Para começar, vale a pena sublinhar um dado: pela primeira vez numa carreira de oito anos, Pep Guardiola falhou o acesso às meias-finais da Liga dos Campeões.

Mais: esta época nem sequer chegou aos quartos de final.

Mérito de um enorme Mónaco, que se tornou histórico, portanto, e mérito também de um enorme Leonardo Jardim, que tornou esta eliminatória uma ode ao talento pessoal.

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O Mónaco preparou-se, de resto, para uma noite memorável. O Estádio Luis II, por exemplo, registou casa cheia, pela primeira vez em vinte anos. Cobriu-se de entusiasmo até às orelhas e empurrou a equipa para uma primeira parte para lá de fantástica.

Uma primeira parte de domínio absoluto, de ataque constante, de pressão sufocante e de golos. Dois: primeiro por Mbappé, após assistência de Bernardo Silva, depois por Fabinho, após assistência de Mendy. Pelo meio Mbappé ainda fez mais um golo, bem anulado, e o mesmo Mbappé e Germain desperdiçaram excelentes ocasiões de perigo.

No entanto, e para lá dos números, sobressai um domínio asfixiante, que não deixou o Manchester City sequer respirar.

A formação de Guardiola acabou a primeira parte sem fazer um único remate à baliza. Sintomático. Estar a perder apenas por 2-0 era uma excelente notícia para os ingleses, portanto.

Vale a pena lembrar ainda que o Mónaco não teve Falcao esta noite, por lesão, nem contou com Glick, o central habitualmente titular, por estar castigado.

Sensacional, pois claro.

Depois do atropelo ao Manchester City, de Guardiola, na primeira parte, o Mónaco caiu na segunda, é verdade. Mas levantou-se a tempo de ser memorável.

A formação inglesa entrou diferente na etapa complementar, a empurrar o Mónaco para a retaguarda e a ganhar todas as bolas divididas. A equipa de Jardim recuou, recuou e recuou, sofreu, sofreu e sofreu. Sofreu tanto que acabou por consentir um golo.

Já se adivinhava, aliás.

Primeiro Sterling tentou assistir Aguero quando tinha tudo para marcar, na cara de Subasic, depois Kun Aguero atirou por cima da barra quando tinha a baliza aberta e por fim o mesmo Aguero rematou na cara de Subasic para defesa do guarda-redes.

Já se adivinhava o golo, repete-se, que chegou aos 71 minutos por Sané.

Como tinha acontecido em Manchester, sentia-se que Leonardo Jardim demorava muito a mexer numa equipa que estava claramente em quebra. Mas desta vez tudo foi diferente.

Os vinte minutos finais foram loucos como na primeira mão, mas ao contrário da outra ocasião o jogo sorriu ao Mónaco. Culpa de Lemar, que fez um cruzamento impressionante, e de Bakayoko, que cabeceou como mandam as regras para o terceiro golo do Mónaco.

Logo a seguir entrou João Moutinho, o Mónaco ganhou posse de bola, ganhou capacidade de pressionar a meio-campo e não deixou o City voltar a ameaçar o golo até ao fim.

A formação francesa saiu desta forma a festejar, de uma grande eliminatória: nunca, até agora, duas equipas tinham marcado seis golos cada uma numa ronda da Champions.

Pelo caminho há a destacar Mbappé, claro, que se tornou o jogador mais jovem a marcar nos dois jogos da eliminatória da Liga dos Campeões, há a destacar Fabinho e Bakayoko (que grande meio-campo), há a destacar a precisão do pé esquerdo de Lemar e há a destacar a criatividade de um Bernardo Silva que vai seguramente chegar ao topo do futebol.

Mas há a destacar sobretudo a sagacidade de Leonardo Jardim.

Que memorável o que está a fazer. Que prazer ver jogar o Mónaco. Que grande trabalho numa equipa de miúdos.