Acabou-se o sonho da Liga Europa em Alvalade. Acabou-se também o último objectivo concreto a que o Sporting podia aspirar este ano. O leão caiu de pé, vítima de vários handicaps e de uma entrada em cena totalmente falhada. O estado de graça ainda permitiu à equipa sair duas vezes do inferno, mas não derrubar a última parede que o separava da História.

A entrada em jogo foi demasiado emotiva, e isso favoreceu o At. Madrid. Havia demasiados factores a impedir que este fosse um jogo «normal». A começar pelas mudanças forçadas na defesa do Sporting, por força dos castigos da primeira mão. Mas não só. O clima detestável de guerra entre as claques, patente ao longo do dia, a exagerada cobrança a Simão e a ausência de última hora de Izmailov, por questões de disciplina interna, condicionavam a abordagem dos homens de Carvalhal, impedidos de repetir o festival de serenidade dado contra o Everton.

A esses handicaps há a juntar os talentos individuais do Atlético, a começar por esse fabuloso Kun Aguero, que continua a desperdiçar talento numa equipa que não o merece e logo aos 3 minutos aproveitou a sonolência defensiva dos leões para inclinar a eliminatória para Madrid.

Obrigado a perseguir dois golos, o Sporting demorou 10 minutos a respirar fundo e a assentar jogo. Com Saleiro a dar os primeiros sinais de revolta, o golo da esperança chegou na primeira oportunidade digna desse nome: excelente o cruzamento do jovem avançado na direita, felina a cabeçada de Liedson à queima-roupa, em antecipação a Perea. Afinal, a reviravolta era possível.

Possível, seria, mas nunca fácil. O segundo acto de um jogo em montanha russa chegou pouco depois da meia hora, com mais uma demonstração de classe de Aguero, cuja execução para o segundo golo é suficiente para definir um craque.

Vukcevic, o ponto de viragem

De estado de graça se falava nos últimos tempos em Alvalade, e com razão. Só uma equipa em estado de graça seria capaz de resistir a tantos sinais negativos, e prolongar a discussão da eliminatória depois daquele segundo duche gelado. Já depois de um livre de Reyes ter ameaçado pôr uma pedra sobre o assunto, com a bola a passar muito perto da trave, chegava a segunda dose de ânimo, num livre de Miguel Veloso penteado por Polga, fora do alcance de De Gea.

O intervalo chegava pouco depois, e a ovação aos jogadores do Sporting podia induzir em erro sobre qual a equipa em vantagem na eliminatória. Mas se o At. Madrid estava por cima no marcador, nenhuma dúvida de que o ascendente psicológico estava com a equipa que tinha sido capaz de ir duas vezes ao inferno e voltar com vida.

Os instantes iniciais do segundo tempo confirmaram-no: mais lúcido, menos febril, o Sporting teve a sua melhor fase do jogo. E passou perto do terceiro golo em duas ocasiões, com Saleiro a obrigar De Gea a grande defesa e Pereirinha a cabecear a centímetros do poste. Sentindo o empolgamento geral, Carvalhal dava um sinal de ambição, trocando Pedro Silva por Vukcevic e recuando Miguel Veloso para lateral.

Ambição a mais, ou demasiado prematura? O certo é que era quase impossível manter aquela intensidade durante muito mais tempo. E é certo, também, que a partir desse momento o Sporting perdeu coesão e passou a ver a baliza colchonera mais raramente. Um desvio de Liedson ao lado, após novo cruzamento de Saleiro na direita foi o mais perto do terceiro golo que se arranjou. Mas com um meio-campo mais espaçado e jogadores menos frescos, o leão foi afrouxando o sufoco ao Atlético, que tremia sempre que os seus centrais eram chamados a intervir, mas fazia tremer sempre que a bola chegava aos pés de Aguero.

Os minutos foram passando, e o jogo tornou-se menos empolgante. A confiança leonina diminuía a cada volta dos ponteiros do relógio e o encontro com a história, que se pressentia ao intervalo, ia ficando cada vez mais distante. Como se o leão tivesse esticado o estado de graça até ao limite e encontrasse uma definitiva parede.