Alexandre Silva, preparador físico da equipa principal do Benfica, explicou detalhadamente, em entrevista à BTV, o plano traçado pela equipa técnica para manter os jogadores em forma e focados para o regresso à competição. O clube, com base em informações recolhidas junto da UEFA, acredita que a competição pode regressar na segunda quinze de maio e os treinos conjuntos apenas duas semanas antes. Assim, foi montada uma estrutura para manter os jogadores focados e, desta forma, evitar situações de destreino.

«É um período conturbado, fomos obrigados a arranjar novas estratégias para uma situação que é diferente, nunca ninguém passou por isto. Há toda uma estrutura multidisciplinar que está a trabalhar e que tem uma importância extrema para que as coisas possam correr bem», começa por contar o responsável pela preparação física dos jogadores.

Uma estrutura que envolve vários setores do clube, desde a equipa técnica, passando pelo gabinete de Human Performance, departamento de operações, equipa médica, nutricionista e um diretor geral que coordena toda a operação. «Há pouco tempo não sabíamos quais iam ser os intervalos temporais de interrupção, neste momento projetámos as coisas para uma semana, no sentido que todos os jogadores estivessem todos resguardados e tivessem o menos contato possível com o exterior», destaca.

«Sabemos pela UEFA que as competições poderão vir a ser retomadas e, a serem retomadas, será na segunda quinzena de maio. Isto dá-nos um período de um mês e meio. Sabendo que poderemos regressar aos treinos duas semanas antes do início da competição, estamos a falar de um enquadramento bem diferente do que seria um início de época», começa por explicar Alexandre Silva.

Os jogadores estão nas respetivas casas e, além de um plano individual de treinos, recebem ainda informação complementar, de forma a manterem-se focados na competição. «Podemos recorrer a análises de vídeo, daquilo que foi feito a nível individual e coletivo, dos jogos que vamos ter. Fornecer material aos jogadores de forma a irem estando ligados àquilo que nos interessa, que é no fundo retomar a competição assim que for possível. Retomar o processo de treino assim que for possível».

Depois há vários departamentos do clube que vão acompanhando e monitorizando os jogadores em vários aspetos. «Temos o nosso Lab na prescrição do exercício físico onde eu estabeleço alguma relação e coordenação com a equipa técnica. Temos o nosso departamento médico, porque ainda temos lesionados, que tem um papel fundamental no acompanhamento de todos os jogadores que estão em casa. Um apoio que se estende também às famílias»

Um apoio que se estende depois na preparação das refeições, para evitar que os jogadores se tenham de deslocar aos supermercados e ainda um apoio psicológico. «Temos o departamento da nutrição que controla alimentação e o peso dos jogadores neste período. Temos o gabinete de psicologia numa altura em que toda a gente está a viver um período diferente e em que ninguém estava preparado para ele. O isolamento social é maior. Temos jogadores que têm a família a milhares de quilómetros, alguns vivem sozinhos, portanto, só com uma abordagem multidisciplinar é que podemos ter uma intervenção forte».

Quanto aos treinos físicos, cada jogador tem um plano individual para cumprir. «Temos a estratégia bem delineada. Temos uma pessoa responsável por cada quatro jogadores que recolhe informação sobre todos os planos que foram facultados aos jogadores. Estes planos são individuais, prevêem uma série de características individuais, nomeadamente o histórico de lesões dos atletas. Um atleta que teve uma lesão na face posterior da coxa tem de fazer um tipo de trabalho de prevenção».

Em relação ao trabalho físico, o principal foco é prevenir o destreino que é como quem diz, evitar que os jogadores relaxem e comprometam o trabalho que foi feito ao longo da época. «O desenvolvimento das capacidades de forma para não ter um nível de destreino. Estamos a fazer tudo por tudo para manter os parâmetros ao nível da força e resistência. Ao nível da velocidade também é possível fazer alguma coisa. Abordar todas essas capacidades físicas de forma individual com os recursos que temos e com as limitações espaciais. Há jogadores que vivem em apartamentos, outros vivem em moradias que permitem um desenvolver outro tipo de trabalho».

Mesmo com todos estes cuidados, esta interrupção tem muitos riscos a ter em conta. «É uma situação bem distinta da do final da época. O risco é haver um destreino de tal ordem que naquelas duas semanas antes do início da competição eles apresentarem-se a um nível que não nos permita fazer duas semanas de treino forte. Esse é o nosso principal foco, que eles tenham o menor nível de destreino possível. Isso implica uma responsabilidade individual da parte dos jogadores em relação ao que está a ser prescrito».

Alexandre Silva garante que não falta vontade aos jogadores, mas é preciso manter um controlo rigoroso. «Muitas vezes eles até querem fazer mais do que aquilo que lhes é proscrito. O controlo tem de ser feito pelo excesso e pelo defeito, é um controlo diário, tem de ser a medida certa. Temos o registo de tudo o que fazem, periodicamente também temos o registo do peso para que não saiam dos seus valores de referência», conta.

Uma paragem de um mês e meio até pode ser comparada ao período de férias dos jogadores, no entanto, no regresso, o período de recuperação será bem mais curto até ao regresso à competição. «O período de interrupção até pode ser idêntico, mas o recomeço da atividade de treino é metade ou menos de metade daquilo que seria uma situação normal. O foco tem sempre de ser evitar o destreino, manter os jogadores ligados à atividade, à competição, porque sabemos que, quando regressarmos, temos dez jogos do campeonato para fazer e para ganhar para revalidarmos o título de campeão nacional. Depois mais um jogo para ganhar a Taça de Portugal», refere.

A finalizar, Alexandre Silva garante que a equipa técnica está a encarar este período «muito a sério», convencida que a competição vai estar de volta na segunda quinzena de maio. «A densidade competitiva vai ser muito grande, portanto é bem diferente de um final de época. É uma realidade totalmente diferente. Queremos apresentar-nos fortes no primeiro dia de treino», destacou ainda o preparador físico do Benfica.