Se calhar, é melhor ir acordando do sonho.

Isto do futebol tem muito que se lhe diga e nem sempre vence quem joga melhor. Ainda assim uma coisa é certa: só coração não chega, é preciso dar uns toques.

O Leicester foi ao Vicente Calderón na esperança de manter vivo o sonho de jogar na Liga dos Campeões, algo que nunca antes tinha acontecido na história do clube.

Mas esqueceram-se de uma coisa: do despertador.

FILME DO JOGO

Já se esperava uma entrada forte da equipa da casa, mas ninguém imaginaria o verdadeiro amasso levado a cabo pelos espanhóis. Bola no pé, trocas assertivas para a frente e para os lados, sempre em cima do adversário. Perda de bola era sinónimo de recuperação logo de seguida.

Ao mínimo espaço que encontrassem, a bola era de imediato colocada com perigo e deixava o jogador em zona de finalização. Um bailinho de bola, uma lição de bom futebol.

Assim foram os primeiros 20 minutos. Após esse período o Leicester foi espreitando a luz do dia, ainda muito a custo, porém suficiente para incomodar a defensiva colchonera.

A resposta dos ingleses foi interessante, mas mais uma vez ensonada, tanto que Griezmann conseguiu correr mais de meio campo e ganhar uma falta junto da grande área. O árbitro, ainda que na dúvida, apontou para a marca de grande penalidade.

Griezmann teve a frieza para anotar mais um golo na Champions e deu uma vantagem justa ao Atlético Madrid à entrada da meia hora de jogo (28’).

O golo despertou finalmente as raposas, que, a partir desse momento, conseguiram criar alguns calafrios lá na frente, mas as investidas foram quase sempre caçadas pela defesa madrilena.

Na segunda parte, o treinador do Leicester, que é Shakespeare de nome, quis por termo ao domínio quase dramático dos espanhóis e mexeu um pouco na estratégia da equipa. Se até então a aposta passava pelas saídas rápidas para o contragolpe, no segundo tempo os ingleses procuraram atacar de forma mais apoiada.

Okazaki deu lugar a King, Vardy trocou com Slimani mais à frente, mas a iniciativa de jogo continuou quase sempre do lado dos homens da casa.

Griezmann foi um verdadeiro diabo à solta no ataque colchonero, Torres até conseguiu escorregar quando estava na cara do segundo golo, enfim, só não marcaram porque…

…talvez tenham sido os deuses do futebol, como disse Ranieri, a propósito do título inglês conquistado na época transata.

O encontro manteve a mesma toada até ao final. O Atlético tentou fazer o segundo golo diversas vezes, mas a defensiva britânica esteve concentrada o suficiente para o ir adiando.

Vitória indiscutível do Atlético Madrid, porventura com números demasiado baixos. Caso o registo do jogo em Inglaterra seja o mesmo, fica difícil perceber de que forma pode o Leicester beliscar um adversário que provou ser claramente superior.

Ainda assim, é importante referir que as raposas já eliminaram uma equipa espanhola na eliminatória anterior (Sevilha), o que pode servir de motivação extra para o encontro no King Power Stadium.

Um resultado tremendamente mentiroso, mas que permite às raposas sonhar.

Convém é 'sair da toca' e não adormecer de novo.