Mourinho voltou a Stamford Bridge para recuperar um hábito muito dele: ser feliz em Londres. A noite esteve longe de ser perfeita, foi sofredora em alguns momentos, ansiosa na sua essência, paciente quase até ao fim. Mas destacou um Mourinho vencedor. Há coisas que teimam em não mudar, portanto.
A vitória teve muito de José Mourinho, aliás. O português foi mais italiano do que Carlo Ancelotti, fez um jogo táctico, diminuiu os espaços e introduziu agressividade. No fim contornou a tendência do Inter para cair em Inglaterra e conseguiu pela primeira vez em quatro épocas chegar aos quartos-de-final.
Confira a Ficha do jogo
O herói do jogo, porém, foi outro: Samuel Etoo. O camaronês fez aos 79 minutos o golo que arrumou um Chelsea que começava na altura a esboçar a reacção final à procura do golo. Como já tinha feito com a camisola do Barça, Etoo matou essa reacção. Na altura para mágoa de Mourinho, desta vez para felicidade do português.
Mais intenso do que espectacular...
O golo de Etoo veio de resto coroar o jogo superior do Inter. A formação italiana entrou melhor, tomou conta da posse de bola e definiu os ritmos do jogo. Fê-lo como mais lhe convinha, numa velocidade baixa, paciente, que arrefecesse os ânimos. Ora também por isso o jogo não foi espectacular, mas foi intenso.
É verdade que o Chelsea teve alturas de superioridade, sobretudo no início da segunda parte, durante dez minutos de pressão forte sobre a baliza de Júlio César, mas foi só mesmo isso. Um remate de Drogba e outro de Malouda obrigaram o guarda-redes brasileiro a trabalho atento, mantendo sempre o Inter na frente.
A equipa de Mourinho, recorde-se, trouxe uma vantagem de um golo (2-1) de Milão e jogou com ela. Não abdicou da profundidade ofensiva, sobretudo através dos passes de Sneijder (grande exibição!) a lançar os três avançados, mas acima de tudo quis mandar no jogo e tirar os espaços ao Chelsea para jogar à bola.
... como Mourinho tanto aprecia
Quando perdia a bola fazia Etoo e Pandev descer nas alas, subia a defesa e concentrava o jogo num espaço curto. O Chelsea encontrava dificuldades em jogar e não se empolgava. O jogo arrastou-se ao gosto de Mourinho: táctico, disputado, intenso e muito colectivo. Até polémico, em certas alturas.
Polémico por exemplo quando Ivanovic e Drogba foram agarrados dentro da área, em dois penaltis que ficaram por marcar a favor do Chelsea na primeira parte. Polémico também quando Drogba foi expulso por pisar Thiago Motta. Polémico até nos muitos amarelos de um jogo tão intenso. No banco Mourinho não parava quieto.
Ora por falar em banco, foi a partir daí que Ricardo Carvalho e Quaresma viram o jogo: o relvado não teve portugueses. Tal como não teve italianos, embora parecesse uma final para descobrir qual é a equipa mais italiana de todas. Ganhou o Inter, de Mourinho.
Ele que entrou em campo aplaudido pelos adeptos do Chelsea e saiu aclamado pelos do Inter. Adeptos que se fartaram de gritar «Jose Mourinho» com sotaque inglês. O português pouco quis saber: saiu mal terminou o jogo, alheio à enorme festa dos jogadores. Feliz por dentro, com certeza.