É comum ouvir-se dizer que não se pode ter o melhor dos dois mundos. Ora, nesta Liga, Rio Ave é prova de que se pode. Joga como nunca e vence. Pelo menos grande parte das vezes. Como? Com muita qualidade, competência, fidelidade a uma ideia de jogo notável e muita coragem para a colocar em prática.

A possibilidade de se aproximar da Europa por pouco não ficou hipotecada devido a uma hesitação entre Lionn e Cássio, que originou o golo de Ronaldo Peña. Valeu depois o génio de João Novais - avesso a papéis secundários – a protagonizar a reviravolta vila-condense, com dois pontapés de fora da área. O último dos quais  merece ser visto e revisto, vezes sem conta.

Uma vitória arrancada do fundo da alma perante uma equipa que não faz bem ao futebol. O Moreirense recusou-se a jogar, limitou-se a defender e a tentar, de quando em vez, sair em contragolpe. Rematou por três vezes à baliza (sim, três leu bem) e foi estranhamente bafejada pela sorte. Em causa não está a qualidade dos seus jogadores, muito menos a instituição, sublinhe-se, mas sim, a postura que o Moreirense adoptou.

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Sérgio Vieira parece ter encontrado o onze base para lutar pela manutenção, tendo apenas trocado Kofi Kouao pelo lesionado Sagna em comparação com o último jogo. Ainda assim, o técnico dos cónegos tarda em conseguir a primeira vitória: duas derrotas e dois empates. E saliente-se que, esta noite, o Moreirense pouco fez para inverter o ciclo negativo que vive.

O Rio Ave - com Leandrinho e Barreto de regresso ao onze - rapidamente tomou conta do jogo. Circulação de bola a toda a largura, futebol rendilhado, repleto de passes curtos e desmarcação constantes, em suma, uma ideia ousada que tardou em traduzir-se em golos.

Rúben Lima tirou um golo feito ao apagadíssimo Óscar Barreto, Guedes falhou o que é proibido um avançado falhar e Chico Geraldes revelou-se perdulário na hora de atirar a contar. Parecia uma questão de tempo até às oportunidades esbanjadas pela equipa de Miguel Cardoso se transformarem em alterações no marcador.

Os jogadores do Moreirense tentavam resistir ao ímpeto contrário remetidos ao seu meio-campo. Sem fazer mais de três ou quatro passes seguidos, sem conseguir fazer uma jogada com princípio, meio e fim. Pelo meio, Tozé tentou dar um pontapé na letargia, mas sem sucesso.

Pouco, muito pouco para uma equipa que precisa de pontos para sair da cauda da classificação.

O Rio Ave ainda voltou a ameaçar por Geraldes num livre bem ensaiado. O empate empolgou o Moreirense que logrou imagine-se efetuar quatro passes consecutivos e acabou, naturalmente, por criar perigo perto da baliza de Cássio. E por pouco Peña não marcou. Por que razão não jogar sempre assim? Sérgio Vieira saberá explicar, melhor do que ninguém.

Peña redimiu-se no segundo tempo e colocou o Moreirense na frente. Um golo praticamente caído do céu que em nada refletia o que se passava no relvado.

Miguel Cardoso decidiu juntar João Novais a Nuno Santos - entrou ao intervalo - e o Rio Ave ganhou capacidade para atirar de meia-distância. A qualidade de Novais associada ao talento de Rúben Ribeiro e Geraldes tornou os vilacondenses mais ameaçadores do que nunca na partida.

O perdulário Guedes ofereceu o empate a Novais. Depois, foi o génio do número 17 a fazer o resto. Minuto 89. Livre descaído para o corredor esquerdo, pé direito na bola e um remate que só parou no ângulo superior esquerdo da baliza de Jhonatan. Explosão no relvado, nas bancadas e no banco.

E mais importante que tudo, justiça feita.

Pelo meio do domínio completo e absoluto do Rio Ave, o Moreirense nãos conseguiu mais nenhuma aproximação digna de registo à baliza contrária.

Um triunfo que assenta na perfeição ao Rio Ave, agora sexto classificado da Liga a um ponto do Marítimo. Por sua vez, o Moreirense continua a coabitar na última posição com o Estoril. Precisa de começar a jogar mais se quiser descolar da zona perigosa da tabela.