O Bahrain é um país de profundos contrastes. O deserto; desolador, imponente, ditatorial. Os poços de petróleo; austeros, essenciais para a vitalidade da economia. As minas de diamantes; caprichosas, voláteis. E algumas das mais luxuriantes cidades do Golfo Pérsico.
Em busca do «direito adquirido»
A capital chama-se Manama e é ali que vive e trabalha o português José Garrido. Técnico do Al-Riffa, um dos mais importantes clubes do país, lidera autoritário o campeonato nacional. Os resultados obtidos por este português no Médio Oriente captaram a atenção do Maisfutebol. A entrevista foi feita em mais uma noite enfeitiçada pelo calor.
«Tudo está a correr bem. Estamos no primeiro lugar e temos em breve o derby com o outro clube da zona de Riffa», avisa de entrada José Garrido, perfeitamente adaptado a uma região do planeta muitas vezes olhada com preconceito pelos ocidentais.
Uma noite de fado para árabe ver (e ouvir)
«O país é fantástico, totalmente seguro. Posso esquecer-me da carteira em algum lado e sei que ninguém lhe toca. Há que perceber a postura deste povo árabe perante a vida. São pessoas muito afectuosas.»
Bahrain: um país que ganha terreno ao mar
Em Portugal os estudos indicam uma realidade preocupante: o mar ganha todos os anos cerca de dez metros à terra. No Bahrain tudo funciona ao contrário. O Homem anseia crescer, ampliar a obra e avança em direcção ao mar. As construções, «maravilhosas, bem parecidas com o Dubai», deixam tudo e todos perplexos.
«Há muito dinheiro. O turismo é uma fonte de receita apreciável, como é o petróleo também. O Bahrain é governado por um rei, que por acaso até é tio do presidente do meu clube. Mas tenho sorte em trabalhar com ele. Tem 32 anos, percebe de futebol e não é inconstante como a maior parte dos dirigentes de cá, que despedem os treinadores com uma facilidade impressionante.»
Feliz no Bahrain, José Garrido deixa apenas um alerta. «Conduzir aqui não é fácil. Ao volante eles são muito perigosos», refere, sorridente, o treinador português, cada vez mais respeitado numa ilha encravada entre a Arábia Saudita e o Qatar. Em construção está aquela que será a ponte mais longa do mundo e que ligará o Bahrain ao segundo desses países. O investimento não cessa.
Polícias e militares camuflados de futebolistas profissionais
Apesar da luxúria irradiante que o cerca, os dias de José Garrido são vividos sem pressa. Vai ao ginásio, almoça, prepara os treinos que começam ao final da tarde e às 21 horas está em casa. A ligação a Portugal é feita pela internet e pela RTP Internacional. Os bons resultados camuflam a saudade e a dificuldade em lidar com o amadorismo reinante.
«Os meus jogadores acordam às seis/sete da manhã, vão trabalhar o dia todo e descansam um pouco antes do treino. Tenho polícias, militares, operários de empresas de petróleo¿ Apesar desta realidade, oficialmente são olhados como futebolistas profissionais. Enfim, sou eu que me tenho de adaptar a eles e não o contrário.»
A comunicação com o plantel é feita por um tradutor, mas Garrido até já consegue arranhar a língua árabe. «Estou nesta região há alguns anos. Já não me conseguem trair», declara, sempre bem disposto.