A última Assembleia Geral da Liga foi mais um não-momento no futebol português. Antes de explicar a minha opinião, os factos.

Confrontado com a necessidade de incluir o Boavista na I Liga, em 2014/15, Mário Figueiredo, o presidente da Liga, aproveitou para tentar mudar o modelo do campeonato. Antes de chegar à reunião, pediu a uma empresa que estudasse diferentes modelos, levou-a a encontros com clubes, jornalistas e pessoas de diferentes setores do futebol português.

Como escrevi em outro artigo, antes de discutir modelos era preciso discutir o que está mal no futebol português. E o que está mal não tem a ver com o número de clubes profissionais. Quer dizer, não tem a ver só com isso.

Mário Figueiredo, pressionado pela obrigação de tomar uma decisão até 30 de junho, queimou etapas e por isso não surpreende a derrota que sofreu.

Creio que Mário Figueiredo assumiu a Liga com uma obsessão: centralizar os direitos televisivos. Tudo o que faz é para chegar a esse lugar.

Não acredito que Mário Figueiredo tenha o engenho, a arte e o poder para conseguir lá chegar. Eu sei que está a tentar por diferentes caminhos, da União Europeia à Concorrência, passando pela Assembleia da República. Mas não me parece que tenha feito a pergunta que devia anteceder todos esses passos: centralizar os direitos televisivos é bom?

O caminho parece ter provado ser bom em países poderosos, como Inglaterra ou Alemanha. A venda individualizada está a provocar danos em Espanha, por exemplo. E obviamente em Portugal só serviu para cavar o fosso entre os grandes e os outros.

Apesar de isto ser verdade, há várias questões a responder antes de avançar para a centralização de direitos. Eis algumas.

1. Como dividir o dinheiro? Liga e clubes precisariam de se pôr de acordo sobre a redistribuição. Duvido que seja um processo fácil, mas faria sentido conduzi-lo antes de centralizar.

2. Que compradores? Mário Figueiredo tem partido do princípio de que centralizar permite ganhar mais dinheiro. Como se fosse automático. Mas não é. Alguns dos contratos existentes foram assinados há alguns anos, quando os valores de mercado dos direitos televisivos eram bastante diferentes dos atuais, em Portugal. Sinceramente, não vejo quem além da SportTV poderia estar interessado em comprá-los. E se só houver um comprador, será possível fazer subir o preço? Duvido.



3. E o Benfica? O presidente da Liga pareceu sempre ignorar que neste momento um dos maiores clubes portugueses, o Benfica, dá passos num caminho original: explorar ele próprio os direitos televisivos. O F.C. Porto já passa jogos da equipa B e das camadas jovens no Porto Canal. O Sporting prepara-se para também ter um canal. Ou seja, os clubes com mais adeptos/audiências estão a olhar para outro lado.

Ou seja, Mário Figueiredo deveria ter começado por aqui. Não começou, pelo que sinceramente não percebo o que anda a fazer. Mais, o presidente da Liga corre o risco de haver quem ache que o seu principal objetivo é destruir a Olivedesportos, sem ter ideia do que fará depois.

Neste caso concreto, Mário Figueiredo desperdiçou a oportunidade de começar a discutir o tema central da sua presidência. Sim, começar. Em vez disso tentou misturar tudo e ver o que dava. Deu um não-momento, a maior derrota da sua gestão. Tão grande que deveria aproveitar para sair.

NOTA: Tão mau como a Assembleia Geral foi o comunicado, no dia seguinte, a informar-nos de que 16 dos 33 clubes profissionais estavam impedidos de inscrever jogadores. Incrível, a uma semana do sorteio dos campeonatos profissionais.