. Aos jordanos ninguém conhece uma estrela da seleção de futebol. Os uruguaios não só são bem conhecidos como temidos especialmente pela dupla atacante de renome mundial: Edinson Cavani e Luis Suárez.

A Jordânia sofreu 16 golos na última fase de grupos de qualificação – atrás de Japão e Austrália, mas que ainda resultou no play-off regional com o Uzbequistão. O uruguaio Suárez, com sete golos, foi o melhor marcador da zona sul-americana de qualificação para o Mundial 2014, não obstante a seleção celeste apenas ter conseguido o quinto lugar que só dá acesso ao play-off intercontinental.

E há várias outras coisas que afastam as duas seleções antes de se defrontarem – nesta quarta-feira – no primeiro dos dois últimos atos que decidirão a qualificação para o Brasil. As apostas, por exemplo, atestam essa disparidade entre probabilidades na média dos 11 para 1 quanto ao triunfo jordano. Os próprios discursos dos protagonistas refletem a partir de dentro como o jogo é visto de fora. «Nada é impossível no futebol e temos o direito de sonhar», afirmou o centro-campista jordano Baha Suleiman. «Nós temos de ter cuidado», disse Suárez.

Nunca se foi tão longe

Os uruguaios jogam quase todos na Europa e apresentam jogadores que aliam a qualidade à experiência como Lugano, Maxi Pereira, Fucile, Cáceres, Álvaro Pereira, Crístian Rodríguez, Diego Pérez, ou os já referidos Suárez e Cavani, a quem se junta também por exemplo Diego Forlán. Na Jordânia isso não acontece. Não há estrelas mundiais. E nem todas as estrelas locais vão poder ajudar a sua seleção. A começar pelo guarda-redes Amer Sabbah, que vai cumprir castigo.

E o selecionador da Jordânia, o egípcio Hossam Hassam, também não vai poder contar com os defesas Mohammad al-Dmeiri e Anas Bani Yaseen, bem como o médio ofensivo Abdul Fattah. Todas estas contrariedades – a que se juntou por opção prescindir do capitão Amer deeb – não desviam, porém, o que está para acontecer neste play-off de apuramento para o Campeonato do Mundo. A Jordânia vai disputar (primeiro na sua capital Amã, depois na capital uruguaia, Montevideu) o jogo mais importante da sua história.

Nunca a Jordânia esteve tão perto de um Mundial. E a meio dessa caminhada, a federação jordana substituiu o selecionador iraquiano Adnan Hamad pelo egípcio Hossam Hassan, antes do play-off com o Uzbequistão. «Houve altos e baixo» disse o presidente da federação jordana e vice-presidente da FIFA, Princípe Ali Bin Al Hussein, sobre o percurso de Hamad justificando que os baixos levaram a fazer mudanças: «Perdemos todos os jogos fora.» E decidiram dar «uma oportunidade a um jovem [47 anos] de conseguir deixar uma marca na futebol».

E depois dos dois empates com o Uzbequistão (ultrapassados com 9-8 nos penáltis), os jordanos também ainda não perderam. Em quatro jogos particulares (três em casa e um no Qatar), a Jordânia empatou dois e venceu outros dois – um deles frente à Nigéria. A Jordânia está como nunca esteve.

Qualidades e desvantagens jordanas

Nelo Vingada analisa este «feito fantástico» que é chegar ao play-off intercontinental com o Uruguai, mas admite que «não deixa de ser uma surpresa». O treinador português foi selecionador nacional da Jordânia entre 2007 e 2008 e conta ao Maisfutebol como criou «as bases para uma seleção» que «em 2008 estava a precisar de uma renovação».

O técnico português destaca o trabalho do seu sucessor pelo que o iraquiano Hamad fez por essa «renovação», mas também não sugere ilusões quanto à força de cada um dos dois lados da barricada. «A qualidade individual entre a Jordânia e o Uruguai é diferente. O Uruguai tem uma ataque com jogadores como Cavani, Suárez... É em dois jogos e será difícil. Mais do que se fosse só num. Mas o Uzbequistão também era mais forte do que a Jordânia...»

Nelo Vingada explica que «a Jordânia é uma equipa perigosa no contra-ataque» e «é um adversário incómodo», que «tem jogadores rápidos na frente», onde se destaca o avançado Ahmad Ibrahim, mas também Abdullah Dee Salim e Odai Al-Saify. Mas Vingada lembra também que a «contrariedade» da ausência do guarda-redes Amer Sabbah, «um dos melhores da equipa», pode ter muita importância logo nesta primeira mão em Amã.

Para o segundo jogo deste play-off, no dia 20, Nelo Vingada ainda antevê mais dificuldades, a começar logo pela viagem da Jordânia para o Uruguai. O treinador português nota que «os jogadores jordanos jogam em clubes do seu país» e vão ter problemas com o «jet lag». Já para esta primeira mão, os uruguaios beneficiam do facto de que a maioria dos convocados de Óscar Tabárez «jogam na Europa» – como acontece com Maxi Pereira, que saiu de Portugal para se juntar ao estágio da sua seleção logo na Turquia.

O primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, o xeque Mohammed Bin Rashi Al-Maktoum até já fretou um avião particular para transportar a seleção da Jordânia para a América do Sul com o maior conforto possível. Mas entre tantas distâncias no futebol destes dois países, Nelo Vingada também joga entre os factos – «os jordanos não têm o poder de encaixe que tem o Uruguai» – e o sonho motivado pelo desejo: «O meu coração vai estar a torcer pela Jordânia, mas vai ser muito difícil.»