O campeão sobreviveu num Mar revolto. Numa partida entre vizinhos, com história semelhante no campeonato, o F.C. Porto puxou dos galões e bateu um Leixões mais pobre de orçamento que o adversário, mas igual em alma. Os matosinhenses pecaram, porém, ao dar dois brindes a um rival com pedras preciosas no plantel. E isso fez toda a diferença, mesmo que Meireles e Farias tenham acabado por transformar a visita a Matosinhos num passeio para os portistas.
Havia 36 anos de história a contradizer a ambição do Leixões. Era esse o tempo que os matosinhenses não batiam o F.C. Porto em casa. Porém, a campanha da equipa esta temporada levava o adepto menos crente a ter fé numa vitória sobre o vizinho dragão. Num Mar que teve ondas sucessivas de emoção, o embate entre matosinhenses e portistas foi um espectáculo intenso, digno do cartaz que, diga-se, este Leixões proporciona na Liga.
Já se sabia que Jesualdo Ferreira não podia contar com Cristian Rodriguez, o melhor dragão no clássico com o Sporting e peça importante no tridente ofensivo do F.C. Porto. Mas o técnico preparou ainda outra surpresa. Não, não foi na lateral-direita, onde desta vez apareceu Tomás Costa, mas sim no ataque. Hulk era o único elemento que restava da habitual ofensiva: Farías e Mariano completaram a «forquilha».
Do outro lado, José Mota não desiludia. Assumia o jogo pelo jogo. E foi assim durante quase todo o primeiro tempo. A uma vaga azul e branca sucedia-se uma de vermelho. Ou seja, a bola andava perto das duas áreas, embora o F.C. Porto tivesse conseguido furar mais vezes o forte leixonense.
Até que tudo caiu por terra, ou pelo ar, para ser mais exacto. Hugo Morais desviou uma bola com a mão e levou Lucho para a marca de penalty. Frente a frente, o número oito pensador do F.C. Porto e Beto, um dos melhores, para muitos o melhor mesmo, guarda-redes do campeonato. Levou a melhor o capitão azul e branco e, com isso, os azuis assumiam uma vantagem preciosa na partida. O golo, ou melhor, a grande penalidade, deixou o Mar em estado de revolta, mas a decisão de Rui Costa pareceu, logo ali no estádio, acertada.
O campeão nacional saía para o descanso com um ponto e meio na algibeira. Faltavam jogar mais 45 minutos.
Hulk em mais uma corrida memorável
Quando se esperava que o Leixões voltasse com vontade ainda maior, puxado pelos adeptos, eis que Laranjeiro oferece o segundo brinde ao vizinho rico. Uma distracção do lateral deu terreno a Hulk para partir com a bola colada ao pé esquerdo e bater, após mais uma corrida fantástica, um desamparado Beto.
José Mota jogou a última cartada. Lançou Zé Manel por troca com Hugo Morais, mas estava fácil de prever que a espera de 36 anos ia durar um pouco mais. Era preciso o Leixões ter uma eficácia enorme perante uma das melhores defesas do campeonato. Os matosinhenses jogaram as fichas todas, Zé Manel desperdiçou de cabeça e Chumbinho ainda atirou ao lado. Mas nessa altura já os portistas estavam cientes de que a tempestade do primeiro tempo passara e chegaram, com tranquilidade, ao 3-0, por Raul Meireles.
O ambiente não acalmou, porém, mas os ânimos exaltados (quer na primeira, quer na segunda parte) nas bancadas perderam (se alguma vez têm sentido de existir) razão de ser. Farías ainda aumentou para 4-0, Diogo Valente reduziu perto do final, mas nessa altura, já o campeão subia o Douro de modo tranquilo e na frente das outras embarcações, pois esta vitória confirma o dragão como líder do campeonato por, pelo menos, mais uma semana.