*Por Rui Catalão

Alkmaar não é Amesterdão, mas só o facto de pôr os pés em solo holandês será quanto baste para alguns revisitarem memórias dolorosas da época passada. O Benfica regressa ao país que já lhe deu uma Taça dos Campeões Europeus (a segunda, em 1962, antes da maldição de Bela Guttman) e onde viu fugir a última Liga Europa. Já para não falar de outra final Taça dos Campeões Europeus, em 1988, perdida para o PSV (embora na Alemanha).

A desilusão serve de aprendizagem. E o Benfica tirou lições de tudo o que lhe aconteceu em Maio, do Porto a Amesterdão, dali até ao Jamor. De novo perante a hipótese de vencer campeonato, Liga Europa e Taça de Portugal (mais a Taça da Liga), a equipa de Jorge Jesus está obrigada a mostrar mais empenho, mais concentração. Reformulando: mais um pouco de tudo.

E é ainda um factor de motivação extra. Podemos até chamar-lhe vingança, por muito que não haja nenhuma figura externa que o Benfica possa culpar pelo seu próprio fracasso. Nos três casos, a vitória estivera ali mesmo pronta a colher. Portanto, nada mais havia a fazer além de olhar para dentro e analisar os erros.

O favoritismo total

Todos estes factores, aliados ao valor individual dos plantéis, fazem dos encarnados os grandes candidatos à passagem às meias-finais. É um encontro inédito com o AZ, frente ao qual a equipa portuguesa espera pôr fim a uma série de (sete) visitas a adversários holandeses sem vencer (duas derrotas e cinco empates). O mesmo é dizer que não vence neste país desde Fevereiro de 1969 (3-1 ao Ajax, nos quartos-de-final da Taça dos Campeões Europeus).

Apesar da fase adiantada da competição, é de esperar que Jorge Jesus continue a fazer mudanças no onze. Uma delas é mesmo forçada, dada o castigo de Enzo Pérez – Ruben Amorim deverá ocupar o lugar vago no meio-campo. Sobretudo nas alas, parece natural que o treinador troque algumas peças. Na ordem de prioridades, a conquista Liga continua bem lá no topo, acima de tudo o resto. E nem o conforto da vantagem de sete pontos sobre o Sporting altera isso.

Em Alkmaar o sentimento é de um favoritismo total do Benfica. Aron Jóhannsson, melhor marcador do AZ, revelou isso mesmo ao Maisfutebol. “Num dia bom, eles são uma das melhores equipas do mundo.”

A opinião é partilhada por outras figuras dentro do clube, bem como pelos jornalistas que acompanham mais de perto o trabalho do plantel de Dick Advocaat. Todos reconhecem que, para seguir em frente, são precisas duas noites terríveis do Benfica e duas exibições do AZ a roçar a perfeição.

Uma questão de (in)consistência

À luz do que tem sido o AZ quando joga fora, parece pouco provável que os holandeses acreditem em vencer a eliminatória sem um bom resultado na primeira mão. E nem em casa têm dominado. Apesar de não registarem qualquer derrota, os empates com o PAOK e o Slovan Liberec (1-1) e as vitórias magras e pouco convincentes sobre Shakhter (do Cazaquistão) e Anzhi, ambas por 1-0, também não inspiram grande confiança.

Já o Benfica, mesmo com alguns períodos de menor inspiração, tem mostrado ser capaz de se impor em deslocações difíceis, como foram aquelas a Londres para defrontar o Tottenham ou mais recentemente a Braga. No fundo, é tudo uma questão de consistência.

Para regressar a Lisboa com a eliminatória bem encaminhada, o Benfica nem tem de ser brilhante. Frente a um adversário com vários problemas para resolver – o último dos quais um aparente conflito entre Advocaat e Jóhannsson – um nível aceitável de competência será à partida mais do que suficiente.