Não haverá máxima mais cruel no futebol do que «jogar como nunca e perder como sempre».

O FC Porto, distintíssimo embaixador do futebol português na Europa, voltou a não escapar a este fado lusitano frente ao heavy metal de Klopp que agora dá o tom em Liverpool, mais habituada ao som dos reis da pop.

Esta noite, o sonho terminou ao minuto 26, quando o VAR validou o golo inicialmente anulado a Sadio Mané.

Daí em diante, o FC Porto precisava de marcar quatro para seguir em frente e encontrar-se com o Barcelona nas meias-finais da Liga dos Campeões.

Nem numa narrativa delirante como a de «Lucy In the Sky With Diamonds» tal parecia possível.

A propósito, antes do apito inicial, o Dragão engalanou-se com uma tarja gigante com os Beatles. John, Paul, George e Ringo como adeptos do FC Porto e uma mensagem: «Let’s make history».

Na verdade, a história acabou por ser a de sempre, apesar do preâmbulo ter prometido um desfecho mais feliz.

Se na época passada o FC Porto saiu do Dragão a gritar «Help!», vergado pela maior goleada caseira de sempre nas provas europeias, desta vez a equipa de Sérgio Conceição apareceu em campo como se estivesse embalada pelo ritmo de «We Can Work it Out», outro clássico dos «Fab Four».

FC Porto-Liverpool, 1-4: ficha e filme do jogo

Apesar da desvantagem de 2-0 trazida de Anfield, o campeão nacional apareceu destemido e pronto a lutar pela eliminatória.

Apresentou-se em 4-4-2, com Corona recuperado a surgir mais solto na frente no apoio a Marega (com Soares relegado para o banco). Por sua vez, Pepe e Herrera voltaram de castigo e foram titulares.

Do lado contrário, Firmino ficou no banco, substituído pelo inofensivo Origi, que trocou com Mané entre a esquerda e o centro no tridente atacante de Klopp.

O Dragão entrou em ebulição desde o primeiro minuto. Um jogo de futebol que pelo empolgamento do público mais parecia um concerto dos Beatles numa digressão pela América.

As oportunidades sucediam-se, mas o golo tardava, em boa parte devido ao desacerto de Marega. Para mais, quando era preciso, estava lá Alisson no papel de «guarda-Reds».

Até que, do lado contrário, a eficácia de Mané, servido por Salah, haveria de chegar para o golo Liverpool no primeiro lance de perigo dos ingleses.

Cruel, muito cruel.

O ímpeto inicial azul e branco haveria de esmorecer até ao final de uma primeira parte em que o FC Porto acabou a golear no número de remates: 15 contra dois (6-1 à baliza).

FC Porto-Liverpool, 1-4: destaques do jogo

No segundo tempo, trouxe não a mesma chama, mas alguns fogachos do Dragão. 

No entanto, com a eliminatória sob controlo, o Liverpool parecia adormecer os portistas como que na balada «Let it Be», até Salah aparecer isolado na cara Casillas e abanar o capacete como em «Twist and Shout».

2-0 para o Liverpool aos 65 e tal como a eliminatória também o jogo parecia arrumado.

Havia de aparecer Militão, três minutos depois, para fazer o único golo do FC Porto nestes dois jogos frente ao Liverpool (único em quatro jogos, contando com a época passada).

Tal como na primeira mão, o brasileiro, diga-se, foi o melhor portista, a par de Corona, enquanto este teve pernas para driblar e cruzar com perigo.

Fisicamente quebrado, o FC Porto sucumbiu não só à eficácia, mas também ao maior critério e intensidade mais constante dos ingleses, que nas transições ofensivas voltaram a ser letais, tal como Conceição avisara na véspera.

Os golos de Firmino e Van Dijk haveriam de ser castigo demasiado pesado para o quarto de hora final em que o Dragão, extenuado, deixou de lutar.

O duelo virou um «Hard Days Night» e o FC Porto acabou num «Hello, Goodbye» à Champions. 

Continua sem ganhar ao Liverpool (cinco derrotas e três empates) e pela primeira vez não venceu em casa num jogo desta edição da Champions (era a única equipa nesta fase que mantinha esse registo).

Ainda assim, mesmo vergada ao poderio de uma das melhores equipas do mundo, os campeões portugueses saem da elite do futebol europeu com 78 milhões no bolso (recorde de prémios arrecadados na Europa por equipas nacionais) e com a distinção de terem sido a melhor equipa das 32 na fase de grupos (16 pontos), além da épica eliminação da Roma nos oitavos.

Esta noite, o Dragão entrou à Beatle e saiu dos quartos com quatro do Liverpool.

Contudo, uma equipa portuguesa que chega às oito melhores do futebol europeu, bem pode encolher os ombros e, como em «Ob-la-di, Ob-la-da», sair do estádio a trautear «Life goes on».