A diferença que faz não viver sobre o medo constante viu-se esta tarde em Vila do Conde, onde Rio Ave e Desp. Chaves protagonizaram um belo espetáculo, com golos, reviravolta, emoção e um resultado que vai de encontro ao que se viu. O 2-2 final é tão justo quanto lógico para o que foi o embate.

Uma das melhores coisas do futebol é quando uma ementa prometedora não desilude. No futebol e na vida, aliás. Mas concentremo-nos no futebol, onde o Rio Ave-Desp. Chaves, uma batalha pelo sexto lugar, que até costuma dar Europa, desenhava-se como um dos mais prometedores duelos da jornada. E, como se disse, não desiludiu. Pelo contrário: foi bem agradável de seguir. 

O que é um dado bem bom, quando, tantas vezes, equipas apetrechadas e em bons momentos, cedem à tentação do calculismo e transformam o frio da tarde num futebol, também ele, gélido e sem chama.

Não foi assim em Vila do Conde. O medo de não perder não ganhou à vontade de ganhar. E ainda bem para quem lá esteve, com a boa falange de apoio flaviense (cerca de 500 adeptos), algo já habitual nesta edição da Liga, a ser um dos principais destaques.

Vamos então ao jogo. E dele, saliente-se a parada e resposta. Se dividirmos o encontro em períodos de 10 minutos, facilmente se chegará à conclusão que houve blocos onde o domínio foi da casa e outros em que foi visitante, quase em igual número. Não é de estranhar. Porque o Rio Ave tem bons executantes e com Luís Castro ganhara sempre em casa, até hoje. E porque o Desp. Chaves também os tem e nesta edição do campeonato só perdeu em Braga e no Dragão. E assim continua.

As duas equipas tiveram, também, de resistir a contrariedades madrugadoras, num jogo que perdeu, por lesão, Fábio Santos e Lionn, ambos antes da meia hora de jogo. E as dificuldades para o Chaves até foram maiores pois no minuto seguinte à saída do central que jogava, esta tarde, adaptado a médio, sofreu o golo de Tarantini, que capitalizou um erro de Carlos Ponck, após assistência de Ruben Ribeiro.

Estávamos no minuto 18 e o jogo tinha sido dos homens de Luís Castro mas, curiosamente, iria começar a ser do Chaves. A partir da tal mudança forçada.

Braga a colocar açúcar na construção

Com a saída de Fábio Santos, e mesmo tendo médios no banco como Vukcevic ou o reforço Davidson, além do defesa Petrovic, que poderia permitir a subida de Ponck para a sua posição natural, Ricardo Soares optou por lançar Rafael Lopes, trocando o que seria um 4-2-3-1 por um claro 4-4-2.

Com Braga junto a Assis, o Chaves conseguiu finalmente pegar no jogo e só não empatou antes do intervalo porque William falhou na cara de Cássio, na mais flagrante das oportunidades.

Se a primeira parte não foi má, a segunda foi mesmo muito boa. Nem sempre bem jogada, mas com emoção a rodos. O Chaves, sublinhe-se, voltou a não entrar muito bem, mas desta feita reergueu-se com um golo. Cresceu à bomba, então. Um tiro indefensável de Fábio Martins, o melhor em campo, na recarga a um corte de Tarantini empatou o jogo e lançou os transmontanos para a reviravolta.

Luís Castro ainda tentou imitar Ricardo Soares e melhorar a construção, trocando Wakaso por Filipe Augusto. Viu Rafa ficar perto de um golo genial, com dois dribles e um remate em poucos, mas repletos, metros, mas também Cássio evitar que um cabeceamento de Rafael Lopes fizesse o 1-2…mais cedo.

Porque ele veio, de facto. E foi mesmo pelo avançado português, cheio de classe, num toque por cima de Cássio, depois de Fábio Martins rasgar a defesa do Rio Ave com um passe para Braga e de este encontrar o colega solto no centro.

A reviravolta não surpreendeu porque o Chaves, compacto como sempre, ameaçava lá chegar. Aliás, foi até mais surpreendente, embora justo para o que foi o jogo, que Guedes tenha descoberto o caminho para o 2-2 final, cinco minutos após o golo de Rafael Lopes. Após canto, insistência de Felipe Augusto e assistência de Roderick.

O Rio Ave ainda se lançou para tentar a segunda reviravolta do jogo, mas seria, também, castigo demasiado pesado para o Chaves.

O 2-2 aceita-se. O belo jogo agradece-se. Fica um ponto para cada um, como mandam as regras. Inteiramente merecido.