A distância acentua o orgulho. O chamamento das raízes é mais forte. Kimberly Brandão valoriza todos os dias o «ser português». Apesar de nascida e criada em New York, onde vive, a capitã da selecção nacional de futebol feminino é um exemplo perfeito da cidadania exercida com paixão.

Filha de um minhoto e de uma açoriana, a defesa central de 27 anos edificou uma carreira de luxo no soccer. O Maisfutebol foi conhecer melhor esta campeã nacional dos EUA, vencedora da Women's Professional Soccer (WPS) em 2011. Antes de mais, a declaração da dependência pela bandeira de Portugal. Com um simpático sotaque timbrado nas terras do Tio Sam.

«Sinto-me portuguesa e americana. Fifty-fifty. Mas cresci numa família profundamente portuguesa, rodeada de todas as tradições portuguesas ¿ a comida, a música, toda a cultura», conta ao nosso jornal, encantada por defender o seu «país de sangue».

«Foi uma surpresa chegar à selecção portuguesa. Não conhecia os procedimentos comuns neste tipo de situações. Sabia que tinha dupla nacionalidade e depois fui convidada. Tudo aconteceu muito depressa e de forma surpreendente.»

«Chorei na primeira vez que escutei o hino»

As visitas a Portugal ocorriam de forma espaçada. «Nas férias, de vez em quando», o pai Serafim e a mãe Ana faziam questão de mostrar «a terra onde nasceram» aos três filhos. Duas raparigas, um rapaz. Kimberly lembra-se de «um país lindo, muito verde e acolhedor».

«Os meus pais diziam que os nossos familiares tinham muito orgulho em ser portugueses. Talvez por isso sinta agora esse mesmo orgulho.» Um orgulho transformado em lágrimas. A melodia do hino nacional desmanchou Kimberly na primeira aparição pela selecção portuguesa. Irresistível.

«O meu primeiro jogo por Portugal foi na Dinamarca, diante de oito mil pessoas. Lembro-me de tudo. De entrar em campo, ficar ao lado das minhas colegas e depois de começar o hino. As lágrimas começaram a cair, não conseguia parar. Senti uma honra enorme.»

Curiosamente, Kim contou com um apoio decisivo na adaptação a estes novos hábitos. A integração foi feita lado a lado com a irmã Lisette, também ela internacional portuguesa. E qual delas será a melhor?

«Ela não está comigo agora, por isso vou responder que sou eu (risos). Se ela estivesse, diria que é ela. Mais a sério, jogámos várias vezes na mesma equipa e olho para ela como uma excelente futebolista. Eu sou defesa central, ela é lateral direito. É óptimo ter alguém ao nosso lado que nos conhece tão bem. É diferente tê-la a ela ou a outra pessoa qualquer», confessa Kimberly.

«Ir ao Mundial faria toda a diferença»

A internacional portuguesa representa os New York Flash no país de uma das principais potências planetárias do futebol feminino. Kimberly sabe que há «um longo caminho a percorrer» pela selecção de Portugal e acredita que uma presença no Campeonato do Mundo faria «toda a diferença».

«Isso seria decisivo. Teríamos, finalmente, o reconhecimento merecido. É uma questão de tempo até acontecer», regista Kim. E continua. «A federação portuguesa está a fazer um trabalho excelente connosco. Temos de melhorar o campeonato nacional feminino, chamar a atenção dos media, cativar mais futebolistas e fazer sentir ao país que existe uma equipa talentosa a representá-lo.»

Os elogios são distribuídos por todo o staff. «Aselecção é um grupo de indivíduos fantásticos, talentosos e apaixonados por futebol. Estamos todos unidos no mesmo objectivo: chegar o mais longe possível. A direcção, a seleccionadora Mónica Jorge e as minhas colegas são incríveis.»

Há um pedaço de soccer na selecção de Portugal. E uma herança de benfiquismo depositada pelo senhor Serafim nas duas filhas. «O meu pai adora futebol e jogou em Portugal quando era mais novo. Ele é benfiquista e fez de todos nós benfiquistas.»