Matar uma ideia à nascença. Roubar o pensamento, esmagar as opções, censurar qualquer demonstração efetiva de existência. O lápis azul de Bruno Lage impôs um regime ditatorial, unicista, e acabou com todas as bolsas de resistência cónega. Espalhou o terror no Minho e fez quatro golos para voltar à Luz de consciência… aliviada. 

Foi assim desde o início. Lage sabia que o Moreirense vive das convicções de Ivo Vieira e sabia que se lhes permitisse a disseminação podia ter problemas sérios.

O futebol apoiado, a partir do guarda-redes, de posse curta e em busca do génio Chiquinho não poderia sobreviver. Assim foi. Com uma pressão alta e fortíssima desde o início, o Benfica provocou erros, semeou a discórdia e agarrou uma vitória extremamente importante nesta Liga.

FICHA DE JOGO E O 0-4 AO MINUTO

O Moreirense nunca abandonou a sua forma de viver. Se chegou assim até aqui no quinto lugar da Liga, então muito bem, aceita-se. Mais estranho foi a opção de Ivo Vieira em deixar no banco os dois pontas-de-lança da equipa (Nenê e Texeira) e lançar o brasileiro só aos 60 minutos, com 0-3 no marcador.  

Mas como chegámos a esse desnível no score?

O primeiro golo nasce de um erro de Ivanildo na abordagem à bola, permitindo que João Félix – em posição muito duvidosa – se isolasse e finalizasse como fez no Dragão, com uma bomba de pé direito.

O Moreirense aguentou 37 minutos, mas ao intervalo já perdia por 2-0, pois Samaris cabeceou com força e direção um canto de Pizzi (um dos mais apagados da noite) na direita.

Logo no reatamento, o terceiro. Jonas lançou o incontrolável Rafa – o melhor em campo - e o desvio sobre Trigueira colocou o marcador em números irrecuperáveis para o Moreirense.

Contas feitas: três golos em 11 minutos.

DESTAQUES DO JOGO: Rafa Silva, os sprints do povo encarnado

Foi assim tão fácil? Não. O jogo exigiu ao Benfica uma capacidade física que parecia incompatível com o esforço de quinta-feira. A equipa correu muito sem bola, exerceu uma pressão em zonas muito altas e obrigou Gabriel – um dos mais sacrificados – a fazer quilómetros com a língua de fora.

Os dividendos justificaram as práticas de Lage. Esta polícia política do Benfica fez questionários duríssimos e arrancou confissões comoventes.

Ivo Vieira entregou-se à teia montada por Bruno Lage, pensando que o talento de Chiquinho e Pedro Nuno (com Bilel também a aparecer muito) seria suficiente para dar voz à Oposição. Errado. Até o jogo estar decidido, o Moreirense só foi capaz de ter alguma bola (cerca de 40 por cento) e incomodar Vlachodimos num cabeceamento de Pedro Nuno. Pouco.

E polémica? Alguma, claro. O VAR e o árbitro anularam dois golos, um a cada equipa. O do Moreirense nasce num cruzamento de traiçoeiro de Bilel, com Arsénio a fazer-se ao lance em aparente fora-de-jogo. Difícil saber se sim ou não. O do Benfica é anulado por posição ilegal de Pizzi antes do passe para Jonas.  

Boa resposta do Benfica depois dos 120 minutos da Liga Europa, apesar dos sustos físicos provocados por Grimaldo (pisadela no tornozelo) e Gabriel (adutor esquerdo). A equipa reagiu à desilusão da jornada anterior, surgiu mais convicta e sem hesitar na hora de premir no gatilho.

O Benfica acaba o jogo no Minho no primeiro lugar, ombro a ombro com o FC Porto e a suspirar por riscar do calendário um dos compromissos, em teoria, mais exigentes. O Moreirense de Ivo Vieira também está de braço dado com um rival: o Vitória de Guimarães.

Esta noite faltou-lhe a força no discurso que um ponta-de-lança podia ter ajudado a dar. Bruno Lage agradece.

Veja o resumo: