Parece uma daquelas ironias da vida. Se calhar até é mesmo. Um treinador com alcunha de marca de lâmpada não funcionou na Luz. Sim, a Luz, Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Sim, Heynckes, Jupp «Osram» Heynckes, o mais recente campeão da Bundesliga.

Já se sabe que este alemão nascido em Monchengladbach vai ser substituído por Pep Guardiola. Mas antes disso, Heynckes fez questão de devolver a Bundesliga ao gigante bávaro. Conseguiu-o mais ou menos da mesma forma que o espanhol construiu uma equipa vencedora em Barcelona: ADN local.

O ADN de um clube, de uma equipa, vai muito para além do país em que se nasceu. É, sobretudo, uma ideia. E uma ideia que o Bayern não pode ter é ficar dois anos consecutivos sem vencer o campeonato. Ser segundo não é opção. A temporada passada demonstrou-o. Heynckes foi vice no campeonato, vice na Taça e vice na Liga dos Campeões. Um perdedor? Longe disso.

O lamento de Uli Hoeness

Estamos a falar do treinador que devolveu a Champions ao Real Madrid, ao fim de 32 anos. Estamos a falar de alguém que na passagem da década de 80 para a de 90 conquistou dois campeonatos pelo Bayern Munique.

Heynckes levou um murro no estômago na época passada, mas como um campeão levantou-se e arrancou para a única solução possível: dar K.O ao rival Dortmund, na Liga. Feito.

Importante também é perceber como o fez. Com Heynckes, o Bayern já se tinha virado para dentro. «Osram» nunca foi jogador do clube, ao contrário de Hoeness ou Beckenbauer. Mas os títulos com o Monchengladbach, os golos pela seleção e o campeonato do mundo ao lado daquela geração fez com que fizesse parte da engrenagem bávara. É [quase] um deles, por assim dizer, apesar do despedimento em 1992, um dos maiores lamentos de Hoeness.

Ainda assim, Heynckes voltou à Baviera. Substituiu Klinsmann e depois partiu para Leverkusen. Perante um jovem Klopp ao leme do Dortmund, o Bayern chamou a experiência de «Osram» de volta. Não à marca que produz lâmpadas, mas ao homem que ganhou a alcunha da fábrica pela cara com que fica quando em situações de stress.

Na hora de comentar a chegada de Guardiola, Heynckes resumiu que o Bayern «joga um futebol de conceito», alicerçado nas várias décadas de domínio na Alemanha, e que é isso que Pep vai encontrar.

Campeão europeu que deixa o clube

Por isso mesmo, depois de uma época em que foram segundos em tudo, os bávaros viraram-se para a Bundesliga e reforçaram-se. Rejuvenesceram em posições-chave e foram a um antigo clube de Heynckes buscar o elemento que faltava: Javi Martinez.

Lisboa e Portugal são a exceção numa carreira de treinador feita na Alemanha e em Espanha. Depois do despedimento do Bayern Munique, Jupp Heynckes refugiou-se no País Basco. Um alemão a treinar o Athletic Bilbao, o clube com ADN mais definido da Europa, com certeza.

Uma qualificação europeia e o regresso à Alemanha (Eintracht Frankfurt), para nova viagem para Espanha (Tenerife) e que, de forma surpreendente, o levaria até Chamartin.

Chegou ao Real Madrid porque Fabio Capello partiu após ter sido campeão espanhol com uma equipa em que pontificavam Fernando Hierro, Redondo, Raul, Seedorf e Mijatovic.

Ao fim de 32 anos, o Real Madrid voltava a ser campeão europeu. E Heynckes deixava o clube [o seguinte seria o Benfica] por causa do quarto lugar no campeonato.

Ao fim de duas épocas no Bayern vai acontecer-lhe o mesmo. Devolveu a glória aos bávaros, para já na Bundesliga, e vai embora. Hesita anunciar a reforma, porém.

Antes disso, aos 67 anos, vai à luta por um novo título europeu. Afinal, «Osram» ainda tem energia. No Bayern, seguir-se-á Guardiola. E o trabalho de espanhol vai ser tão grande, quanto Heynckes conseguir no resto da temporada.